Análise: Situação do Líbano exige ação urgente

da BBC, em Londres

Os ataques a bomba contra dois ônibus em uma área cristã de Beirute não poderiam ter sido mais provocadores, ocorrendo num momento em que o Líbano já está à beira da guerra civil por causa do clima de grande tensão política.

As bombas explodiram apenas 24 horas antes de uma grande manifestação de rua marcada no centro da capital libanesa para marcar o segundo aniversário do assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri.

Milhares de manifestantes de oposição ao governo, liderados pelo grupo militante Hezbollah, já estão acampados numa área próxima ao local do protesto.

Cientes de que é grande a probabilidade de uma confrontação desastrosa entre as duas facções, diferentes lideranças no país vêm apelando à calma.

Mas as explosões desta terça-feira devem reforçar a percepção de muitos no Líbano de que mãos invisíveis estão tentando fomentar divisões entre os libaneses.

Ao contrário dos confrontos de rua ocorridos em janeiro, que trouxeram memórias da guerra civil dos anos 70 e 80, o duplo ataque contra os ônibus não teve nada de espontâneo - foi, sim, cuidadosamente planejado, organizado e coordenado.

Anti-Síria

O alvo escolhido, a região de Bikfaya, é o reduto tradicional do clã Gemayel, de fundadores do Partido Falangista, que desempenhou um importante papel na guerra civil e que integra o campo anti-Síria.

O último expoente do clã, o ministro da Indústria Pierre Gemayel, foi morto a tiros em um subúrbio de Beirute em novembro.

O pai do ministro, o ex-presidente Amin Gemayel, estava entre os líderes anti-Síria que rapidamente acusaram atores externos - implicitamente Damasco - de estarem por trás das explosões, supostamente com o objetivo de desarticular a manifestação prevista para esta quarta-feira.

Para os libaneses, as explosões também marcaram uma mudança perigosa.

Os ataques dos últimos anos, incluindo o que matou Hariri em fevereiro de 2005, foram lançados contra alvos específicos, quase todos eles opositores da Síria.

Esta é a primeira vez que as bombas foram colocadas com o aparente objetivo de atingir pessoas comuns, contribuindo para a impressão de que os responsáveis pelo ataque queriam fomentar as divisões internas em uma situação já bastante explosiva.

Tanto na greve geral convocada pelo Hezbollah e seus aliados oposicionistas no último dia 23 de janeiro como nos choques de rua ocorridos dois dias depois, xiitas e sunias se enfrentaram.

Facções pró e anti-Síria também entraram em confronto em áreas cristãs no norte de Beirute.

Antes dos ataques desta terça-feira, já havia uma percepção de que o país estava a apenas um passo da guerra civil, o que levou líderes dos dois lados a recuar.

Xiitas e sunitas

A Arábia Saudita, que se vê como protetora dos sunitas e apóia o governo do primeiro-ministro Fuad Siniora, coordenou com o Irã tentativas de reduzir as tensões.

O governo iraniano é muito próximo ao Hezbollah e à Síria, que apóia a oposição libanesa.

O secretário da Liga Árabe, Amr Moussa, também interveio para reduzir as tensões regionais e internacionais. A situação parecia sob controle, mas permanece perigosamente vulnerável a ações provocadoras como os ataques desta terça-feira.

A teoria por trás disso é que a Síria quer que as pessoas sintam medo de participar da manifestação, como parte de uma campanha para restaurar a sua influência sobre o Líbano.

Forças sírias se retiraram do país há dois anos, em meio aos protestos pelo assassinato de Hariri e a pressões internacionais.

Com a expectativa de que a manifestação será mantida apesar dos ataques, os chefes da polícia e do Exército libaneses estão buscando maneiras de tornar ainda mais rigorosas as medidas de segurança que visam evitar confrontos durante a manifestação.

Mesmo se a manifestação transcorrer de forma pacífica, os ataques evidenciam a extrema fragilidade da situação e a urgente necessidade de atitudes que dissipem a crise.

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