Dilma encerra defesa com apelo a senadores
Após uma sessão que durou mais de 14 horas, a presidente afastada Dilma Rousseff encerrou na madrugada desta terça-feira (30/08) sua defesa no Senado, com apelo à consciência dos parlamentares que decidirão sobre sua destituição definitiva do cargo.
Mas, segundo analistas políticos e estimativas dos jornais brasileiros, a intervenção de Dilma não servirá para mudar a situação de ampla desvantagem, apesar do tom emotivo e do forte teor político do discurso e de suas respostas.
Durante o interrogatório que se seguiu a um discurso de 40 minutos, a presidente afastada denunciou que o país está "perto de um golpe de Estado" e manifestou temor pela "morte da democracia" e que não haja continuidade das melhorias sociais que se alcançaram durante os governos do PT.
Ela também disse que "ainda que minimamente" provou que não havia intenção de sua parte de assinar os decretos que alteraram o Orçamento e que não há razão para acusá-la de ter cometido um "crime de responsabilidade", que a Constituição estabelece como uma razão para o impeachment de um chefe de Estado.
Em seu argumento final, ela pediu aos senadores que tenham "consciência" na hora de votar e advertiu que é "muito grave afastar um presidente da República sem crime de responsabilidade", o que será uma "ferida muito difícil de ser curada".
"Por isso eu peço aos senhores senadores e às senhoras senadoras que tenham consciência na hora de avaliar este processo", disse ao final, já com a voz um pouco rouca e falhando. "É muito grave afastar uma presidente da República sem crime de responsabilidade, mesmo que o impeachment esteja previsto na nossa Constituição."
Enquanto Dilma era sabatinada pelos senadores, houve atos contra o impeachment em várias cidades. Em São Paulo, manifestantes favoráveis à petista entraram em confronto com a polícia, que usou bombas de efeito moral para dispersar a manifestação. No Rio, o protesto foi no centro da cidade, porém sem episódios de violência.
O depoimento de Dilma encerrou a fase de instrução do processo de impeachment. Agora, o julgamento passa à etapa final - com declarações dos senadores; e a votação, marcada para esta terça-feira.
A última votação no plenário do Senado, em 10 de agosto, terminou com 59 votos favoráveis ao impedimento de Dilma e 21 contrários, levando a presidente a julgamento. São necessários 54 votos entre os 81 senadores para que a petista seja afastada definitivamente, e as estimativas da imprensa local são de que a oposição tem apoio mais do que suficiente.
"Estamos a um passo do golpe"
As respostas de Dilma aos senadores tiveram o mesmo tom do discurso, que antecedeu a sabatina e durou cerca de 40 minutos. Nele, a presidente afastada denunciou o governo do interino Michel Temer como "usurpador", atacou adversários como o deputado Eduardo Cunha e fez uma espécie de compilação de argumentos da narrativa do "golpe", que já vinham sendo usados em plateias de apoiadores nos últimos meses.
Para especialistas, apesar da presença dos senadores, a fala de Dilma foi voltada mais uma vez para a militância e não deve ter algum efeito prático na votação do processo de impeachment, cujo placar já sinaliza uma derrota da petista.
Dilma usou a palavra golpe em cinco oportunidades para descrever o processo de impeachment contra ela e ainda fez paralelos entre a sua situação política e a de ex-presidentes brasileiros que foram derrubados ou sofreram com conspirações, como Getúlio Vargas, João Goulart e Juscelino Kubitschek.
"Estamos a um passo da consumação de uma grave ruptura institucional, a um passo da consumação de um golpe de Estado", disse Dilma.
RPR/ots/efe/rtr
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