Crescimento baixo e dívida freiam Brasil, diz agência de risco

da BBC, em Londres

A diretora da Standard & Poor's para a América Latina, Lisa Schineller, disse nesta quarta-feira que a combinação de pequenas taxas de crescimento com o alto endividamento do setor público são os principais entraves para que o Brasil obtenha o grau de investimento, o patamar mais alto na classificação de agência, que analisa riscos financeiros.

Para obter o grau de investimento, o país precisa subir mais dois degraus no ranking da Standard & Poor's. Na terça-feira, a agência elevou a Índia a grau de investimento.

Schineller participou da mesa-redonda “O Brasil aos Olhos de Wall Street - Cenários Políticos e Econômicos”, promovida pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.

Perguntada sobre o prazo necessário para que o Brasil, hoje classificado como BB+, obtenha o grau de investimento, ela disse: “Não tenho como responder a essa questão de prazo, mas historicamente 60% dos países que já estiveram na atual posição do Brasil levaram cerca de um ano e meio para receber uma primeira promoção.”

Fragilidade fiscal

Segundo Schineller, ao contrário da Índia, cuja economia tem crescido a uma média de 8% ao ano, o Brasil tem apresentado taxas de crescimento muito mais modestas, abaixo de 3%.

“Assim como no Brasil, o ponto fraco da Índia é o lado fiscal. A relação entre dívida e PIB indiana é de 80%. No Brasil, hoje essa relação é de 49%,” acrescentou.

Mas ela argumentou que, “ao contrário do Brasil, a composição do mercado de capitais indiano amortece o alto peso da dívida do país”.

“Os indianos podem emitir dívida num prazo de trinta anos com uma taxa de juros fixos.”

Schineller concluiu dizendo que “nos últimos anos, o desempenho econômico brasileiro melhorou significativamente, mas que para obter o grau de investimento, o país terá de continuar exibindo melhorias na elaboração e na execução de políticas que aliviem o lado fiscal, reduzam os gastos públicos, aliviem o setor privado e promovam o crescimento”.

“Ganho marginal”

Segundo John Welch, vice-presidente de estratégia soberana do banco de investimentos Lehman Brothers, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado recentemente pelo governo Lula, deverá ter um impacto apenas “marginal” na economia.

“Em termos de alívio fiscal, por exemplo, o PAC representa uma economia de R$ 1,4 bilhão. Isso é uma coisa minúscula,” disse.

Welch acrescentou que “infelizmente, os números (do governo) estão indo na direção errada”.

“Em termos reais, os gastos do governo brasileiro subiram 13,8% em 2006,” disse.

Para ele, “o grande risco para a economia brasileira é que as expectativas para o crescimento sejam frustradas. Se isto acontecer, o bode expiatório poderia ser o Banco Central,” afirmou, numa referência indireta à política monetária ortodoxa implementada pelo presidente do BC, Henrique Meirelles.

De acordo com o brasilianista Albert Fischlow, em 2007 o Brasil crescerá entre 3% a 3,5%.

“Tudo estará bem porque hoje existe muito dinheiro (em circulação) no mundo,” disse.

Fishlow concluiu dizendo que “o país só poderá crescer consistentemente quando houver a possibilidade de uma redução significativa dos gastos do governo”.


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