Brasil não precisa crescer como Índia e China, diz Mantega

da BBC, em Londres

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta segunda-feira em Londres que o Brasil não tem condições nem precisa crescer nos mesmos níveis da Índia e da China.

"Não precisamos crescer a 10% ao ano e nem temos condições para isso", afirmou Mantega.

O ministro argumentou que só países com mercados consumidores internos relativamente pouco desenvolvidos e num estágio menos avançado de industrialização conseguem crescer a taxas tão elevadas.

Mantega sugeriu que o Brasil está partindo de um estágio econômico mais avançado e usou uma metáfora automobilística para falar do crescimento brasileiro.

"Agora temos um carro melhor com uma estrada boa e podemos aumentar a velocidade de 80 km/h para 120 km/h."



Investimentos

Em relação aos investimentos públicos, o ministro da Fazenda disse que, embora o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) projete um aumento dos atuais 0,6% para 1,1% do PIB em 2007, esse porcentual pode chegar a 2% ou 2,5% se somados os investimentos das empresas estatais.

Segundo Mantega, apesar de a taxa de investimentos públicos ser de cerca de 10% na Índia e na China, "não cabe às condições do Brasil algo dessa magnitude".

O ministro descartou também comparações com a Argentina, que segundo ele, conseguiu ter elevadas taxas de crescimento nos últimos anos apenas porque está se recuperando da crise de 2001/2002.

"Temos que olhar as nossas condições e objetivar o máximo possível", disse o ministro.

"Com um crescimentom médio de 5% ao ano, será possível gerar empregos, fortalecer o mercado interno e o Brasil se tornar uma das maiores economias do mundo."

Encontro com Gordon Brown

Mantega reuniu-se nesta segunda-feira com o ministro das Finanças britânico, Gordon Brown, na residência oficial do britânico, no número 11 da Downing Street.

Segundo Mantega, o principal objetivo no encontro com Brown foi conhecer o sistema de confecção do Orçamento introduzido há dez anos pelos trabalhistas britânicos, e que permite ao governo aumentar seus gastos com investimentos sem comprometer o equilíbrio fiscal.

As regras adotadas na Grã-Bretanha na década passada determinam que o governo não pode se endividar a não ser para custear investimentos e estabelecem um teto para o endividamento público.

No caso do Brasil, disse Mantega, o governo não pretende se endividar para custear investimento. "O Brasil teve que conquistar a confiança dos investidores e não tem como fazer o mesmo que a Grã-Bretanha", afirmou o ministro.

Segundo ele, os dois governos coincidem na filosofia de que o investimento é um ativo, não um passivo.

"O modo de implementar é diferente, porque não vamos aumentar endividamento. Os dois governos concordam que o Estado precisa fazer mais investimentos não para substituir o setor privado, mas para melhorar as condições criadas pela globalização"

O conceito já foi utilizado em parte na confecção do PAC, que destina meio ponto percentual do PIB para investimentos considerados essenciais sem que esse gasto seja deduzido das contas para o superávit primário.

Mantega diz ter conversado com Brown também sobre a Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), relançada neste fim de semana durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Brown teria reiterado a intenção do governo britânico de contribuir para o sucesso das negociações.

Além disso, os dois trataram das Parceria Público Privadas, as PPPs, outro conceito britânico que serviu de modelo ao governo brasileiro.

Mantega e Brown discutiram, por exemplo, a dificuldade de estabelecer uma remuneração justa os investidores privados.

Finalmente, os ministros concordaram com a formação de um grupo técnico regular de discussões entre Grã-Bretanha e Brasil para tratar de iniciativas comuns, incluindo a proposta de um fundo internacional de vacinação.

Gordon Brown é considerado o provável sucessor do atual primeiro-ministro, Tony Blair, quando este deixar o cargo neste ano.

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