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Viagem épica de trem deixa Kim mais perto de ser líder normal

O líder norte-coreano Kim Jong Un, que se encontra com o presidente dos EUA, Donald Trump, esta semana - Divulgação
O líder norte-coreano Kim Jong Un, que se encontra com o presidente dos EUA, Donald Trump, esta semana Imagem: Divulgação

Youkyung Lee e Jungah Lee*

25/02/2019 18h13

A chegada de Kim Jong Un ao Vietnã de trem, nesta semana, para uma segunda reunião com o presidente dos EUA, Donald Trump, pode ser mais notável porque está se tornando normal.

Desde que abriu as negociações com a Coreia do Sul no ano passado, o líder norte-coreano, antes recluso, tornou-se um dos hóspedes mais procurados da Ásia. A cada parada -- em lugares como Pequim, Cingapura e agora Hanói --, Kim, 35, está sendo escoltado nos tapetes vermelhos por autoridades ávidas por construir laços iniciais com o chefe de um dos últimos mercados emergentes inexplorados do mundo.

A mudança da condição de pária internacional para a de convidado de honra é uma prova do sucesso de Kim em tirar o poder dos chefes militares e eliminar rivais desde a morte do pai, em 2011. Ilustra também seu antigo desejo de recuperar uma economia arruinada por décadas de fome, planejamento estatal e expansão militar sob o comando do pai e do avô.

"Quem quiser realmente entender o Kim Jong Un do presente tem que voltar aos primeiros anos dele", disse Kim Young-hui, que desertou da Coreia do Norte em 2002 e agora é economista sênior da Unidade Intercoreana de Pesquisa em Cooperação Econômica do Banco de Desenvolvimento da Coreia.

Kim Jong Un se perguntava por que o pai, Kim Jong Il, não viajava muito para o exterior "e por que a Coreia do Norte era tão pobre", disse ela, citando o livro de um chef japonês que trabalhou para o falecido ditador. "Kim Jong Un achava que quando se tornasse líder, governaria o país muito melhor do que seu recluso pai."

Nos últimos sete anos, Kim, educado na Suíça, levou a Coreia do Norte da política "militar primeiro" de seu pai, focada na construção de um arsenal nuclear, para outra que enfatiza a economia. Após o teste bem-sucedido de um míssil balístico intercontinental, em 2017, ele declarou que o programa de armas estava "completo", iniciou negociações com Trump e anunciou uma nova estratégia para impulsionar a economia.

A decisão pôs fim às ameaças de guerra de Trump e preparou o caminho para uma primeira reunião histórica com o presidente dos EUA, em junho. Abriu também um novo mundo de possíveis investidores, de Seul a Cingapura -- desde que Kim consiga que Trump relaxe as sanções internacionais contra seu programa de armas.

Trump minimizou as expectativas de que possa aliviar rapidamente a pressão sobre a Coreia do Norte, dizendo a governadores americanos reunidos na Casa Branca no domingo: "Não estou pressionando por velocidade, mas não removeremos as sanções."

Kim deixou Pyongyang na tarde de sábado em um trem que o levará pela China até o Vietnã. Ele viajou cinco vezes ao exterior no ano passado -- mais do que qualquer líder norte-coreano em pelo menos duas décadas --, visitando muitas vezes instalações industriais. Kim planeja fazer o mesmo no Vietnã antes da cúpula programada, o que lhe dará uma visão de perto de um estado socialista que prosperou após diminuir hostilidades com os EUA.

*Com a colaboração de Jon Herskovitz, Jihye Lee e David Tweed