Equador descarta entrar no Mercosul como membro pleno

da BBC, em Londres

A ministra de Relações Exteriores do Equador, Maria Fernanda Spinoza, disse que o país não pretende integrar o Mercosul como membro pleno, mas quer aprofundar a relação com o bloco através da integração com a Comunidade Andina de Nações (CAN), da qual o Equador já faz parte.

“Temos um projeto maior de construção da união sul-americana e para isso acreditamos que a plataforma ideal para o Equador é o fortalecimento da Comunidade Andina”, afirmou a ministra em entrevista à BBC, em Quito, nesta terça-feira, um dia antes de viajar ao Brasil para a reunião de cúpula do Mercosul, no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira e sexta-feira.

“No Mercosul queremos aproveitar da melhor maneira possível o nosso status, de membro associado”, disse a ministra. Havia uma expectativa no Brasil de que, com a mudança de governo, o Equador pedisse para se tornar membro pleno do bloco, como fez a Bolívia.

O governo equatoriano está interessado, assim como o Brasil, em integrar a região através da convergência entre Mercosul e CAN, e fortalecer a Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa). No discurso de posse, segunda-feira, Correa chegou a oferecer Quito como sede da secretaria do novo bloco, que funciona provisoriamente no Brasil.

Brasil

A relação bilateral entre Brasil e Equador deve se aprofundar a partir de agora, na avaliação da ministra. “A agenda bilateral com o Brasil é muito rica. As empatias são enormes”, disse ela, que defende uma maior integração não só comercial como também cultural e em áreas como meio ambiente e proteção da Amazônia.

“Não é segredo para ninguém que a relação pessoal entre o presidente Lula e o presidente Correa é excelente. Às vezes o aprofundamento das relações entre dois países passa pela relação pessoal entre os presidentes, portanto já temos um terreno ganho”, afirmou.

O governo equatoriano também está interessado em conhecer e implantar no país o Bolsa Família e outros programas sociais de combate à pobreza. “Queremos aprender com as experiências bem-sucedidas dos países vizinhos”, disse a ministra.

O Equador também quer desenvolver mais o comércio bilateral, e reduzir o déficit que o país tem em relação ao Brasil.

A intenção também foi manifestada pelo ministro Celso Amorim. No ano passado, o Brasil exportou ao Equador US$ 843 milhões e importou US$ 30 milhões.

“Nos interessa muito também o investimento de empresas brasileiras no Equador”, afirmou a ministra. De acordo com o governo brasileiro, projetos financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Banco do Brasil no país nos últimos dez anos somam US$ 1,5 bilhão.

Chávez

Apesar da presença do presidente venezuelano Hugo Chávez em todos os eventos relacionados à posse do presidente Rafael Correa, a ministra nega que ele esteja influenciando o novo governo.

“O presidente Correa e a equipe que o acompanha não são objeto de tutela. Nós somos autônomos, soberanos, e temos muito claro o projeto de país que queremos construir”, afirmou a ministra de Relações Exteriores.

Ela disse que o modelo político equatoriano é diferente do de outros países sul-americanos, porque as condições políticas são diferentes, e que “o desencanto dos equatorianos com a classe política” se deve a razões internas, e não à influência dos vizinhos.

O presidente Correa prometeu “mudanças profundas” em seus discursos de posse, mas ainda não explicou o que exatamente quer mudar, além do anúncio da convocação de referendo para decidir sobre uma assembléia nacional constituinte.

“Não vamos ter a sociedade a serviço do mercado, mas o mercado a favor da sociedade. Este é o nosso modelo. A favor. A favor da transformação social e política”, disse a ministra.

Ela nega que a retórica anti-americana do presidente Chávez faça parte do modelo equatoriano. Disse que “de maneira alguma” quer entrar em confronto com os Estados Unidos. “Nossas relações com os Estados Unidos são as melhores”, afirmou.

Correa já afirmou, no entanto, que não vai renovar o contrato de concessão de uso da base aérea que os Estados Unidos têm em Manta, na costa norte equatoriana, e não vai retomar a negociação para um Tratado de Livre Comércio com o país, como fizeram os vizinhos Peru e Colômbia.


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