Arqueólogos acham casas 'dos construtores do Stonehenge'

da BBC, em Londres

Arqueólogos britânicos disseram ter encontrado um antigo povoado que teria sido usado pelas pessoas que construíram o Stonehenge, o famoso monumento pré-histórico britânico.

Escavações no sítio arqueológico de Durrington Walls, próximo à Planície de Salisbury, onde fica o Stonehenge, revelaram vestígios de casas antigas.

De acordo com os cientistas, a população da época parece ter ocupado as casas por temporadas, para realizar rituais festivos e cerimônias fúnebres.

As moradias são de 2.600 a 2.500 a.C., o mesmo período em que a maior parte do Stonehenge foi construído.

Na era antiga, este povoado teria abrigado centenas de pessoas, o que o tornaria o maior vilarejo britânico neolítico já encontrado.

Entulho

“No local onde estavam as casas, escavamos os contornos no chão de camas e armários de madeira”, afirmou à BBC o arqueólogo Mike Parker Pearson, da Universidade de Sheffield.

Os pesquisadores escavaram oito casas do antigo vilarejo, mas conseguiram detectar muitas outras prováveis moradias – possivelmente uma centena – usando um equipamento de geofísica.

Cada casa teria cinco metros quadrados, com um aspecto “meio de prisão”, segundo Pearson.

As casas são feitas de madeira, com chão de argila e um forno central. Arqueólogos encontraram entulhos com mais de 4,6 mil anos de idade.

“É o mais rico – e com isso, quero dizer, o mais sujo – sítio deste período conhecido na Grã-Bretanha”, disse Pearson. “Nunca vimos esta quantidade de cerâmica, ossos de animais e pedra-de-fogo.”

Rituais e festivais

O pesquisador da Universidade de Sheffield não acredita que o local fosse habitado durante todo o ano. Para ele o complexo religioso formado por Stonehenge e Durrington era usado para rituais funerários.

Pearson acredita que, na era neolítica, as pessoas vinham de diversas partes da Grã-Bretanha para grandes festas realizadas no inverno, onde muita comida era consumida. Isso explicaria o número de ossos de animais encontrados no local.

“O entulho achado não é um resto doméstico qualquer. Não há equipamentos de artesanato para limpeza de restos animais e nem de processamento de colheita”, disse.

“Os ossos eram jogados fora meio comidos. É o que chamamos de uma coleção de banquete. Aqui é aonde eles vinham para festejar. Você pode dizer que é o primeiro festival gratuito.”

Outro Stonehenge

O povoado de Durrington também tinha seu próprio monumento semelhante ao Stonehenge, porém feito de madeira, que foi descoberto em 1967.

Os dois monumentos estão alinhados a fenômenos do calendário astronômico. O Stonehenge está alinhado ao pôr-do-sol do solstício de inverno. O de Durrington está alinhado com o amanhecer do solstício de inverno. Segundo Pearson, os monumentos se complementam.

Isso se encaixa com a idéia de que os locais eram usados para festivais, que surgiu após a análise de dentes de porcos achados no sítio.

“Uma das coisas que podemos deduzir a partir dos dentes de porcos, é que a maior parte deles (os porcos) foi abatida aos nove meses. E nós acreditamos que as porcas pariram na primavera”, afirmou o pesquisador.

“É provável que houvesse uma seleção de rebanho no inverno, e isso se encaixa com nossa teoria sobre os alinhamentos de solstícios em Durrington e Stonehenge.”

Em uma área separada, o arqueólogo Julian Thomas, da Universidade de Manchester, descobriu outras duas casas neolíticas, cada uma protegida por uma cerca de madeira e uma trincheira.

Mas, ao contrário das casas em Durrington, estas moradias não tinham entulhos.

“Primeiro pensamos que elas haviam sido limpas”, disse Thomas.

Porém, pesquisadores acreditam que essas moradias eram mantidas limpas e que teriam abrigado líderes da comunidade, além de sábios, chefes e religiosos. Ou que elas seriam lugares sagrados para rituais.

Cemitério

Pearson especula que Durrington era um local usado para celebrar a vida e depositar no rio os mortos, que seriam transportados para a além-vida, enquanto Stonehenge funcionava como memorial ou até cemitério para alguns dos mortos.

Depois do banquete, afirma Pearson, as pessoas viajavam por uma avenida para depositar os mortos no rio Avon, cujo curso segue em direção ao Stonehenge. Em seguida, elas seguiam por outra avenida, que levava ao monumento de Stonehenge, onde haveria cremação e enterro de outros mortos selecionados.

Stonehenge seria, portanto, um local para adoração dos ancestrais e de comunhão com os espíritos dos mortos. Ele teria sido o maior cemitério da Grã-Bretanha antiga, com cinzas de mais de 250 corpos.


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