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Chapecoense renasce, um ano após a tragédia

Philip Verminnen

28/11/2017 09h00

Do luto ao recomeço: em 12 meses, clube remonta equipe, solta o grito de campeão e chega a liderar o Brasileirão. Em ano de tributos, Chapecoense tem (re)encontro com Atlético Nacional e volta de Alan Ruschel aos campos.O maior acidente da história da aviação envolvendo uma equipe esportiva completa um ano nesta terça-feira (28/11). Na noite de 28 de novembro de 2016, o voo 2933 da LaMia que levava a delegação da Associação Chapecoense de Futebol para sua primeira final internacional caiu nas montanhas de Antioquia, próximo à cidade colombiana de Medellín. O clube brasileiro enfrentaria o Atlético Nacional pelo jogo de ida da decisão da Copa Sul-Americana.

A tragédia causou a morte de 71 ocupantes: 19 jogadores, 14 da comissão técnica (incluindo o treinador Caio Júnior), 20 jornalistas, nove dirigentes (entre eles o presidente do clube Sandro Pallaoro), dois convidados e sete tripulantes. Seis sobreviveram: os atletas Alan Ruschel, Neto e Jackson Follmann, o jornalista Rafael Heinze, a comissária Ximena Suárez e o técnico de voo Erwin Tumiri.

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Do luto às homenagens: a ascensão meteórica da Chapecoense, que em 2009 ainda disputava a Série D do Campeonato Brasileiro, foi interrompida no monte Cerro el Gordo, posteriormente renomeado Cerro Chapecoense.

Da solidariedade ao aplauso aos eternos campeões: a pedido do próprio Atlético Nacional, a Conmebol declarou a Chapecoense campeã da Copa Sul-Americana de 2016.

Das lágrimas à reconstrução de um clube modelo em gestão esportiva no Brasil: o índio Condá renasce como a Fênix.

Após todas as manifestações de carinho e auxílio ao clube, a Chapecoense teve de se reinventar. Ao todo, foram quase 30 jogadores contratados para a remontagem do elenco, quase todos emprestados gratuitamente por outros clubes. E superou todas as expectativas: soltou o grito de campeão no estadual, chegou a liderar o Brasileirão, fez bonito da Copa Libertadores e garantiu a permanência na Série A. Foram 12 meses de muito sucesso no campo esportivo.



"É campeão!"

Em 7 de maio, pouco mais de cinco meses após a tragédia, o remodelado time da Chapecoense conquistou pela sexta vez o título do Campeonato Catarinense, o primeiro bicampeonato estadual da história do clube. A Chapecoense, que terminou a competição com o maior número de pontos, o melhor ataque e a melhor defesa, conquistou a taça justamente em cima de seu arquirrival Avaí, da capital Florianópolis.

Além do Campeonato Catarinense, o clube participou de outras sete competições em 2017:

- Primeira Liga: eliminada na fase de grupos.

- Copa do Brasil: eliminada nas oitavas de final (0x1 e 0x0 contra o Cruzeiro).

- Recopa Sul-Americana: vice-campeã.

- Copa Suruga Bank (confronto entre os campeões da Copa Sul-Americana e da Copa da Liga Japonesa): vice-campeã, após derrota por 1 a 0 frente ao Urawa Red Diamonds.

- Copa Libertadores: eliminada na fase de grupos por escalação irregular de um jogador.

- Copa Sul-Americana: eliminada nas oitavas de final (0x0 e 4x0 contra o Flamengo).

- Campeonato Brasileiro: 9ª colocação, faltando uma rodada para o fim da temporada.



Seis meses depois, enfim em Medellín

Para a Recopa Sul-Americana, o destino reservou o encontro de uma nova Chapecoense justamente com o Atlético Nacional, campeão da Copa Libertadores de 2016. No jogo de ida, em 4 de abril, na Arena Condá, a Chape conseguiu uma vitória por 2 a 1. E em 10 de maio, quase seis meses após a tragédia, a Chapecoense enfim chegou ao Estádio Atanasio Girardot – mesmo palco onde deveria ter jogado a final da Copa Sul-Americana em 30 de novembro de 2016.

A viagem à Colômbia foi marcada por homenagens, visita ao local do acidente e o reencontro dos sobreviventes com socorristas e equipes médicas que salvaram suas vidas. No estádio, uma cerimônia em memória aos mortos contou com a presença de Ruschel, Neto, Follmann e Heinze em campo, pombos brancos, discursos de autoridades e gritos de "Vamos, vamos, Chape" da torcida colombiana. Com a derrota por 4 a 1, restou um honroso vice-campeonato internacional ao clube brasileiro.

Em sua primeira participação na Copa Libertadores, a Chapecoense conseguiu o que seria uma classificação histórica às oitavas de final – ao menos no gramado. No entanto, um erro da diretoria custou a vaga. O zagueiro Luiz Otávio, autor de um dos gols na vitória por 2 a 1, fora de casa, contra o Lanús, atuou de forma irregular. A Chapecoense perdeu os três pontos e foi eliminada. Curiosamente, o Lanús chegou à final da competição, perdendo a primeira partida para o Grêmio.



Mas a experiência de participar da principal competição de clubes da América do Sul pode se repetir já no próximo ano. Apesar de uma campanha bastante turbulenta e com três trocas de técnicos – iniciou a temporada com Vagner Mancini, depois veio Vinícius Eutrópio e agora Gilson Kleina –, a Chapecoense tem chances reais de conquistar uma vaga para a próxima Copa Libertadores.

Liderança e salvação no Brasileirão

A Chapecoense chegou a liderar o Campeonato Brasileiro por duas rodadas (3ª e 4ª), no fim de maio e começo de junho. Mas a equipe, que tem em Reinaldo (lateral-esquerdo), Wellington Paulista (atacante), Jandrei (goleiro e única contratação que custou dinheiro na temporada), Apodi (meia) e Arthur (volante) seus principais destaques, não conseguiu manter o nível e despencou na tabela: a partir da 11ª rodada a Chapecoense já estava na parte de baixo da classificação, flertando com a zona do rebaixamento. Em três rodadas (20ª, 22ª e 23ª) inclusive esteve na zona da degola.

Com a permanência garantida na Série A, a Chapecoense mira agora a classificação para a Copa Libertadores de 2018. Para tal, precisa vencer o Coritiba na última rodada e contar com uma combinação de resultados ou com os sucessos de Grêmio e Flamengo nas finais de Libertadores e Sul-Americana, respectivamente, tornando o G7 num G9. De quebra, a Chapecoense pode ver seu arquirrival Avaí cair para a Série B – em 2015 ainda eram quatro clubes catarinenses na Série A.

O retorno de Ruschel

Além das competições oficiais, a Chapecoense realizou partidas amistosas contra Roma (4x1 para o clube italiano), com direito a um encontro oficial com o papa Francisco, e contra o Lyon (5x0 para os franceses). Em agosto, a Chapecoense foi convidada a participar do Troféu Joan Gamper, organizado pelo Barcelona. O jogo marcou o retorno de Ruschel aos gramados, pouco mais de oito meses após sobreviver a queda do avião. O clube catalão venceu por 5 a 0.

O lateral-esquerdo Ruschel viria a atuar em outras partidas, mas em nenhuma por 90 minutos. Seu primeiro jogo oficial após o acidente foi o empate por 0 a 0 com o Flamengo, em 13 de setembro, na Copa Sul-Americana. Ruschel é o único que voltou a jogar. O zagueiro Neto está treinando, mas ainda precisa superar limitações físicas para atuar. Espera-se que ele possa retornar em 2018.



"Eu tinha muita dúvida se ia voltar a andar. Eu acordei na Colômbia de fralda, com 20 quilos a menos, todo arrebentado, então eu achava que tinha acontecido alguma coisa grave. Eu tive que reaprender a tomar água, no começo usava canudo", contou Neto numa entrevista ao programa Bem, Amigos!, do Sportv, em 20 de novembro.

Follmann sofreu 13 fraturas e teve parte da perna direita amputada. No entanto, o ex-goleiro segue ligado à Chapecoense, exercendo a função de seu embaixador. Ele acompanha os treinamentos e está constantemente presente nas dependências do clube, além de se dedicar à natação. "Sempre coloco na minha cabeça que me aposentei mais cedo. Isso me faz bem. Tenho a cabeça muito boa, com pensamentos positivos", disse à RICTV Chapecó.

De clube completamente desmantelado a único clube catarinense na Série A do Brasileirão e com reais chances de participar de outro torneio internacional em 2018. "A reconstrução do clube foi impressionante, sem dúvida. Por tudo o que fizemos, foi, de fato, impressionante. Jogadores, membros da comissão técnica, dirigentes e torcedores, todos fizeram com que a Chapecoense se reerguesse de forma fantástica. Atingimos os nossos objetivos e tivemos êxitos consideráveis nas competições", elogia Ruschel.

O espírito do Índio Condá segue forte e, agora com o apoio dos eternos guerreiros, mais vivo do que nunca.

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