A guerra esquecida do Iêmen, um país à beira de catástrofe humanitária no Oriente Médio
País se encontra à beira de uma catástrofe humanitária. A situação da população piora a cada dia, desde o início do conflito, há dois anos. Origens das hostilidades ajudam a entender por que paz ainda parece distante.
A história recente do Iêmen é de divisão e derramamento de sangue. Até o início da década de 1960, o país era governado por uma monarquia no norte e pelos britânicos no sul. Uma série de golpes em ambas as regiões mergulhou o país em décadas de violência, culminando na reunificação, em 1990.
O país é um dos mais pobres da região. Em 2015, estava na posição 168 do ranking de 188 países no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa da ONU, que mede expectativa de vida, educação e padrão de vida.
Antes da guerra, projeções diziam que a população do Iêmen, de mais de 20 milhões de pessoas, dobraria até 2035. Mais de 18 milhões de pessoas necessitam de ajuda humanitária no país. Muitos não têm acesso a infraestruturas sanitárias e água potável.
Quando a guerra começou?
A guerra no Iêmen tem suas origens na Primavera Árabe, em 2011. Manifestações por democracia invadiram as ruas, tentando forçar o presidente Ali Abdullah Saleh a dar fim a seus 33 anos de poder. O alto desemprego e a insatisfação com a família Saleh serviram de combustível para as revoltas. O presidente respondeu com concessões econômicas, mas se recusou a renunciar.
Em março, as tensões nas ruas da capital, Sana, aumentaram, polícia e militares começaram a agir com cada vez mais dureza, e protestos acabaram em derramamento de sangue. Segundo a oposição, mais de 860 pessoas morreram. Em novembro de 2011, Saleh concordou em deixar o poder.
Graças a um acordo negociado internacionalmente, o Iêmen teve uma transferência de poder em novembro. O vice-presidente, Abd Rabbuh Mansur al-Hadi, assumiu o governo, preparando o caminho para as eleições de fevereiro – em que ele era o único candidato. As tentativas de Hadi de aprovar reformas constitucionais e orçamentais provocaram revolta dos rebeldes houthis no norte.
Em setembro de 2014, depois de anos de caos e violência, insurgentes houthis tomaram a capital, forçando Hadi a mudar seu governo para a cidade portuária de Aden, no sul do país.
Quem luta contra quem?
Várias facções estão envolvidas na guerra do Iêmen. Mas, pode-se dizer, o conflito se divide em duas categorias principais: as forças pró-governo lideradas pelo presidente Hadi e as forças antigovernamentais dos houthis.
Os houthis são provenientes do norte do Iêmen e pertencem a um pequeno ramo de muçulmanos xiitas, conhecidos como zaiditas. Em meados de 2015, os insurgentes já tinham tomando grande parte do sul do país. Atualmente, eles mantêm o controle sobre as principais províncias centrais do norte. O governo de Hadi acusou o Irã de fornecer a eles armas militares, acusações rejeitadas por Teerã.
O governo do presidente Hadi é sediado em Aden, sendo o governo internacionalmente reconhecido do Iêmen. Em março de 2015, Hadi, entretanto, se exilou na capital saudita, Riad, pressionado pelo avanço territorial dos houthis.
Nos últimos meses, fissuras surgiram no governo exilado de Hadi. Na briga de poder, Hadi demitiu seu conselheiro de segurança Aidarous al-Zubaidi e seu ministro Hani Bin Braik.
Quem forma a coalizão liderada pela Arábia Saudita?
Em março de 2015, a Arábia Saudita lançou uma operação militar apoiada por uma coalizão internacional, em uma tentativa para recolocar Hadi no poder.
Juntamente com a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos realizaram ataques aéreos em solo iemenita. Kuwait, Bahrein, Catar, Marrocos, Sudão, Jordânia e Egito também contribuíram para as operações.
Estados Unidos e Reino Unido forneceram suporte logístico e inteligência à coalizão liderada pelos sauditas. O conflito é complicado ainda mais pelas tensões entre Arábia Saudita e Irã, que apoia os rebeldes houthi.
Qual é o estágio da crise humanitária?
Na "guerra esquecida" do Iêmen, a população civil é quem mais sai perdendo. De acordo com as Nações Unidas, o número de mortos superou 10 mil no início de 2017, com pelo menos 40 mil feridos.
Os ataques aéreos da coalizão e um bloqueio naval impostos pelas forças da coalizão empurraram o Iêmen – onde mais de 80% dos alimentos são importados – para uma situação de fome.
O Iêmen também foi afetado por um surto de cólera, considerado o pior do mundo pela ONU. Cerca de 400 mil pessoas contraíram a doença desde abril e 1.900 morreram. As Nações Unidas alertam para esta pode ser a pior crise de fome "que o mundo vive em décadas". Por isso, o Conselho de Segurança da ONU apelou para que a aliança liderada pela Arábia Saudita dê fim ao bloqueio de portos e aeroportos.
A falta de suprimentos médicos também preocupa. A ONG Médicos sem Fronteiras suspendeu seu auxílio após dois anos de atuação, a aliança não deixa aviões pousarem no Iêmen. As reservas no banco nacional de sangue do Iêmen estão no final. A ONU e Médicos sem Fronteiras pedem o fim do bloqueio ao Iêmen.
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