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Os benefícios surpreendentes da massagem em bebês

A massagem para bebês está se tornando popular em outros lugares agora — e os pais podem fazer cursos em vários países - Getty Images
A massagem para bebês está se tornando popular em outros lugares agora — e os pais podem fazer cursos em vários países Imagem: Getty Images

Kamala Thiagarajan - BBC Future

28/11/2021 11h29

A massagem para bebês é praticada no Sul da Ásia há séculos --e agora os cientistas estão descobrindo seu potencial para salvar vidas. Especialistas advertem, porém, que prática tem que ser feita sob orientação médica, para evitar efeitos adversos.

A BBC incentiva qualquer pessoa interessada em massagem para bebês a procurar aconselhamento especializado de antemão, uma vez que a aplicação incorreta dessas técnicas pode causar danos a crianças pequenas e bebês.

Em uma noite fria de outubro, Renu Saxena levou a filha recém-nascida do hospital para casa, na cidade de Bengaluru, no sul da Índia.

Ela estava impressionada com o quão frágil sua bebê era, com suas minúsculas veias brilhando através da pele translúcida. Ela nasceu um pouco prematura, com 36 semanas, e pesava 2,4kg.

A família de Saxena a incentivou a começar imediatamente um antigo remédio indiano para ajudar os recém-nascidos a se desenvolver: massagem diária para bebês.

Mas seus médicos foram mais cautelosos e sugeriram que ela esperasse até que o bebê ganhasse mais peso antes de iniciar as massagens.

Saxena se comprometeu a adiar por duas semanas. Durante esse tempo, sua filha quase não ganhou peso, menos de 100g por semana, e dormia agitada.

Só quando Saxena contratou uma enfermeira neonatal aposentada e aprendeu com ela a arte da massagem tradicional para bebês é que as coisas mudaram para melhor.

Sua filha não só começou a dormir melhor, como também ganhou mais peso.

Longe de ser um caso de sucesso isolado, a experiência de Saxena é respaldada por um corpo de evidências cada vez maior sobre os benefícios surpreendentes da massagem para bebês no Sul da Ásia, incluindo para bebês prematuros.

Estudos mostram que essas massagens com óleo, quando feitas da maneira adequada, podem aumentar o ganho de peso dos bebês, prevenir infecções bacterianas e reduzir a mortalidade infantil em até 50%.

Os pais interessados ??na técnica devem, no entanto, discuti-la primeiro com seu médico, para garantir que seja segura e adequada para seu filho.

Para as famílias que valorizam essa prática ancestral, as descobertas confirmam suas próprias observações.

Saxena, uma ex-executiva de publicidade, é natural do Estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia, conhecido por sua tradição de massagear a mãe e o bebê logo após o nascimento. Sua família segue o costume há gerações.

"Quando estávamos crescendo, minha mãe sempre nos contava como ela se recuperou muito mais rápido depois do meu parto, sua terceira filha, e como eu prosperei porque ela começou uma rotina de massagens no dia em que voltou para casa após o parto", diz Saxena.

A enfermeira neonatal mostrou a ela como aquecer os óleos, alternando entre coco puro e amêndoa, e aplicá-los com segurança na pele da filha em sessões diárias de meia hora, seguidas de um banho quente.

"Começamos com carícias suaves em forma de coração sobre a barriga do bebê e ampliamos para outras partes do corpo", afirma.

"Em seguida, exercitamos suavemente os membros, tocando as pontas dos dedos dos pés na testa para aliviar qualquer gás preso."

Massagear bebês pode oferecer a eles benefícios para a saúde que duram até a idade adulta, dizem os pesquisadores.

"A pele é o maior órgão do corpo, mas muitas vezes minimizamos a importância dos cuidados com a pele para a saúde geral", diz Gary Darmstadt, professor de medicina neonatal e de desenvolvimento na Escola de Medicina da Universidade de Stanford, nos EUA.

Em suas primeiras viagens por Bangladesh e pela Índia, Darmstadt observou famílias, principalmente mães e avós, passando muito tempo massageando seus recém-nascidos.

"Fiquei intrigado quando soube que isso já era feito há séculos, e comecei a estudar", afirma.

Em 2008, durante um estudo com 497 bebês prematuros que receberam massagens diárias em um hospital de Bangladesh, Darmstadt e seus colaboradores mostraram que essa prática ancestral pode salvar vidas.

"Vimos uma redução de cerca de 40% no risco de infecção e uma redução de 25% a 50% no risco de mortalidade, o que foi significativo", diz ele.

Por meio de testes separados, a equipe descobriu que massagens regulares ajudam a construir o microbioma do bebê ? a camada de bactérias que reside na pele e no intestino.

O microbioma desempenha um papel fundamental no aumento da imunidade, agindo como uma barreira eficaz que pode impedir a entrada de infecções.

"Bebês desnutridos que foram massageados com óleos desenvolveram um microbioma muito mais diverso", conta Darmstadt.

"[Os óleos] melhoraram a função de barreira da pele, tornando mais difícil para as bactérias penetrarem na pele, entrarem na corrente sanguínea e causar infecções potencialmente fatais."

Estas descobertas foram especialmente importantes para o cuidado de bebês prematuros.

"Em bebês prematuros, a barreira da pele não funciona tão bem, e você tende a ter perda de água pela pele. A água evapora (do corpo) muito rápido, e com ela vai o calor. É fácil para o bebê ficar hipotérmico", ele explica.

E quando a temperatura corporal cai muito, pode ser fatal.

"O bebê está perdendo muita energia (lutando contra essa perda de calor). Energia que poderia estar indo para o crescimento e outros aspectos do funcionamento do corpo", acrescenta.

Em um estudo ainda a ser publicado por Darmstadt e sua equipe, os pesquisadores acompanharam 26 mil bebês, não só prematuros, no estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia.

Metade deles foi massageada com óleo de girassol, e a outra metade com óleo de mostarda. Os pesquisadores notaram uma melhora no crescimento de todos os bebês.

"E embora não tenha havido um grande impacto na taxa de mortalidade de bebês com peso normal ao nascer, entre bebês menores (com menos de 1,5 kg), houve uma grande redução de 52% no risco de mortalidade", diz ele.

Outros pesquisadores descobriram benefícios semelhantes.

Um estudo sugere que as massagens estimulam o nervo vago, um longo nervo que liga o cérebro e o abdômen, levando a uma melhor digestão e absorção de nutrientes.

Isso, por sua vez, pode ajudar os bebês a ganhar peso.

As massagens diárias na barriga também podem reduzir o estresse e a dor, o que pode ser especialmente importante para bebês prematuros que passam longos e solitários meses no hospital.

"Sugerimos que os pais comecem a massagear seus bebês no nascimento", diz Tiffany Field, professora de pediatria, psicologia e psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Miami, nos EUA, especializada em massagem infantil.

Ela revisou estudos de massagem em bebês prematuros de diferentes países e promove a prática, enquanto lembra aos pais que a técnica certa é fundamental.

"É preciso 'mover a pele', aplicando pressão moderada, mas uma carícia muito suave pode fazer o bebê sentir cócegas. A maioria dos bebês não gosta disso e não é terapêutico", ela adverte.

Darmstadt também recomenda uma abordagem moderada:

"O que não queremos fazer, principalmente em um bebê prematuro, é massagear com muita força", diz ele.

"Você pode danificar a barreira da pele e isso pode ser prejudicial."

O óleo deve ser cuidadosamente escolhido e aplicado, e nem sempre a tradição é o melhor guia para isso.

Um estudo de 2013 com 194 bebês no sul da Índia, quase todos massageados por suas mães, mostrou que mais da metade das mães aplicou óleo nas orelhas e olhos do bebê. Os pesquisadores alertam que isso pode causar infecções.

"Precisamos de campanhas de conscientização mais difundidas para evitar isso e praticar as técnicas corretas", afirma Nitin Joseph, professor associado especializado em medicina comunitária no Kasturba Medical College, perto de Mangalore, na Índia, e um dos principais pesquisadores do estudo.

Os óleos de semente de girassol, coco e gergelim fornecem os maiores benefícios, de acordo com uma pesquisa de Darmstadt e seu colaborador, Peter M Elias, professor de dermatologia da Universidade da Califórnia em San Francisco, nos EUA.

"Estes óleos têm um alto teor de ácido linoleico, que seu corpo não consegue produzir", diz Darmstadt.

"E há receptores na pele que se ligam especificamente a esse ácido graxo, para que seja metabolizado. Há evidências que sugerem que os ácidos graxos do óleo também podem estimular e melhorar a função imunológica da pele."

No entanto, o óleo de mostarda, amplamente utilizado no estado indiano de Uttar Pradesh, contém ácido erúcico, que pode causar inflamação e danificar a barreira da pele, diz Darmstadt.

Para as famílias, a rotina pode ser uma oportunidade para estreitar os laços geracionais.

Pranjali Bhonde, escritora que mora na cidade de Pune, no oeste da Índia, faz massagens em seu bebê Samar, agora com 14 meses, duas vezes por dia. Ela começou no nascimento.

Nos primeiros quatro meses, sua mãe ajudou. Era uma atividade que ambas curtiam.

Agora, enquanto massageia sozinha, Bhonde gosta de manter contato visual com o filho durante a massagem e cantar músicas para ele.

"Isso fez nosso vínculo ficar mais forte", diz ela.

"E eu pude ver como a massagem regular melhorou seu sono e sua pele."

As massagens com óleo também podem ajudar os membros mais velhos da família.

"Estamos descobrindo que é benéfico para os idosos também. A pele se torna mais frágil com a idade", explica Darmstadt.

A pele seca tende a ter pequenas fissuras, que podem permitir a entrada de bactérias, e o óleo ajuda a prevenir isso, a mantendo macia.

Para Saxena, seguir a tradição de sua família no norte da Índia melhorou não apenas a saúde de sua filha, mas também a sua própria.

Mãe pela primeira vez aos 40 anos, ela desenvolveu diabetes gestacional e precisou dar à luz a filha por meio de uma cesariana programada.

"Ela dormiu serenamente por quatro horas após a massagem, o que nunca havia acontecido antes", conta Saxena, lembrando o quanto sua bebê gostou da primeira sessão.

"Também me permitiu descansar. E me ocorreu que massagens regulares podem ser o segredo para uma infância saudável."

* Todo o conteúdo desta reportagem é fornecido apenas para informação geral e não deve ser tratado como um substituto para a orientação médica de um profissional de saúde.

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