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Eleição presidencial deve influenciar desempenho do PIB em 2018

Fernando Caulyt

04/01/2018 12h08

Empresários e investidores vão esperar comprometimento de candidatos com atual agenda de reformas do governo. Desocupação deve continuar alta, e trabalhos precários vão predominar na geração de empregos.Após dois anos de recessão, o ano passado marcou o início, mesmo que muito lentamente, da retomada do crescimento pela economia brasileira. O Ministério da Fazenda estima que o Produto Interno Bruto (PIB) terá uma alta de 1,1% em 2017 e de 3% em 2018 – percentuais que podem ser considerados "pibinhos" em comparação, por exemplo, à alta de 7,5% registrada em 2010.

Mas a eleição presidencial poderá pôr em risco o crescimento projetado pelo governo federal. Isso porque, aos olhos de investidores e credores do governo, alguns candidatos podem não estar comprometimentos com as reformas e o ajuste fiscal promovidos pelo governo, e essa incerteza política pode levar a uma queda nos investimentos, por exemplo em máquinas e instalações produtivas, que, se realizados, poderiam dar um impulso maior ao PIB.

"Essa alta de 3% no PIB é num quadro em que as coisas evoluam de acordo com a vontade do mercado financeiro: a agenda de reformas continua acontecendo, e o desempenho econômico positivo consegue alavancar um candidato reformista para disputar a eleição", afirma Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon). "Esse seria o melhor dos mundos na visão do mercado. Aí os investimentos tendem a ser destravados."

Caso um candidato que não defenda as reformas tenha chance de vencer o pleito, o cenário muda, pois os empresários pisarão no freio diante da possibilidade das agendas reformista e pró-ajuste fiscal não se confirmar, afirma Miragaya. E, se isso ocorrer, os juros poderiam subir, já que os credores cobrariam mais para emprestar e os investidores retirariam dólares do país, fazendo com que o real se desvalorizasse. Um dos efeitos, por exemplo, seria a alta da inflação, a consequente queda no consumo e o desaquecimento da economia.

"O mercado tem seus candidatos de preferência e cobra do governo um ajuste fiscal que seja feito em defesa de seus interesses, mesmo que o ônus disso seja repassado para a população em geral", opina Miragaya. "Porém, as pessoas não votam de olho nas bolsas de valores, mas consideram o desempenho da economia pelos seus efeitos em relação à qualidade de suas vidas e preços de alimentos."

Confiança dos empresários em alta

Já a economista Virene Matesco, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), sublinha que as reformas – sobretudo a da Previdência, para equilibrar as contas públicas – são necessárias, pois geram um impacto de médio e longo prazos. Para ela, em curto prazo, o que muda é o aumento da confiança dos empresários de que alguma coisa está sendo feita pelo governo federal para planejar um futuro distante.

Segundo a FGV, a confiança dos empresários na economia do país terminou o ano de 2017 em alta. Em dezembro, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) alcançou 93,1 pontos numa escala que vai de zero a 200 – sexto mês seguido de crescimento e maior nível desde abril de 2014.

"A confiança é um dos elementos mais importantes para a realização de investimentos que gerem um crescimento mais sustentável e robusto, e não o chamado 'voo da galinha'", diz Matesco. "Como um país emergente, o Brasil deveria ter um nível de investimentos acima de 22% do PIB."

Em 2016, a participação dos investimentos alcançou 16,4% do PIB em 2016 – o menor patamar da série iniciada em 1996, após três anos seguidos de queda. Esse nível deverá ficar em torno de 16% também em 2017 e há a expectativa de que ele cresça 6% em 2018.

"Esse aumento está atrelado às reformas, porque elas geram confiança no setor empresarial", explica Matesco. "Precisamos de candidatos que tenham compromissos muito claros para levar o país de volta à responsabilidade fiscal, social e na gestão da coisa pública e que, principalmente, não misturem interesses públicos com privados."

Desemprego deve continuar alto

No trimestre encerrado em novembro de 2017, o desemprego no país alcançou 12% – uma queda de 0,6 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, quando a taxa fechou em 12,6%.

O aumento da ocupação, porém, se deu por meio de empregos sem carteira assinada e de trabalho por conta própria – quer dizer, a geração de empregos ocorreu por meio dos chamados trabalhos precários. Atualmente, o país tem 12,6 milhões de desempregados – exatamente o dobro em comparação a novembro de 2014.

Mas, apesar de o número de desempregados estar em queda e da previsão de crescimento do PIB de 3%, o desemprego deverá se manter em torno de 12% em 2018. Entre os motivos estão que o mercado de trabalho reage por último aos movimentos de baixa e alta da economia e, ainda, que muitas pessoas que haviam desistido de procurar emprego devido à crise econômica – e que haviam saído das estatísticas sobre desempregados – voltarão a buscá-lo, gerando um impacto sobre o índice de desocupação.

"O desemprego neste ano ainda será alto porque o empresário somente irá contratar mais trabalhadores quando os cenários econômicos se tornarem mais claros", explica Matesco, da FGV. "O custo de contratação é muito alto. Como há uma ociosidade muito grande, de 20% a 25%, os empresários tentarão crescer neste primeiro momento sem contratar e usando horas extras, por exemplo."

Para Miragaya, do Cofecon, a reforma trabalhista – que entrou em vigor em novembro e que, entre outras ações, flexibilizou as regras de contratação – causará um grande impacto nas receitas da Previdência. "Mudou o modelo e, em vez de as empresas contratarem trabalhadores com carteira assinada, elas vão admitir novos funcionários como pessoas jurídicas. Daqui para frente, o emprego gerado será o chamado trabalho precário, o que é uma tragédia do ponto de vista econômico e social", afirma.