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Opinião: A razão é capaz de vencer o terror

Clemens Bomsdorf

08/04/2017 14h08

Agora foi a vez da Suécia: numa rua da capital, um homem mata quatro pessoas com um caminhão. Mas continua sendo essencial manter a sensatez - para não dar a vitória ao terrorismo, opina o jornalista Clemens Bomsdorf."A Suécia foi atacada. Tudo aponta para um ato terrorista." As palavras do primeiro-ministro Stefan Löfven vieram rápidas e inequívocas. Antes mesmo de serem divulgadas informações sobre a identidade e motivação do suposto criminoso de Estocolmo, ele praticamente corroborava a tese de terrorismo.Algumas horas mais tarde, num comunicado detalhado, Löfven se mostrou mais cauteloso, apenas dizendo que a polícia investigava o atentado como "presumível terrorismo".Mais do que mera minúcia, tal distinção é essencial para o modo como uma sociedade aberta se protege de seus inimigos: se ela já capitula ao condenar prematuramente, alastrando assim o pânico, ou se primeiro procura conhecer os fatos antes de se pronunciar sentenças.Os circunlóquios de Löfven são sintomáticos de uma época marcada por terríveis atentados terroristas na Europa. Paris, Nice e Berlim são apenas os exemplos mais recentes que a maioria dos cidadãos guarda na memória. A vida nessas cidades continua exatamente como antes dos atos criminosos. Quem agora evita grandes eventos e locais públicos está simplesmente se curvando diante dos terroristas – é um argumento tão usual quanto coerente.Também na Suécia não vai mudar muita coisa por causa desse ataque. Na própria sexta-feira (07/04), ainda só se referindo ao "presumível terror", o premiê exortou que se preservem a liberdade e a democracia, e foi elogiado por suas palavras."O alvo do terror é minar a democracia, cravar uma cunha entre as pessoas para que cada vez mais comecem a se odiar e desconfiar umas das outras. Mas tais atos jamais terão sucesso na Suécia", afirmou Löfven.E no entanto já existe, sim, na Suécia, uma espécie de cunha separando os cidadãos. Pois, segundo sondagens recentes, 18% dos eleitores votariam no ultradireitista Democratas Suecos (SD). Desse modo, o partido com conexões na cena radical de direita está situado um pouco à frente dos liberais e bem atrás dos social-democratas de Löfven.O SD, que rejeita a sociedade aberta sueca, provavelmente se fortaleceu por que, durante décadas, deixou de abordar os problemas de integração no país em vez de encarar de frente o fato de que a integração bem-sucedida não é algo que cai do céu, mas sim exige empenho de ambos os lados.A zona de pedestres de Drottninggatan, no coração de Estocolmo, sobre a qual o caminhão avançou contra pedestres na sexta-feira, já foi duas vezes palco de delitos semelhantes na última década e meia.Em 2010, a apenas uns 100 metros da loja de departamentos contra a qual agora o veículo acabou por se chocar, um sueco natural do Iraque se explodiu. Felizmente ele foi o único a perder a vida no atentado de motivação islamista. Em 2003, um homem de 50 anos avançou de carro pelo centro histórico, ao sul da rua de comércio, matando dois transeuntes. O autor foi considerado mentalmente doente, mas sem motivações políticas ou religiosas.O terrorismo está longe de ser o único perigo a que estamos expostos. O chefe de governo Löfven participava de uma cerimônia em memória de três jovens vítimas de um acidente de ônibus, antes de ter que retornar a Estocolmo, devido ao atentado.Lidar de forma ponderada com o perigo terrorista significa também não superestimá-lo, e sim dar-lhe o devido peso, proporcional aos demais riscos. Os atos violentos que visam atacar a sociedade aberta alcançam seu alvo com tão mais sucesso, quanto mais se reaja com pânico a eles.Devemos também tomar essa lição da Suécia. O terrorismo na Europa é a mosca numa loja de porcelana, comparou o historiador israelense Yuval Noah Harari, em março, numa entrevista à revista alemã Der Spiegel. Em si, essa mosca não é capaz de causar qualquer dano – até que pousa na orelha de um elefante. Nós todos precisamos atentar para não nos transformarmos nesse elefante.