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Opinião: Comércio de escravos na Líbia expõe tragédia de refugiados africanos

Migrantes africanos chegam na base naval de Trípoli, na Líbia - Ahmed Jadallah/Reuters
Migrantes africanos chegam na base naval de Trípoli, na Líbia Imagem: Ahmed Jadallah/Reuters

Fred Muvunyi

29/11/2017 15h34

Para pôr fim a tratamentos desumanos, é necessário combater o racismo e as ideologias que reduzem pessoas a objetos. Todos nós somos seres humanos que carregam consigo a imagem divina, afirma jornalista Fred Muvunyi.

"Não estamos falando de animais nem de mercadorias, mas de homens, mulheres e crianças, de africanos a caminho da Europa, em busca de uma vida melhor. Em vez de alcançá-la, eles estão presos na Líbia, onde são transformados em escravos.

É difícil de acreditar, mas eles de fato estão sendo postos à venda, e os compradores estão lá, dispostos a pagar qualquer preço. Alguns custam apenas 400 dólares [cerca de R$ 1.300]. Estatura e idade determinam quanto se pode pedir.

Aparentemente, como visto num vídeo da CNN, homens jovens, oferecidos a um preço acessível, atraem logo compradores. Pode-se ouvir os leiloeiros apregoando um grupo de migrantes da África Ocidental, anunciando-os como meninos fortes, adequados para o trabalho no campo. Jamais imaginei que o comércio de escravos, que floresceu entre os séculos 16 e 19, retornaria no século 21. Grupos de direitos humanos e governos silenciam diante desse crime contra a humanidade.

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Esses jovens, agora escravos, não merecem isso. A maioria veio do Níger, de Gana e da Nigéria em busca de campos mais verdes. Eles têm que seguir uma perigosa rota para a Europa, com a esperança de que, se cruzarem o Mediterrâneo, haverá uma vida melhor do outro lado do que em casa.

2.ago.2017 - Refugiados são resgatados em barco mantidos por ONGs como Médicos Sem Fronteira no Mediterrâneo - Angelos Tzortzinis/AFP - Angelos Tzortzinis/AFP
2.ago.2017 - Refugiados são resgatados em barco mantidos por ONGs como Médicos Sem Fronteira no Mediterrâneo
Imagem: Angelos Tzortzinis/AFP

A Nigéria, maior economia da África, ocupa o 13º lugar na lista dos maiores produtores mundiais de petróleo, com 2 milhões de barris por dia. Embora sua produção seja menor, o Níger está em condições de cuidar dos seus cidadãos. Gana, outro país com petróleo, foi declarado em 1° de julho de 2011 um Estado de renda média baixa.

Esses três países ainda não tomaram nenhuma medida drástica para impedir que seus cidadãos sejam vendidos em mercados de escravos. Eles ainda não anunciaram nenhum plano para repatriar seus migrantes mantidos em cativeiro na Líbia.

Já Ruanda, um país pequeno – aproximadamente do tamanho da Macedônia – e com uma população de pouco mais de 12 milhões de habitantes, comprometeu-se a acolher 30 mil migrantes africanos da Líbia. Ao oferecer assistência e abrigo, Ruanda deveria deixar envergonhados outros Estados africanos e a Europa, que têm muito dinheiro, mas pouca empatia.

Protesto em Estocolmo contra venda de migrantes africanos - Claudio Bresciani/AFP Photo - Claudio Bresciani/AFP Photo
Protesto em Estocolmo contra venda de migrantes africanos
Imagem: Claudio Bresciani/AFP Photo


Em 2015, a União Europeia criou um fundo para pagar pelo controle de fronteiras na Líbia, com o objetivo de evitar que africanos deixem seus países de origem. Como resultado da operação Sophia, o número de migrantes partindo para a Europa caiu drasticamente, em 20%.

As medidas implementadas pela União Europeia estão impedindo os africanos de atravessar a parte central do Mediterrâneo em direção à Itália, e agora vemos que aqueles retidos na Líbia acabam na escravidão.

Para pôr fim a esse tratamento desumano, devemos todos combater todas as ideologias que reduzem os seres humanos a meros objetos. O tráfico de escravos é um crime contra a humanidade que deve ser condenado com a maior veemência.

Todos nós somos seres humanos que carregam consigo a imagem divina. Nós também devemos reconhecer e agir contra todas as formas de racismo que reduzem a humanidade a uma mercadoria."