Análise: Apoio árabe à nova estratégia de Bush é ambivalente
da BBC, em Londres
O presidente George W. Bush despachou nesta semana para o exterior seus principais assessores com uma missão das mais ingratas. Conseguir apoio à "nova estratégia" americana para conter a violência no Iraque, baseada no reforço de tropas dos Estados Unidos no país e também das pressões sobre o Irã, acusado de apoiar grupos xiitas.
A secretária de Estado Condoleezza Rice está fazendo um giro pelo Oriente Médio e Europa, assim como o secretário de Defesa Robert Gates (que também foi ao Afeganistão). As baixas expectativas sobre a missão se confirmaram, em meio à insistência da mensagem dos emissários de Bush de que o custo do fracasso americano trará não apenas um banho de sangue ainda mais medonho no Iraque, mas um Irã mais forte e agressivo
Há um consenso entre lideranças sunitas no mundo árabe sobre o custo exorbitante de uma retirada abrupta dos americanos do Iraque. Portanto, foi conferido um apoio ambivalente à nova estratégia de Bush. As apreensões sobre a ascensão iraniana são patentes, mas também à idéia de se alinhar abertamente com os EUA (e, por extensão, Israel) em um bloco antixiita nos moldes da Guerra Fria.
O cenário de uma ampla correlação de forças sectárias no Oriente Mëdio também gera apreensões em Washington. Nesta medida, Condoleezza Rice prefere traçar um quadro de crescentes divisões entre extremistas e moderados na região. Os radicais liderados pelo Irã incluiriam ainda a Síria os grupos Hezbollah (Líbano) e Hamas (Palestina).
Os rótulos dentro do Iraque são tortuosos. Afinal os americanos esperam mais apoio dos seus aliados regionais ao precário governo liderado pelo primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki, mas estes aliados desconfiam do dirigente iraquiano e pagam para ver se as milícias xiitas no país serão confrontadas e não apenas os insurgentes sunitas.
'Lideranças responsáveis'
Em uma concessão às lideranças tradicionais do Oriente Médio, os americanos deixaram de fazer sermão sobre a necessidade de reformas democráticas na medida em que hoje em dia é vital rotular autocratas de países como Arábia Saudita e Egito como moderados.
Na expressão de Condoleezza Rice, são "lideranças responsáveis", embora sejam as mesmas que até recentemente eram acusadas de proporcionar o ambiente repressivo que abriu espaço para a ascensão do extremismo da rede Al Qaeda.
Na análise de Anatol Lieven, do centro de estudos New America Foundation, em Washington, a nova estratégia americana é uma reversão aos velhos tempos pré-atentados do 11 de setembro em que os regimes autocratas eram sinônimo de estabilidade regional.
Outra velha novidade é a disposição americana de se engajar no conflito israelo-palestino, como parte dos esforços para costurar esta aliança contra os extremistas liderados pelo Irã. No raciocínio de Washington, um mundo árabe inclinado a fazer as pazes com Israel terá condições de devotar sua atenção à missão de contenção do Irã, visto pelo americanos como a maior ameaça regional, em particular com suas ambições nucleares e de hegemonia no Oriente Médio.
Para fortalecer parceiros palestinos como o presidente Mahmoud Abbas (e buscar neutralizar o Hamas), os americanos decidiram até fazer uma infusão de dinheiro (US$ 86 milhões) às forças de segurança leais ao dirigente que até recentemente eram condenadas como irremediavelmente corruptas e comprometidas por seu envolvimento em ataques terroristas.
Mas reviver o moribundo processo de paz é uma aposta pouco promissora. Condoleezza Rice anunciou uma reunião de cúpula no mês que vem com Abbas e o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, para debater as dimensões de um Estado palestino. A agenda de Olmert, porém, é mais modesta. Seus assessores definem o encontro como um "estágio pre-negociação". Ademais, existem desconfianças mútuas, os dois dirigentes compartilham de descrédito doméstico e no momento a preocupação de Abbas é impedir uma guerra civil entre os palestinos.
Os assessores de Bush ganharam muita quilometragem com as viagens desta semana, mas como resumiu o título do editorial do jornal Washington Post na quarta-feira, o governo americano continua "perdido no Oriente Médio".
A secretária de Estado Condoleezza Rice está fazendo um giro pelo Oriente Médio e Europa, assim como o secretário de Defesa Robert Gates (que também foi ao Afeganistão). As baixas expectativas sobre a missão se confirmaram, em meio à insistência da mensagem dos emissários de Bush de que o custo do fracasso americano trará não apenas um banho de sangue ainda mais medonho no Iraque, mas um Irã mais forte e agressivo
Há um consenso entre lideranças sunitas no mundo árabe sobre o custo exorbitante de uma retirada abrupta dos americanos do Iraque. Portanto, foi conferido um apoio ambivalente à nova estratégia de Bush. As apreensões sobre a ascensão iraniana são patentes, mas também à idéia de se alinhar abertamente com os EUA (e, por extensão, Israel) em um bloco antixiita nos moldes da Guerra Fria.
O cenário de uma ampla correlação de forças sectárias no Oriente Mëdio também gera apreensões em Washington. Nesta medida, Condoleezza Rice prefere traçar um quadro de crescentes divisões entre extremistas e moderados na região. Os radicais liderados pelo Irã incluiriam ainda a Síria os grupos Hezbollah (Líbano) e Hamas (Palestina).
Os rótulos dentro do Iraque são tortuosos. Afinal os americanos esperam mais apoio dos seus aliados regionais ao precário governo liderado pelo primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki, mas estes aliados desconfiam do dirigente iraquiano e pagam para ver se as milícias xiitas no país serão confrontadas e não apenas os insurgentes sunitas.
'Lideranças responsáveis'
Em uma concessão às lideranças tradicionais do Oriente Médio, os americanos deixaram de fazer sermão sobre a necessidade de reformas democráticas na medida em que hoje em dia é vital rotular autocratas de países como Arábia Saudita e Egito como moderados.
Na expressão de Condoleezza Rice, são "lideranças responsáveis", embora sejam as mesmas que até recentemente eram acusadas de proporcionar o ambiente repressivo que abriu espaço para a ascensão do extremismo da rede Al Qaeda.
Na análise de Anatol Lieven, do centro de estudos New America Foundation, em Washington, a nova estratégia americana é uma reversão aos velhos tempos pré-atentados do 11 de setembro em que os regimes autocratas eram sinônimo de estabilidade regional.
Outra velha novidade é a disposição americana de se engajar no conflito israelo-palestino, como parte dos esforços para costurar esta aliança contra os extremistas liderados pelo Irã. No raciocínio de Washington, um mundo árabe inclinado a fazer as pazes com Israel terá condições de devotar sua atenção à missão de contenção do Irã, visto pelo americanos como a maior ameaça regional, em particular com suas ambições nucleares e de hegemonia no Oriente Médio.
Para fortalecer parceiros palestinos como o presidente Mahmoud Abbas (e buscar neutralizar o Hamas), os americanos decidiram até fazer uma infusão de dinheiro (US$ 86 milhões) às forças de segurança leais ao dirigente que até recentemente eram condenadas como irremediavelmente corruptas e comprometidas por seu envolvimento em ataques terroristas.
Mas reviver o moribundo processo de paz é uma aposta pouco promissora. Condoleezza Rice anunciou uma reunião de cúpula no mês que vem com Abbas e o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, para debater as dimensões de um Estado palestino. A agenda de Olmert, porém, é mais modesta. Seus assessores definem o encontro como um "estágio pre-negociação". Ademais, existem desconfianças mútuas, os dois dirigentes compartilham de descrédito doméstico e no momento a preocupação de Abbas é impedir uma guerra civil entre os palestinos.
Os assessores de Bush ganharam muita quilometragem com as viagens desta semana, mas como resumiu o título do editorial do jornal Washington Post na quarta-feira, o governo americano continua "perdido no Oriente Médio".