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Anis Amri e a rede salafista de Abu Walaa

Rahel Klein, Diana Hodali (av)

23/12/2016 12h55

Capturado em novembro, "número um do EI" na Alemanha mantinha rede extremista em nível nacional. Nome dele aparece repetidamente em conexão com atos terroristas, inclusive contra o mercado de Natal em Berlim.Desde que o pregador salafista Abu Walaa foi preso, há algumas semanas, sua conta no Facebook perdeu muitos amigos. Antes eram cerca de 25 mil, após a captura a conta foi encerrada. Na nova, que foi aberta em seguida, menos de mil acompanham o que ele posta, ou provavelmente postam em seu nome. Entre os conteúdos, conclamações à prece (dua) e dicas sobre como neutralizar magia (shir).Abu Walaa, cujo nome completo é Ahmad Abdulaziz Abdullah, é considerado o "número um" da organização jihadista "Estado Islâmico" (EI) na Alemanha. A Procuradoria Federal o acusa de ser o cabeça de uma rede salafista voltada a recrutar combatentes para a milícia terrorista. Em 8 de novembro de 2016, as autoridades finalmente detiveram o fundamentalista e quatro outros presumíveis recrutadores terroristas.Conexões com Anis AmriNo contexto de investigações antiterrorismo têm surgido repetidamente conexões com os círculos salafistas do iraquiano de 32 anos. Segundo veículos de imprensa, também o principal suspeito do atentado a uma feira natalina de Berlim, Anis Amri, morto na Itália nesta sexta-feira (23/12), teria mantido contato com essa rede.O site alemão de notícias Focus Online noticiou, com base em declarações de um informante do Departamento Estadual de Investigações da Renânia do Norte-Vestfália, que o grupo de Abu Walaa teria tentado várias vezes enviar Amri clandestinamente para o EI na Síria. Além disso, o presumível terrorista de Berlim comentou diversas vezes sobre seus planos de atentado, dentro da rede do líder terrorista iraquiano. Reportando-se às investigações em curso, a Procuradoria Geral da República, sediada em Karlsruhe, recusou-se a comentar essas informações da mídia alemã."Comboios de ajuda" para Síria sob suspeitaA associação Círculo Islâmico de Língua Alemã (DIK), em Hildesheim, onde Abu Walaa pregou por diversas vezes, é citada como um importante núcleo da rede liderada pelo terrorista de 32 anos. Segundo o secretário do Interior da Baixa Saxônia, Boris Pistorius, a mesquita seriam um "hotspot da cena salafista radical, em nível nacional".Em julho, a polícia deu uma batida na casa de orações e nas residências de oito membros da diretoria do DIK. Lá, cerca de 20 homens teriam se radicalizado e se afiliado ao EI. Há três anos, os órgãos de segurança interna observam a associação extremista, e um processo de interdição está em andamento.O DIK de Hildesheim possui também ligações com a associação salafista Helfen in Not (Ajudar na necessidade), com sede na cidade de Neuss, na Renânia do Norte-Vestfália. Já em 2013, o Departamento Estadual de Proteção da Constituição advertia sobre as "metas extremistas, salafistas" perseguidas por essa organização, de cujos eventos de gala em favor da Síria participaram vários pregadores do salafismo. A Helfen in Not organiza, ainda, assim chamados "comboios de ajuda", em que são levados até a Síria gêneros de primeira necessidade, financiados com doações.O relatório atual do Departamento de Proteção da Constituição da Baixa Saxônia reconhece que é difícil verificar, em cada caso, se os artigos enviados servem exclusivamente para minorar o sofrimento da população civil ou se grupos jihadistas são apoiados com eles.No processo contra o pregador salafista Sven Lau, acusado de terrorismo, uma testemunha-chave depôs que também "combatentes de Alá" seriam traficados nos comboios da Alemanha para a Síria.Aliados e opositores na cena salafistaConsta também fazerem parte da rede de Abu Walaa os salafistas Hasan C., de Duisburg, e Boban S., de Dortmund, capturados simultaneamente com o iraquiano, em novembro último.Na cidade renana em que vivia, Hasan C. mantinha uma agência de viagens em cujos fundos funcionava um centro de radicalização para jovens – entre os quais, os dois autores do atentado a bomba contra um templo sikh em Essen, em abril de 2016.Boban S., por sua vez, teria doutrinado radicais islâmicos numa mesquita em Dortmund. Segundo a mídia alemã, Anis Amri teria morado durante um período na casa do salafista.Em contrapartida, Abu Walaa não mantém boas relações com Pierre Vogel, considerado o salafista mais conhecido da Alemanha. Por diversas vezes, este condenou os atentados terroristas no Ocidente, o que lhe valeu ataques veementes por parte de simpatizantes do EI da Alemanha.Esse antagonismo resultou numa espécie de guerra no YouTube, com Vogel criticando explicitamente o EI em vídeo e insinuando que Abu Walaa simpatizaria com a organização terrorista. Em sua "resposta a Pierre Vogel", o salafista iraquiano acusava "alguns" de colaborar com os kuffar (infiéis), atraiçoando a umma (comunidade religiosa muçulmana).