Deserto ganha vida em festival de música no Mali
da BBC, em Londres
As areias do deserto próximo à mitológica cidade de Timbuktu, no Mali, foram mais uma vez palco de um dos mais impressionantes festivais de música do mundo.
Como acontece desde 2001, milhares de malineses e centenas de turistas estrangeiros se reuniram próximo ao oásis de Essakane para três dias de música, teatro, filmes e debates sobre as dunas do Saara.
O evento, que reúne de 5 mil a 8 mil pessoas e leva vida e cores à paisagem do Saara, já se tornou quase uma lenda entre amantes da música africana.
Os estrangeiros que se lançam à empreitada enfrentam uma difícil jornada entre Timbuktu e Essakane para ver de perto por que o Mali é hoje a principal referência quando se trata de música vinda da África.
De certa maneira, o Festival no Deserto reproduz o que se vê em eventos musicais ao ar livre ao redor do mundo: um palco central, diversos eventos artísticos ao longo do dia, lojas oferecendo todo tipo de lembranças e vários bares.
Mas o grande desafio do festival malinês é o fato de se realizar no deserto, a verdadeira casa dos tuaregs, um grupo étnico que se espalha por vários países do centro e norte da África (Mali, Mauritânica, Argélia, Marrocos).
Na pequena comunidade de Essakane, onde vivem cerca de 200 pessoas, não há eletricidade. Ao longo do ano, o local que abriga o festival é apenas uma área de dunas, com muito pouca vegetação.
Toda a infra-estrutura necessária para o festival, incluindo os geradores da energia que garante o som e a luz dos eventos musicais, tem de ser levada de carro pelos 40 quilômetros que separam Essekane de Timbuktu. Uma distância que, com sorte, dependendo do número de vezes que o carro encalhar na areira, pode ser vencida em duas horas.
Uma experiência cultural
A edição 2007 do Festival no Deserto, de 11 a 13 de janeiro, trouxe alguns dos maiores nomes da música atual do Mali, como os grupos tuareg Tinariwen e Tartit e os músicos Toumani Diabaté e Habib Koité.
Mas nem sempre os artistas foram o destaque. Os próprios tuaregs, com seus trajes chamativos e suas espadas, são uma atração à parte.
Sobre seus imponentes camelos e com seus rostos cobertos, eles coloriram a cerimônia de abertura do festival e demonstraram sua destreza em uma confusa corrida de camelos no segundo dia.
As mulheres tuaregs, que ao contrário dos homens não escondem os rostos, exibiam sentadas em grupo vários rituais da sua cultura, cantando e batendo palmas.
Os turistas, cuja maioria já estava havia pelo menos três dias no Mali, na longa viagem entre a capital, Bamako, e Timbuktu, rapidamente eram incorporados à cultura local.
Como nômades do deserto, eles ficavam acampados em tendas feitas de pele de camelo, que pouca proteção traziam contra as freqüentes tempestades de areia durante as frias noites no deserto.
Comiam carne de bode abatido no próprio dia e tinham que se contentar com os mais do que precários banheiros. Mas, graças ao fantástico e duro trabalho da organização do festival, podiam saborear uma cerveja gelada para combater o sol escaldante.
Música sobre a areia
A tradicional música tuareg marcou presença logo no início do festival, quando subiu ao palco o grupo Tartit, bastante conhecido na Europa, mas ainda batalhando por popularidade em seu país de origem.
Os homens e mulheres locais reagiam entusiasmados a canções que remetiam à história e às dificuldades da vida no deserto. Hipnóticas e misteriosas, elas eram enriquecidas por danças em que os homens do grupo representavam os conflitos vividos por seu povo.
Atrações de outros países africanos, como o grupo marroquino Oudaden e Noura Mint Seymali, da Mauritânia, fizeram todos dançar. Outros preferiam assistir ao espetáculo sentados nas dunas, aquecidos pelas tochas estrategicamente colocadas na areia.
O Festival no Deserto não poderia deixar de prestar uma homenagem ao maior músico do Mali, Ali Farka Touré, que morreu no início do ano passado. A segunda noite foi quase toda dedicada a ele, com artistas como Toumani Dibaté e Baba Salah tocando suas músicas.
Mas o evento em Essakane também tratou constantemente de paz. Muitos na comunidade ainda se lembram das trágicas conseqüências do conflito entre o povo tuareg e o governo central do Mali, encerrado com um acordo de paz em 1996.
Alguns dos antigos guerrilheiros tuaregs resolveram trocar suas armas por instrumentos musicais, e uma dessas iniciativas deu origem ao grupo Tinariwen, que já ganhou status de celebridade na Europa.
Influenciados pela guitarra do Ocidente, o Tinariwen trouxe seu "blues do deserto" à terceira e última noite do festival, encerrada com uma calorosa apresentação de Habib Koité.
Se a paz chegou há mais de dez anos, outro inimigo assusta o Mali, o HIV. Por isso slogans alertando para a prevenção à Aids estiveram presentes em músicas, faixas ou encenações teatrais.
"A Aids mata" era a mensagem. E a líder de um movimento local feminino, dirigindo-se ao público presente, foi além: "Não morram. Porque, se vocês morrerem, nós morreremos com vocês".
Como acontece desde 2001, milhares de malineses e centenas de turistas estrangeiros se reuniram próximo ao oásis de Essakane para três dias de música, teatro, filmes e debates sobre as dunas do Saara.
O evento, que reúne de 5 mil a 8 mil pessoas e leva vida e cores à paisagem do Saara, já se tornou quase uma lenda entre amantes da música africana.
Os estrangeiros que se lançam à empreitada enfrentam uma difícil jornada entre Timbuktu e Essakane para ver de perto por que o Mali é hoje a principal referência quando se trata de música vinda da África.
De certa maneira, o Festival no Deserto reproduz o que se vê em eventos musicais ao ar livre ao redor do mundo: um palco central, diversos eventos artísticos ao longo do dia, lojas oferecendo todo tipo de lembranças e vários bares.
Mas o grande desafio do festival malinês é o fato de se realizar no deserto, a verdadeira casa dos tuaregs, um grupo étnico que se espalha por vários países do centro e norte da África (Mali, Mauritânica, Argélia, Marrocos).
Na pequena comunidade de Essakane, onde vivem cerca de 200 pessoas, não há eletricidade. Ao longo do ano, o local que abriga o festival é apenas uma área de dunas, com muito pouca vegetação.
Toda a infra-estrutura necessária para o festival, incluindo os geradores da energia que garante o som e a luz dos eventos musicais, tem de ser levada de carro pelos 40 quilômetros que separam Essekane de Timbuktu. Uma distância que, com sorte, dependendo do número de vezes que o carro encalhar na areira, pode ser vencida em duas horas.
Uma experiência cultural
A edição 2007 do Festival no Deserto, de 11 a 13 de janeiro, trouxe alguns dos maiores nomes da música atual do Mali, como os grupos tuareg Tinariwen e Tartit e os músicos Toumani Diabaté e Habib Koité.
Mas nem sempre os artistas foram o destaque. Os próprios tuaregs, com seus trajes chamativos e suas espadas, são uma atração à parte.
Sobre seus imponentes camelos e com seus rostos cobertos, eles coloriram a cerimônia de abertura do festival e demonstraram sua destreza em uma confusa corrida de camelos no segundo dia.
As mulheres tuaregs, que ao contrário dos homens não escondem os rostos, exibiam sentadas em grupo vários rituais da sua cultura, cantando e batendo palmas.
Os turistas, cuja maioria já estava havia pelo menos três dias no Mali, na longa viagem entre a capital, Bamako, e Timbuktu, rapidamente eram incorporados à cultura local.
Como nômades do deserto, eles ficavam acampados em tendas feitas de pele de camelo, que pouca proteção traziam contra as freqüentes tempestades de areia durante as frias noites no deserto.
Comiam carne de bode abatido no próprio dia e tinham que se contentar com os mais do que precários banheiros. Mas, graças ao fantástico e duro trabalho da organização do festival, podiam saborear uma cerveja gelada para combater o sol escaldante.
Música sobre a areia
A tradicional música tuareg marcou presença logo no início do festival, quando subiu ao palco o grupo Tartit, bastante conhecido na Europa, mas ainda batalhando por popularidade em seu país de origem.
Os homens e mulheres locais reagiam entusiasmados a canções que remetiam à história e às dificuldades da vida no deserto. Hipnóticas e misteriosas, elas eram enriquecidas por danças em que os homens do grupo representavam os conflitos vividos por seu povo.
Atrações de outros países africanos, como o grupo marroquino Oudaden e Noura Mint Seymali, da Mauritânia, fizeram todos dançar. Outros preferiam assistir ao espetáculo sentados nas dunas, aquecidos pelas tochas estrategicamente colocadas na areia.
O Festival no Deserto não poderia deixar de prestar uma homenagem ao maior músico do Mali, Ali Farka Touré, que morreu no início do ano passado. A segunda noite foi quase toda dedicada a ele, com artistas como Toumani Dibaté e Baba Salah tocando suas músicas.
Mas o evento em Essakane também tratou constantemente de paz. Muitos na comunidade ainda se lembram das trágicas conseqüências do conflito entre o povo tuareg e o governo central do Mali, encerrado com um acordo de paz em 1996.
Alguns dos antigos guerrilheiros tuaregs resolveram trocar suas armas por instrumentos musicais, e uma dessas iniciativas deu origem ao grupo Tinariwen, que já ganhou status de celebridade na Europa.
Influenciados pela guitarra do Ocidente, o Tinariwen trouxe seu "blues do deserto" à terceira e última noite do festival, encerrada com uma calorosa apresentação de Habib Koité.
Se a paz chegou há mais de dez anos, outro inimigo assusta o Mali, o HIV. Por isso slogans alertando para a prevenção à Aids estiveram presentes em músicas, faixas ou encenações teatrais.
"A Aids mata" era a mensagem. E a líder de um movimento local feminino, dirigindo-se ao público presente, foi além: "Não morram. Porque, se vocês morrerem, nós morreremos com vocês".