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Refugiado que ajudou a salvar 200 pessoas em Munique diz que agiu por "humanidade"

Andreas Gebert/dpa via AFP
Imagem: Andreas Gebert/dpa via AFP

Jawad Amanullah

28/07/2016 10h37

Em meio ao pânico, um refugiado de 20 anos colocou 200 pessoas a salvo do atirador, no porão de um shopping em Munique. Em entrevista à DW, ele rejeita alcunha de herói e afirma: "Terroristas sujam o nome do islã."

O afegão Amir Najiarzadeh, de 20 anos de idade, é segurança numa loja próxima ao shopping-center Olympia, em Munique, capital da Baviera. Quando, na última sexta-feira (22/07), o jovem Ali David S. abriu fogo na área, com claras intenções assassinas, Najiarzadeh tomou a iniciativa de providenciar abrigo para cerca de 200 pessoas no porão do edifício onde trabalha, protegendo-as assim do caos e do pânico, e possivelmente salvando vidas no atentado que fez nove vítimas.

Najiarzadeh é muçulmano, e vive na Alemanha há três anos e meio, onde buscou asilo após deixar o Afeganistão. A DW o entrevistou sobre o ato heroico, que ele próprio diz não ter sido "grande coisa": sua satisfação é ter podido realizar uma boa ação em nome de todos os afegãos.

DW: Recentemente você estampou as manchetes da imprensa alemã. Como se deu isso?

Amir Najiarzadeh: Na verdade não foi grande coisa. Só agi por uma questão de humanidade. Seja alemão ou refugiado, para mim todas as pessoas são iguais. Se pudesse, teria capturado o desequilibrado e tirado a arma dele, mas isso não estava no meu poder. O que eu pude fazer foi colocar as muitas pessoas em segurança.

A polícia nos disse que o atirador podia ainda estar no prédio, por isso desci com o pessoal para o porão, dois andares abaixo. Entre os que, de fora, procuravam refúgio conosco, no prédio vizinho do shopping Olympia, havia também algumas crianças desacompanhadas e uma gestante. Depois de colocá-los a salvo, eu voltei para cima, para garantir a segurança também na loja.

O que o moveu nesses minutos?

Não tive uma motivação especial. Eu mesmo estava simplesmente com medo. Se escuta por toda parte falar dos atos de crueldade do "Estado Islâmico" (EI) e de outros terroristas, e essas imagens me passaram pela cabeça. Não tinha medo por mim, mas pelas outras pessoas. O tempo todo eu temia que o atacante também entrasse neste prédio e atacasse gente inocente. Minha própria vida não me importava, naquele momento. Eu trabalho como segurança, e minha tarefa é proteger os outros.

Muitos dos atentados terroristas mais recentes têm sido perpetrados por originários de países como a Síria, Afeganistão, Paquistão ou Irã. Isso também lhe passou pela cabeça?

Na mídia eu ouvi sobre o homem do machado de Würzburg. Primeiro se disse que ele era do Afeganistão, e depois que na verdade era do Paquistão. Durante o tiroteio em Munique eu torci todo o tempo para que não se tratasse de um afegão nem muçulmano. Essas pessoas sujam o nome do islã e dos países de origem delas, elas são uma vergonha para nós.

Você se sente como herói?

Fico feliz de ter podido feito uma boa ação em nome de todos os afegãos. Quero que se saiba que nós não somos terroristas, e que não somos nós que disseminamos o terror pelo mundo. A Alemanha precisa saber que nós, afegãos, não fazemos uma coisa dessas. Quando recebemos algo, também damos de volta. Espero que eu tenha conseguido mostrar isso.

Moradores prestam homenagem às vítimas de tiroteio em Munique

AFP