Opinião: Só a religião pode derrotar o terrorismo religioso
É hora de fiéis de todas as religiões se unirem em favor da compaixão, da caridade, da paz e da reconciliação e contra os radicais que abusam da fé em nome do terrorismo, afirma a jornalista Astrid Prange.Cristãos e muçulmanos de todos os países, uni-vos! Aliem-se contra o fanatismo religioso, contra pregadores radicais, jihadistas e terroristas! Resistam ao abuso religioso praticado por belicistas e falsos profetas, e protejam-se mutuamente da violência!Chegou o momento de um manifesto religioso que liberte as comunidades da fé de sua má reputação. Milhões de fiéis já fazem isso. Eles praticam a caridade e a compaixão, a paz e a reconciliação. Eles trabalham em prol dos direitos humanos e da proteção da criação divina – às vezes com a própria vida.Da religião, ninguém escapa. Segundo dados do Ministério alemão da Cooperação Econômica, em todo o mundo, oito em cada dez pessoas pertencem a uma comunidade religiosa. A busca por Deus, pelo sentido da vida e pela transcendência pertence à essência humana.É verdade que não é fácil lidar com a religião. Em tempos de ataques terroristas e homens-bomba, de abuso infantil e exorcistas, de budistas radicais que perseguem muçulmanos da etnia rohingya, da milícia Hisbolá e da brigada Hamas, do Boko Haram, do "Estado Islâmico" (EI) e da Al Qaeda – a religião aparece como promotora da guerra e não da paz.Não são os ateus ou os humanistas que podem impedir o radicalismo da fé, mas somente os próprios líderes religiosos. E isso já está acontecendo. De acordo com uma pesquisa do renomado Instituto para Paz e Estudos de Segurança (IPPS), de Addis Abeba, principalmente no Egito diversos movimentos islâmicos trabalham desde os anos 1990 numa revisão da doutrina da jihad.Entre eles está Nageh Ibrahim, um ex-jihadista bem conhecido no Egito. "O EI prejudicou mais o islã e os muçulmanos que o Ocidente" é a sua convicção. Segundo Ibrahim, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova York, e de 13 de novembro de 2015, em Paris, envolveram os muçulmanos numa luta contra o Ocidente que eles não desejavam.Organizações terroristas como EI e Al Qaeda se fortaleceram somente após as intervenções do Ocidente. Pois, no passado, os talibãs receberam apoio americano na luta contra as tropas de ocupação soviéticas no Afeganistão. E o "Estado Islâmico" emergiu das forças iraquianas derrotadas após a queda de Saddam Hussein, em 2003, provocada por tropas dos Estados Unidos.O terrorismo religioso ameaça a todos os fiéis, não importa de qual religião. Mas quando esses fiéis se unem, o terror se esvazia. Após os recentes ataques a igrejas coptas no Egito, muitas comunidades muçulmanas em Tanta e Alexandria convocaram seu membros para doar sangue para as vítimas.Também na Nigéria, onde o Boko Haram bombardeia igrejas e mesquitas e rapta meninas nas escolas, cristãos e muçulmanos estão mais próximos. O diálogo religioso é guiado pelo arcebispo Ignatius Kaigama, presidente da Conferência dos Bispos da Nigéria, e o emir de Kanam, Muhammadu Mohammed Muazu.Chegou o momento, então, de diferenciar e buscar valores comuns. Pois por trás de conflitos de cunho religioso se escondem, na maioria dos casos, meras lutas políticas de poder e falta de perspectiva econômica.Somente o diálogo religioso pode conter o terrorismo e promover a paz. Que isso não é apenas um sonho se evidencia nas muitas iniciativas que já realizam essa tarefa num trabalho meticuloso e longe da atenção da mídia.Na Páscoa, a festa da Ressurreição de Cristo e da vida eterna, por que não pensamos nos muitos que trabalham pela paz e que tiram a sua força da fé? Dedico minha admiração a pessoas como o bispo Kaigama e o emir de Kanam, a Nelson Mandela ou Malala Yousafzai. Eles mostraram que a humanidade pode vencer a morte e o terrorismo – com a ajuda da religião, e não contra ela.
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