Au-au dodói

da BBC, em Londres

- Patrão, é o seguinte: eu não vim trabalhar ontem por causa de que meu cachorrinho, o Tição, estava com febre.

- Ora, rapaz, nem se preocupe. Você, inclusive, me parece estressado. Tire uns dias de férias.

O diálogo pode se repetir com gato, papagaio e macaquinho. Com todo o reino da bicharada. Entre os homens, é mais ou menos isso que inventei aí em cima.
Só falta botar em inglês.

Portanto, da próxima vez em que o distinto aí, digo aqui, estiver com vontade de ficar em casa vendo a quinta série completa do programa de TV “24”, recém-chegado pelo correio, é só chegar no telefone, ligar para o escritório, pedir para falar com o chefe, ou um superior qualquer, e, em vez de ficar fingindo aquela voz marota de resfriado, dar a explicação do mal estar do irracional bichinho de vossa estimação.

O fenômeno é cada vez mais comum aqui no Reino Unido, principalmente na Inglaterra. Muitas companhias estão deixando que os donos de “pets” fiquem em casa cuidando do au-au, do miau-miau, ou do grrr-grrr.

Loucos também por um jogo de palavras, os ingleses já batizaram o esquema de licença para “peternity”, assim como tem licença para maternidade e paternidade, “maternity” ou “paternity leave”.

Nem precisa mostrar no dia seguinte (ou dias seguintes) o certificado do veterinário. Basta uma expressão compungida estampada num rosto combalido.

Alguns negócios respeitáveis encontraram soluções das mais humanas para a questão. Gente do gabarito do Banco da Escócia e do “Royal Mail”, os reais correios. Esses chamam de licença “compassionate”, ou seja, licença de e por compaixão.

Google por aí, Sultão!

A sede londrina da Google ou é muito viva ou muito ingênua. Ela permite aos funcionários (que eles devem chamar de “googlonários”) levarem seus “arf!arf!” (sim, estou lidando com outro tipo de cão agora) para o trabalho, alegando morrer de pena do pobre do trabalhador ou trabalhadora que se vê obrigado a passar o dia inteiro distante do fiel companheiro, esse nobre e reconhecivelmente melhor amigo do homem.

Faz de conta que há uma bruta exclamação depois desse “homem” da frase anterior. A humanidade precisa ser mais exclamativa, menos sorumbática.

A Google vai ainda mais longe: contrata babás de cachorro, gente especialmente treinada para cuidar dos bichos, dar de comer, levar para o passeio e esperar que façam – dentro dos parâmetros da exigida limpeza urbana – suas necessidades.

Essa profissão, que vai além dos chamados “dog walkers”, gente que simplesmente leva os cães para uma volta no quarteirão ou no parque, chega a cobrar mais ou menos 50 dólares por hora de andança. Viva a Google, viva os passeadores de cachorros!

O ponto de vista técnico

O pessoal que se especializou nas regras e procedimentos de trabalho, levando em conta sua eficiência e rendimento, considera a nova medida como das mais importantes.

Os “trabalheiros” (vamos chamá-los assim, só de graça) dizem que já era mais do que hora dos empregadores reconhecerem o papel desempenhado pelos bichos de estimação na vida de seus empregados.

Adotando essa postura (de pé, sem botar a língua para fora e babar), o mundo dos negócios só tem a ganhar, pois irá angariar, mais do que nunca, a boa vontade dos trabalhadores.



E a inevitável pesquisa…

… realizada pela companhia de seguros “Petplan” (juro que é esse o nome da firma) descobriu que 35% de seus fregueses admitiram, meio na moita, terem “matado” trabalho para ficarem em casa cuidando do cachorrinho ou do gatão ou mesmo apenas aguardando até que um novo animal de estimação (pode ser até uma tartaruga, a Humanidade é estranha) se acostume ao novo lar.

A “Petplan” revelou que faltar ao trabalho para ficar em casa com o – mudemos mais uma vez de bicho de estimação – o porquinho da Guiné, esperando que este se acostume às novas acomodações pode custar ao mundo dos negócios britânico por volta de quase 40 milhões de dólares por ano. Haja ou não bicho, esteja esse doente ou não.


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