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Camarões: Perfil do país conhecido como "África em miniatura"

08/11/2022 09h49

Saiba mais sobre a nação que possui uma das maiores diversidades étnicas e culturais do continente africano.

Situada na costa oeste da África, a República dos Camarões é uma das nações de maior diversidade cultural do continente. O país abriga 230 grupos étnicos, que falam 250 línguas, bem como dialetos nativos. Por essa razão, ganhou a fama de ser uma "África em miniatura".

Os portugueses foram os primeiros europeus a chegarem à região de Camarões atual, em 1472. Eles encontraram muitos camarões gigantes na foz de um rio que batizaram de "Rio dos Camarões". Entre os séculos 16 e 19, os portos camaroneses se tornaram ponto de passagem para o comércio de pessoas escravizadas, produtos tropicais e especiarias.

Entre 1884 e 1915, Camarões virou um protetorado alemão com o nome de Kamerun e, depois da Primeira Guerra Mundial, foi dividido em uma parte britânica (Cameroon) e outra francesa (Cameroun). A independência veio em 1961, com a unificação dessas duas porções.

O presidente camaronês desde 1982 é Paul Biya. O país possui um sistema semi-presidencialista, em que o presidente nomeia o primeiro-ministro, que por sua vez é o chefe de governo.

Camarões tem uma das mais altas taxas de escolaridade na África, mas seu índice de desenvolvimento humano (IDH), de 0,563, o coloca na 153ª posição dentre 188 países. O país é simultaneamente membro das ligas francófona, árabe e de ex-colônias britânicas.

Divisões políticas internas ainda persistem, principalmente em sua província de língua inglesa, no sudoeste do país. Um movimento secessionista, surgido nos anos 1990, se transformou insurgência em 2016. O grupo islâmico Boko Haram, com base na Nigéria, também atua no norte de Camarões, de maioria islâmica.

FATOS

LÍDER

President: Paul Biya

No poder desde 1982, Paul Biya é um dos líderes mais longevos da África. Em 2008, o parlamento camaronês aprovou uma emenda que lhe permitiu concorrer novamente ao cargo. Biya venceu dois mandatos de sete anos em 2011 e 2018, em meio a alegações de fraude eleitoral.

Como presidente, Biya tem amplos poderes executivos e legislativos, e seu regime retém características autoritárias. Seu partido, o Movimento Popular Democrático Camaronês (RDPC), ganhou maiorias esmagadoras em todas as eleições parlamentares desde 1992.

Biya foi o segundo presidente na história de Camarões. Antes de virar presidente, foi um fiel aliado do primeiro presidente, Ahmadou Ahidjo, ocupando o cargo de primeiro-ministro entre 1975 e 1982. Em 1983, ele acusou Ahidjo de organizar um golpe, forçando seu predecessor a fugir do país.

O primeiro-ministro desde 2019 é Joseph Ngute.

MÍDI

A Rádio Televisão dos Camarões (CRTV Radiodiffusion-television du Cameroun) é a emissora pública camaronesa, que opera ao lado de dezenas de estações privadas de rádio e televisão.

O país tem um dos cenários de mídia mais diversificados da África, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), com cerca de 500 veículos produzindo conteúdo em diversos temas.

Por outro lado, críticos do governo enfrentam hostilidade e ameaças judiciais e o jornalismo independente é uma atividade "impossível", segundo a RSF e a organização Freedom House. No passado, jornalistas foram condenados à prisão por tribunais militares, com base na lei antiterrorismo.

O conteúdo da CRTV é marcado pela cobertura positiva do governo de Paul Biya. O presidente nomeia os integrantes do conselho nacional que regulamenta o setor de mídia. Em 2017, o governo cortou o acesso à internet nas regiões de língua inglesa por três meses em meio a protestos.

RELAÇÕES COM O BRASIL

O Brasil reconhece a independência de Camarões desde 1960: reconheceu a independência da porção francesa em janeiro de 1960 e da porção britânica em setembro daquele ano.

Nas duas décadas seguintes, os países assinaram acordos bilaterais englobando as áreas de comércio, cultura e cooperação técnica.

Mas em 1999 o Brasil desativou sua embaixada em Yaoundé por conta de restrições orçamentárias. O posto diplomático foi reaberto em 2005, em meio a um novo impulso de integração sob o primeiro governo Lula.

Desde então, os países assinaram acordos na área de educação e pesquisa em ciências sociais. Como parte deles, estão previstos intercâmbios entre universidades federais brasileiras e universidades camaronesas, e entre o Instituto Rio Branco de formação de diplomatas e seu equivalente camaronês.

LINHA DO TEMPO

Datas importantes na história de Camarões:

Século 6 a.C - Almirante cartaginês Hannon empreende uma viagem de colonização e exploração pela costa atlântica da África e dá notícia de um vulcão em atividade - provavelmente o Monte Camarões.

1472 - Caravelas do navegador português Fernando Pó chegam ao estuário de Wouri, batizado Rio dos Camarões (rivière des crevettes).

1520 - Portugueses instalam plantações de açúcar e iniciam o comércio escravagista, aos quais os holandeses deram continuidade nos anos 1600.

1840 - Reis de Douala, Bell e Akwa assinam com o governo britânico o primeiro contrato proibindo o comércio de escravos.

1884 - Camarões viram um protetorado alemão sob o nome de Kamerun. A colônia se expande em 1911, com a cessão de territórios franceses à Alemanha.

1916 - Tropas britânicas e francesas forçam os alemães a deixar Camarões.

1919 - Pelo Tratado de Versalhes, o território de Camarões é diviido entre a França e o Reino Unido ao fim da Primeira Guerra Mundial.

1958 - França concede autonomia à sua colônia camaronesa sob o governo de Ahmadou Ahidjo como primeiro-ministro. Ahidjo vira presidente após a independência do país, sob o nome de República Federativa de Camarões, dois anos mais tarde.

1961 - Colônias britânicas em Camarões são divididas entre Camarões e a Nigéria após um referendo. Uma insurreição em grande escala marca os primeiros anos de independência do país, mas é derrotada em 1963 com a ajuda das forças francesas.

1972 - Nascimento da República Unida do Camarões, um Estado unitário, após um referendo em 20 de maio.

1982 - Primeiro-ministro Paul Biya sucede a Ahidjo, que foge do país no ano seguinte após ser acusado por Biya de tentar um golpe de Estado.

1984 - Decreto presidencial muda o nome do país para República de Camarões.

1998 - Organização Transparência Internacional classifica Camarões como o país mais corrupto do mundo.

2014 - Grupo islâmico extremista Boko Haram intensifica seus ataques em Camarões. Em dezembro, um ataque deixa 84 civis mortos. Camarões declara sua vitória sobre o Boko Haram em 2016.

2016 a 2018 - Regiões anglófonas de Camarões protestam contra tentativas de introduzir o francês, exigindo autonomia e a continuidade do uso da língua inglesa em escolas e no poder judiciário. Governo responde com repressão. A violência resulta em mortes e no desenvolvimento de um movimento insurgente.

2018 - Paul Biya eleito para mais sete anos em meio a acusações de fraude.

2020 - Organização Human Rights Watch afirma que o grupo islâmico Boko Haram voltou a atuar no norte de Camarões, matando pelo menos 80 pessoas em uma série de ataques.