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Coronavírus sinaliza maior número de mortes em décadas na Europa

Anton Petrus/Getty Images
Imagem: Anton Petrus/Getty Images

Suzi Ring

23/04/2020 12h59

As mortes totais por todas as causas deram um salto em muitas das maiores economias da Europa desde o surgimento da pandemia de coronavírus, o que oferece uma avaliação preliminar sobre a resposta desses países à crise.

A Espanha registrou quase 49 mil mortes no total no mês passado, o maior número desde março desde 1975, ano da morte do ditador Francisco Franco. O Reino Unido teve o maior número semanal de óbitos em 20 anos na terça-feira. O único grande país europeu que não registrou aumento das mortes em 2020 até agora foi a Alemanha, onde autoridades afirmam que o surto está sob controle.

Esses dados preliminares oferecem uma indicação mais clara do impacto do coronavírus em todo o continente. Durante semanas, esses efeitos foram ofuscados por discrepâncias na maneira como os países divulgavam mortes causadas pelo coronavírus. Alguns podem ter não ter computado esses óbitos antes da expansão dos testes ou atribuído as mortes a outras causas subjacentes, como câncer ou doenças cardíacas. Outros países excluíram casas de repouso do número total.

As diferenças nos níveis de mortes totais destacam o grau em que países como Alemanha podem ter se beneficiado de medidas como testes logo no início do surto e mais amplos. Os dados também mostram que, em países atingidos, as mortes pelo vírus superaram muito os níveis normais de óbitos causados pela gripe sazonal.

A Alemanha tem adotado "uma política muito agressiva de contenção do surto, a qual deu seguimento apesar do fato de isso demandar muito do sistema de saúde", disse David Heymann, professor de epidemiologia de doenças infecciosas na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

Heymann alertou que os dados ainda são escassos e que é muito cedo para tirar conclusões definitivas. Indicações preliminares também sugerem que o Covid-19 não se limitou a substituir outras causas de morte que podem ter sido reduzidas pelos confinamentos, como acidentes de carro e crimes, pelo menos durante o período em que as infecções começaram a atingir o pico em muitos países.

Mais de 180 mil pessoas morreram globalmente de Covid-19, com cerca de 2,6 milhões de infectados. Alguns países, como Itália e Alemanha, estão no processo de reabrir lentamente as economias. Todas as nações tentam evitar uma segunda onda da doença que exigiria mais confinamentos.

A França registrou 76.246 mortes no total de 1º de março a 6 de abril, o maior número para o período em pelo menos três anos, segundo dados da agência de estatística do país.

Na Itália, as mortes entre o início do ano e 4 de abril aumentaram em média 30% em relação ao ano anterior nos 1.689 municípios mais atingidos pelo vírus, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística da Itália. Essas áreas respondem por quase 30% da população da Itália. As taxas de mortalidade de todo o país ainda não estão disponíveis.

"Agora, esses são oficialmente eventos de vítimas em massa", disse John Troyer, diretor do Centro de Morte e Sociedade da Universidade de Bath, Inglaterra. "Ao longo do ano, e isso será escrito nas próximas décadas, veremos diferentes causas de morte", incluindo mortes não relacionadas ao vírus que ocorreram devido ao foco no Covid-19.

O que os números ainda não refletem é o grau em que as mortes podem ter sido causadas indiretamente pelo vírus como resultado de medidas de confinamento. Embora tipos como mortes no trânsito e violência de organizações criminosas possam diminuir, homicídios por abuso doméstico, suicídios e mortes por câncer podem aumentar, de acordo com instituições de caridade e médicos.