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Trump tentou tomar volante do carro presidencial para se juntar a invasores do Capitólio; as revelações do depoimento de ex-assessora

A ex-assessora da Casa Branca Cassidy Hutchinson, em depoimento no Congresso sobre invasão do Capitólio - Getty Images
A ex-assessora da Casa Branca Cassidy Hutchinson, em depoimento no Congresso sobre invasão do Capitólio Imagem: Getty Images

Mariana Sanches - @mariana_sanches - Da BBC News Brasil em Washington

28/06/2022 16h29

Segundo Cassidy Hutchinson, então presidente sabia que seus apoiadores na manifestação estavam armados quando Trump os incentivou a marchar até o Capitólio, onde as eleições americanas, na qual o republicano foi derrotado, eram certificadas.

Donald Trump sabia que seus apoiadores estavam armados quando os incentivou em discurso a marchar até o Congresso dos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, no episódio que terminou com a invasão do Capitólio e cinco mortes.

E o então presidente, ao terminar seu comício, não pretendia voltar à Casa Branca, mas se juntar aos manifestantes no Congresso. Para isso, chegou a tentar tomar o volante do veículo que o conduzia de volta à residência presidencial.

Essas são as principais afirmações de uma ex-assessora da Casa Branca, Cassidy Hutchinson, cujo depoimento sob juramento dado à comissão parlamentar que investiga o episódio de 6 de janeiro se tornou público nesta terça, 28/6.

Segundo Hutchinson, tanto Trump quanto seus auxiliares mais próximos estavam cientes do potencial violento daquela manifestação marcada para acontecer na capital americana, na qual Trump pretendia repetir suas acusações - sem provas - de que as eleições presidenciais de 2020 tinham sido fraudadas e que ele, não o democrata Joe Biden, seria o real presidente eleito do país.

Naquele mesmo dia, 6 de janeiro de 2021, em um rito formal previsto pela Constituição dos EUA, o Congresso estava reunido, sob comando do então vice-presidente Mike Pence, para certificar a vitória eleitoral de Biden.

Segundo Hutchinson, o advogado de Trump, Rudy Giuliani, disse à ela que o evento tinha o objetivo de fazer Trump "parecer poderoso".

Já o chefe de gabinete presidencial, Mark Meadows, quando questionado pela assessora a respeito do que poderia acontecer em 6 de janeiro, teria dito: "Tem muita coisa acontecendo, Cas. Mas, não sei, as coisas podem sair realmente muito mal em 6 de janeiro", segundo o depoimento da ex-assessora.

De acordo com o relato dela, Trump estava ciente de que os manifestantes estavam armados e deu ordens explícitas para que eles não fossem barrados por isso.

"O presidente aparentemente queria todos os participantes dentro do espaço oficial (do comício) e disse repetidamente: 'Eles não estão aqui para me machucar'. (..) Ele foi informado novamente naquela conversa de que havia armas. E sua resposta foi dizer que eles poderiam marchar para o Capitólio: 'Leve os detectores de metal embora, eles (os manifestantes) não estão aqui para me machucar. Deixe entrar, deixe meu povo entrar. Depois que o comício acabar, eles podem marchar para o Capitólio'", relata a assessora.

Agressão a agente do Serviço Secreto

Ainda segundo Hutchinson, o próprio Trump pretendia se juntar à multidão que marchava para o Capitólio após o fim de seu discurso. Diante da negativa do Serviço Secreto, ele teria chegado a segurar o volante do veículo para forçá-lo em outra direção.

"(O agente do serviço secreto) disse a ele (Trump): 'não vamos (ao Capitólio), não é seguro, estamos voltando para a ala oeste (da Casa Branca)'. O presidente teve uma reação muito forte e muito zangada a isso. Tony (outro assessor) o descreveu como estando irado. (Trump teria dito) 'Eu sou a p... do presidente, me leve ao Capitólio agora'. Ao que Bobby Engel (outro agente) respondeu, 'senhor, temos que voltar para a ala oeste'. O presidente estendeu a mão para a frente do veículo para agarrar o volante. Engel agarrou seu braço, disse: 'senhor, você precisa recolher sua mão. Estamos voltando para a ala oeste. Não vamos ao capitólio'. Trump então usou sua mão livre para se lançar em direção a Bobby Engel, apertando a mão em direção a sua clavícula."

O depoimento de Hutchinson é uma peça fundamental que até agora a equipe parlamentar investigativa não dispunha: uma descrição em primeira mão sobre como o dia de 6 janeiro se desenrolou dentro da Casa Branca. A comissão tenta estabelecer a responsabilidade de Trump nos acontecimentos. As sessões públicas têm sido capazes de atrair a atenção de ao menos metade da audiência americana, segundo pesquisas de opinião.

Hutchinson era a principal auxiliar do chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, com quem falava diariamente. Ela se sentava a poucos metros do salão Oval e era a principal interlocutora da Presidência com o Congresso.

Em resposta ao depoimento de Hutchinson, Trump tentou desqualificar a ex-auxiliar em um post em suas redes sociais, dizendo que mal a conhecia e que a havia demitido.

"Eu mal sei quem é essa pessoa, Cassidy Hutchinson, exceto que ouvi coisas muito negativas sobre ela (totalmente falsa e 'vazadora'), e quando ela pediu para ir com alguns outros da equipe para a Flórida depois de eu ter servido um mandato completo, eu pessoalmente recusei seu pedido. Por que ela queria ir conosco se ela achava que éramos tão terríveis? Eu entendo que ela estava muito chateada e irritada por eu não querer que ela fosse da equipe", escreveu Trump.

Ao final da sessão desta terça, a deputada republicana Liz Cheney, membro da comissão, afirmou que os parlamentares coletaram o que consideram ser evidências de "intimidação de testemunhas" por parte de Trump.

A comissão então divulgou o que seriam mensagens de interlocutores do ex-presidente a pessoas que dariam depoimentos à comissão para dizer que Trump estaria "pensando" nela, sabia que o depoente era "leal" e que ele "leria as transcrições dos depoimentos". Intimidação de testemunhas é crime.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61974679


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