Ivan Lessa: O escritor no tempo
da BBC, em Londres
Três são os escritores britânicos mais conhecidos no Brasil: Salman Rushdie (embora nascido na Índia), Martin Amis e Ian McEwan.
Dos três, o último é o mais cotado. Em termos críticos e de vendas, segundo me informam. A Companhia das Letras publicou o seu mais festejado romance, “Reparação”, além de “A criança no tempo” e “O inocente”.
McEwan, além do mais, teve dois de seus livros transformados em filmes, sempre uma boa. Ian McEwan, de 58 anos, também é muito chamado para dar opinião. Ou passar sentença.
Certo ou errado, concordem ou não, os escritores quase sempre, em todas as sociedades de todos os tempos, adquirem uma aura de guru das mais brilhantes, se é que aura brilha.
Nove de setembro em Nova York? Quantas palavras o senhor editor do jornal ou da revista vai querer? E 24 horas depois, lá está Ian preponderando preocupado – nas bancas de jornais, ao lado dos já citados Amis e Rushdie.
Isso para citar a trinca do terror, como a chamo, sem nenhuma insinuação pejorativa, nada que se refira à hedionda Al-Qaeda. Trinca do Terror eram três heróis da época de ouro dos gibis. Mas estou falando de escritores britânicos.
Juntem os americanos, os franceses (ah, os franceses!), mesmo nossos compatriotas e, sendo assunto de vital importância para a nação e os nativos, um escritor tem que ser consultado. É o “shaman”, o feiticeiro, o homem que “rrrrealmente” sabe das coisas.
Quando em dúvida, chamem – depois dos bombeiros e da polícia – os escritores. Estão sempre dispostos a nos guiar os passos a caminho da cabine eleitoral ou à praça com o comício onde o pau come.
Um escritor é uma espécie de super-senador (também de gibi) imune a qualquer kriptonita. Um escritor é quem dá voz, em discurso alto ou manso, ao estado de graça de nossa alma e mente.
Separação reparada
E há coisas que só acontecem com os escritores, além de terem seus livros publicados, convite para conhecer países estrangeiros de graça e comparecer às noites de autógrafos dos amigos.
Vejam esse caso recente que se deu com o premiado (o prêmio Booker aqui é importantíssimo) Ian McEwan. De repente, quase sessentão, McEwan descobriu, além do meio de sua vida, um irmão do qual não tinha a menor idéia que existisse.
Encurtando uma longa história: em 1942, durante a Segunda Guerra, a mãe de McEwan, tendo enviuvado, casou-se de novo. Quer dizer, casou-se com o Major David McEwan, pai de Ian. Rose, pois esse era seu nome, tinha sido casada com Ernest Wort, pintor de paredes, e com ele tivera um filho, Stuart David, que entregou para ser adotado, por motivos lá dela.
Soube-se disso, em todo o mundo, na semana passada. Agora, surgem mais dois irmãos, ou meio ou semi-irmãos de McEwan: Roy e Margaret. Li e reli e não entendi nada, mas quer me parecer que senhora dona mãe de Ian McEwan…
Bem, deixa pra lá. Os mais recentes McEwans (presumo que o sejam pelo menos no DNA) nada tiveram a declarar a qualquer reportagem, o que não deixa de ser estranho em família de escritores. Como disse, entendi muito pouco da história, trama ou enredo McEwaniano... Deve estar tudo errado.
A notícia me foi tão aborrecida de ler quanto a ficção de McEwan. Perdão. Culpa, erro e burrice minhas. McEwan, até onde sei e pesquisei, parece também que, por uma vez na vida, fechou-se em copas. Embora seja um dos poucos casos em que ele poderia dizer, com propriedade, “Minha vida daria um romance”.
Quem sabe? Vai ver vem aí. O do irmão recém-surgido, operário da construção civil (mas pode me chamar de pedreiro) já está quase pronto, apesar de ainda estarmos no primeiro tempo. Veremos o que leremos.
Os críticos, sempre os críticos…
Crítico não deixa nada passar em branco. D.J. Taylor sacou do laptop e tacou um ensaio-ponderação no qual “desconstrói” (se ainda se usa o verbo e a prática) a obra de Ian McEwan e chega à conclusão de que esse drama todo o escritor, dada a sua extraordinária sensibilidade, já pressentira e escrevera a respeito.
Principalmente em “Cães Negros”, onde, segundo ele… Mas não. Não vou chatear os outros. Já foi uma chatice ler as considerações. Fiquemos por aqui. Aguardando.
Dos três, o último é o mais cotado. Em termos críticos e de vendas, segundo me informam. A Companhia das Letras publicou o seu mais festejado romance, “Reparação”, além de “A criança no tempo” e “O inocente”.
McEwan, além do mais, teve dois de seus livros transformados em filmes, sempre uma boa. Ian McEwan, de 58 anos, também é muito chamado para dar opinião. Ou passar sentença.
Certo ou errado, concordem ou não, os escritores quase sempre, em todas as sociedades de todos os tempos, adquirem uma aura de guru das mais brilhantes, se é que aura brilha.
Nove de setembro em Nova York? Quantas palavras o senhor editor do jornal ou da revista vai querer? E 24 horas depois, lá está Ian preponderando preocupado – nas bancas de jornais, ao lado dos já citados Amis e Rushdie.
Isso para citar a trinca do terror, como a chamo, sem nenhuma insinuação pejorativa, nada que se refira à hedionda Al-Qaeda. Trinca do Terror eram três heróis da época de ouro dos gibis. Mas estou falando de escritores britânicos.
Juntem os americanos, os franceses (ah, os franceses!), mesmo nossos compatriotas e, sendo assunto de vital importância para a nação e os nativos, um escritor tem que ser consultado. É o “shaman”, o feiticeiro, o homem que “rrrrealmente” sabe das coisas.
Quando em dúvida, chamem – depois dos bombeiros e da polícia – os escritores. Estão sempre dispostos a nos guiar os passos a caminho da cabine eleitoral ou à praça com o comício onde o pau come.
Um escritor é uma espécie de super-senador (também de gibi) imune a qualquer kriptonita. Um escritor é quem dá voz, em discurso alto ou manso, ao estado de graça de nossa alma e mente.
Separação reparada
E há coisas que só acontecem com os escritores, além de terem seus livros publicados, convite para conhecer países estrangeiros de graça e comparecer às noites de autógrafos dos amigos.
Vejam esse caso recente que se deu com o premiado (o prêmio Booker aqui é importantíssimo) Ian McEwan. De repente, quase sessentão, McEwan descobriu, além do meio de sua vida, um irmão do qual não tinha a menor idéia que existisse.
Encurtando uma longa história: em 1942, durante a Segunda Guerra, a mãe de McEwan, tendo enviuvado, casou-se de novo. Quer dizer, casou-se com o Major David McEwan, pai de Ian. Rose, pois esse era seu nome, tinha sido casada com Ernest Wort, pintor de paredes, e com ele tivera um filho, Stuart David, que entregou para ser adotado, por motivos lá dela.
Soube-se disso, em todo o mundo, na semana passada. Agora, surgem mais dois irmãos, ou meio ou semi-irmãos de McEwan: Roy e Margaret. Li e reli e não entendi nada, mas quer me parecer que senhora dona mãe de Ian McEwan…
Bem, deixa pra lá. Os mais recentes McEwans (presumo que o sejam pelo menos no DNA) nada tiveram a declarar a qualquer reportagem, o que não deixa de ser estranho em família de escritores. Como disse, entendi muito pouco da história, trama ou enredo McEwaniano... Deve estar tudo errado.
A notícia me foi tão aborrecida de ler quanto a ficção de McEwan. Perdão. Culpa, erro e burrice minhas. McEwan, até onde sei e pesquisei, parece também que, por uma vez na vida, fechou-se em copas. Embora seja um dos poucos casos em que ele poderia dizer, com propriedade, “Minha vida daria um romance”.
Quem sabe? Vai ver vem aí. O do irmão recém-surgido, operário da construção civil (mas pode me chamar de pedreiro) já está quase pronto, apesar de ainda estarmos no primeiro tempo. Veremos o que leremos.
Os críticos, sempre os críticos…
Crítico não deixa nada passar em branco. D.J. Taylor sacou do laptop e tacou um ensaio-ponderação no qual “desconstrói” (se ainda se usa o verbo e a prática) a obra de Ian McEwan e chega à conclusão de que esse drama todo o escritor, dada a sua extraordinária sensibilidade, já pressentira e escrevera a respeito.
Principalmente em “Cães Negros”, onde, segundo ele… Mas não. Não vou chatear os outros. Já foi uma chatice ler as considerações. Fiquemos por aqui. Aguardando.