Depois de um ano de Hamas, palestinos buscam governo de união nacional

da BBC, em Londres

Um ano depois da vitória eleitoral que colocou o parlamento nas mãos do Hamas, a política palestina parece ainda longe de ter concluído seu rearranjo de forças.

Praticamente todo mundo no cenário político fala da necessidade de um governo de “união nacional”, mas até agora as negociações entre Hamas e Fatah não deram em resultados concretos e a divisão entre os dois partidos só parece aumentar.

“Eles (o Hamas e o Fatah) ainda não tomaram consciência de como é urgente a formação de um governo de união nacional. Já poderíamos estar com um novo gabinete funcionando há um mês”, reclama o deputado palestino Mustafá Barghouti, um ex-candidato à presidência e importante político independente, que participa da mediação da crise.

O Fatah ainda detém a presidência, na figura de Mahmoud Abbas, e argumenta que o fato de o Hamas ter ganho uma eleição parlamentar não dá ao grupo islâmico o direito de mudar toda a estrutura da sociedade e do governo palestino.

“Os que ganharam (o Hamas) precisam entender que a vitória não lhes confere mandato para mudar tudo o que foi feito antes. Isso é falta de experiência em democracia”, diz o vice-ministro de Relações Exteriores, Ahmed Sobeh, um antigo militante do Fatah.

“União ou eleições”

Sobeh diz que o presidente Abbas vai fazer todo o esforço para formar um governo de unidade nacional mas que, se não conseguir, a única opção vai ser convocar eleições antecipadas para a Presidência e para o Parlamento.

“Já poderíamos ter formado um novo governo se não fosse a insistência de alguns obstinados que não entendem a necessidade de dividir o poder”, diz, numa referência a parte do Hamas.

Mas o Fatah também é acusado de ainda não ter aprendido a trabalhar junto com outros grupos políticos. O partido de Mahmoud Abbas – fundado por Yasser Arafat – dominou por décadas a política palestina, até as últimas eleições, que renderam ao Hamas o Parlamento.

“São as mesmas caras de sempre no Fatah, sempre tentando se manter no poder. Eles ainda não entenderam que não é mais tempo de hegemonia”, reclama Barghouti.

“E o pior é que em vez de trazer reformas o Hamas está adotando as mesmas práticas políticas de loteamento de poder que o Fatah sempre utilizou”, afirma.

Reforma

A deputada do Hamas pela cidade de Hebron, Samira al-Halaiqa, diz que o grupo está tentando promover reformas, mas que todo o esforço é colocado a perder por “interferência estrangeira”.

“Israel e os Estados Unidos estão contra o Hamas e é isso que inviabiliza qualquer tentativa de colocarmos ordem no governo”, diz ela.

Al-Halaiqa admite que ainda há grandes dificuldades e diferenças no caminho de formação de um governo de união nacional, mas diz estar confiante de que ele vai acabar sendo criado.

“Os palestinos aprenderam, vivendo sob ocupação, que a única maneira de sobreviver é através da união. É difícil, mas não há outra solução possível”, diz.

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