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Alemães vestem quipá em protestos contra antissemitismo

Fabrizio Bensch/Reuters
Imagem: Fabrizio Bensch/Reuters

25/04/2018 17h11

Milhares de pessoas vestindo o quipá – chapéu característico dos judeus – saíram às ruas em várias cidades da Alemanha nesta quarta (25) para protestos em apoio à comunidade judaica, em meio a preocupações com o crescimento do antissemitismo no país europeu.

Manifestantes se reuniram para a chamada "marcha do quipá" em cidades como Berlim, Colônia, Erfurt, Magdeburg e Potsdam. Na capital alemã, quase 2.500 pessoas de várias religiões se reuniram nas proximidades do Centro Comunitário Judeu, no distrito de Charlottenburg, segundo a polícia.

"Basta!", clamou Josef Schuster, principal líder da comunidade judaica na Alemanha, em discurso durante o protesto em Berlim. "Ficamos muito confortáveis na Alemanha. Um pouco de antissemitismo, um pouco de racismo, um pouco de hostilidade islâmica – isso tudo não é ruim? Sim, é ruim", afirmou Schuster. "É por isso que eu exijo 100% de respeito."

Outro discurso muito aplaudido pelos manifestantes foi o do prefeito de Berlim, Michael Müller, que declarou: "Hoje, todos nós vestimos quipás. Hoje, o quipá é símbolo de uma Berlim como queremos e na qual todos gostamos de viver."

Reinhard Borgmann, um judeu de 65 anos que perdeu vários tios-avós durante o Holocausto e cuja mãe só sobreviveu porque conseguiu se esconder dos nazistas, disse estar muito feliz com a elevada participação nos protestos, inclusive de cristãos, muçulmanos e ateus.

"Como judeus, queremos poder nos movimentar livremente, seja com quipá ou sem", afirmou o manifestante. "Queremos poder praticar nossa religião em paz, sem sermos discriminados por isso e sem vivermos com medo. O evento de hoje é um sinal – e um sinal importante."

As manifestações desta quarta-feira foram convocadas após um ataque contra dois jovens usando o quipá, ocorrido na semana passada na capital do país. As vítimas, um israelense de 21 anos e um alemão de 24, caminhavam à luz do dia no bairro de Prenzlauer Berg quando três homens se aproximaram e gritaram palavras em árabe. Um deles tirou o cinto e o utilizou para agredir o mais jovem deles, que filmou o incidente em seu telefone celular.

O ataque, que tem como principal suspeito um requerente de asilo sírio de 19 anos, provocou indignação na Alemanha e foi condenado pela chanceler federal Angela Merkel.

Esse foi o mais recente de uma série de incidentes antissemitas que têm levado judeus a se preocuparem com sua segurança na Alemanha – um país que, mais de 70 anos depois do Holocausto, ainda tenta se desvencilhar de seu passado nazista, responsável pela morte de 6 milhões de judeus.

Segundo autoridades alemãs, 1.453 incidentes antissemitas foram registrados em 2017 em toda a Alemanha, o equivalente a quase quatro ataques por dia. Os números não foram muito diferentes em anos anteriores: em 2016, foram 1.469 incidentes e, em 2015, 1.366.

O ódio aos judeus esteve no centro de outra polêmica nesta quarta-feira, quando a indústria musical do país decidiu cancelar sua maior premiação, o Echo, depois que a cerimônia deste ano ficou manchada com a controversa premiação de um disco repleto de letras de teor antissemita.

Os rappers Kollegah e Farid Bang ganharam o prêmio de melhor álbum de hip-hop e música urbana nacional com o álbum Jung Brutal Gutaussehend 3. O disco inclui a música 0815, na qual há o seguinte trecho: "Meus músculos são mais definidos do que os de um preso de Auschwitz". A premiação gerou indignação e protestos no país.

Estima-se que cerca de 200 mil judeus vivam na Alemanha atualmente, a maioria imigrantes da antiga União Soviética – um número muito menor do que os 500 mil que residiam no país antes do Holocausto.