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Mesquitas alemãs lutam para lidar com afluxo de refugiados

Naomi Conrad (ca)

31/07/2016 12h05

Em toda a Alemanha, mesquitas abriram as portas para receber os que fogem da guerra e do caos no Oriente Médio, e muitas delas acabaram sobrecarregadas. A DW visitou a Al Nour, em Hamburgo.

Pouco iluminado, o antigo estacionamento subterrâneo convertido em mesquita parece estar bem longe de fazer jus a seu orgulhoso nome: Al Nour - luz, em árabe. Ventiladores zumbem preguiçosamente acima dos desvanecidos tapetes marrons, enquanto um mero deslize de luz natural adentra pela porta principal.

Até maio de 2016, todas as noites cerca de 400 refugiados, às vezes até 600, amontoavam-se no pequeno recinto, diz o presidente da mesquita, Daniel Abdin. "Imagine como ficava abafado quando todos eles dormiam aqui!"

Depois de atingir estimados 1,1 milhão em 2015, requerendo grande esforço das autoridades para acomodá-los, o número de refugiados que chegam à Alemanha caiu significativamente este ano. Isso se deve, em parte, ao pacto assinado entre a União Europeia e a Turquia, que prevê o retorno daqueles que chegarem ilegalmente à Grécia.

O governo alemão também endureceu significativamente sua política migratória, acelerando tanto as deportações quanto os processos de asilo e declarando diversos países do Oriente Médio "seguros".

Pressão sobre mesquitas

Mesmo assim, o afluxo de refugiados testou os limites das mesquitas que abriram suas portas para os recém-chegados, como a de Hamburgo. "Era o nosso dever", diz Abdin, admitindo que isso quase levou sua pequena comunidade à falência, mas ressalvando que, até certo ponto, as igrejas locais e outras organizações ajudaram a aliviar a pressão.

Outras comunidades muçulmanas que, como a Al Nour, dependem da atuação de voluntários, também encontraram dificuldades para lidar com o grande número de migrantes, afirma Özlem Nas, que trabalha para a Aliança de Comunidades Islâmicas do Norte da Alemanha.

Afinal, centenas chegavam à cidade - muitos deles em trânsito, a caminho da Escandinávia -, e as mesquitas reagiram de imediato para dar abrigo e alimentos, com numerosos voluntários se engajando até a exaustão. "Tinha medo de que os jovens voluntários tivessem um esgotamento", lembra Nas. "É difícil ser confrontada com tantas histórias de guerra e violência", confessa, mas hoje a situação se acalmou, "ao menos um pouco".

No entanto, muitas mesquitas continuam ganhando novos fiéis. Abdin relata que a casa que dirige, em Hamburgo, é agora composta por mais de 40% de refugiados, a maioria proveniente da Síria e do Iraque. Ele teve até que introduzir uma oração suplementar na sexta-feira, a fim de acomodar todos os fiéis.

Acesso difícil à assistência psicológica

Abdilfatah Youssef é um desses novos membros. O empresário de 28 anos, de fala mansa, fugido de Damasco com a mulher e duas filhas ao eclodir a guerra, diz sentir-se em casa na mesquita. "É bom saber que se tem um lugar para ir quando há problemas, ou talvez se precise de dinheiro numa emergência", diz, em alemão quase fluente.

Outros recorrem à mesquita por estarem lutando para lidar com o trauma da violência e o derramamento de sangue. Segundo Abdin, os imãs desempenham um papel importante em proporcionar cuidado pastoral, mas alguns recém-chegados precisam de assistência psicológica profissional.

E essa ajuda nem sempre é fácil de obter, observa Nas: pode demorar até um ano para os refugiados conseguirem a primeira consulta, e muitos psicólogos e psiquiatras relutam em aceitar pacientes de outra língua e cultura. A ativista acrescenta que faz uso de uma rede de contatos pessoais, incluindo médicos e profissionais de saúde, para fornecer o aconselhamento tão necessário. Sem esses contatos "seria muito difícil", admite.

Medo da islamofobia crescente

No entanto, ao mesmo tempo em que lutam para acomodar os refugiados, líderes religiosos como Abdin se sentem frustrados por serem constantemente instados a se posicionar em relação a extremistas que cometem atrocidades em nome da religião. "Estou cansado de ter que me justificar cada vez que um agressor, que nada tem a ver com o islã, comete um crime."

Suas observações vêm numa hora em que a Alemanha se recupera de uma série de ataques violentos, parte deles cometidos por refugiados, que Abdin denomina "criminosos abusando de nossa religião". De fato, especialistas concordam que a radicalização em geral ocorre fora das mesquitas tradicionais, na maioria das vezes pela internet ou em pequenos grupos fechados.

Ao mesmo tempo, os sentimentos anti-islâmicos alcançam um ápice na Alemanha. Num estudo publicado este mês pela Universidade de Bielefeld, mais de um terço dos consultados disse acreditar que os muçulmanos apoiam fortemente os terroristas islâmicos.

Abdin dá de ombros. "Combater a islamofobia é um trabalho incrivelmente difícil, sobretudo quando temos tantas outras tarefas." Não menos importante é lutar para acomodar e integrar os irmãos muçulmanos, e disso a congregação de mesquitas está "lutando para dar conta", diz o imã.