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Alemanha à espera do impacto das tarifas de Trump

26/04/2018 13h34

Merkel viaja aos EUA com o tema comércio na bagagem. Mas em Berlim há pouca razão para otimismo: para os alemães, a nova taxação americana a produtos europeus é iminente. Uma batalha comercial se anuncia.A Alemanha aguarda já para o dia primeiro de maio o impacto em toda a União Europeia (UE) do fim da isenção concedida pelos Estados Unidos às tarifas alfandegárias sobre importações de produtos de aço e alumínio europeus.

Comércio deverá ser um dos principais temas da visita da chanceler federal alemã, Angela Merkel, a Washington nesta sexta-feira (27/04). A isenção tarifária à UE expira em primeiro de maio, e as novas tarifas podem atingir com força, por exemplo, o setor automotivo alemão.

"A partir da perspectiva de hoje, devemos esperar que as tarifas entrem em efeito no dia 1º de maio", disseram autoridades do governo alemão que não quiseram se identificar, citadas pela agência de notícias Reuters.

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No mês passado, Trump anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre produtos de aço e de 10% sobre os de alumínio provenientes da UE, decisão que, no momento, marca o principal ponto de atrito com a Alemanha, maior economia europeia, no campo econômico. Aos europeus foi dado um período de exceção, que expira neste primeiro de maio.

O motivo alegado por Trump para as novas tarifas é o descompasso na balança comercial, que atualmente pende em mais de 50 bilhões de euros anuais para o lado alemão. Berlim argumenta que, em contrapartida, empresas alemãs geram 837 mil empregos nos EUA.

Antes da viagem de Merkel, fontes afirmaram que a Alemanha continuará a negociar para chegar a um acordo sobre um novo pacote de isenções, que atingiria um amplo número de empresas.

"Queremos negociar as tarifas industriais como um todo", disse uma das autoridades, ressaltando que "há certas diferenças entre os países da Europa".

A União Europeia e outros países ameaçaram retaliar os Estados Unidos caso as tarifas sejam de fato aplicadas, impondo taxas sobre uma série de mercadorias americanas.

A UE já manifestou também que não fará concessões comerciais nem de outro tipo para conseguir uma isenção e advertiu que, se as tarifas forem adiante, está pronta para responder em menos de 90 dias com suas próprias tarifas e salvaguardas, além de um recurso na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Calcula-se que o impacto das tarifas será de 2,8 bilhões de euros para os exportadores europeus, uma quantia que Bruxelas utiliza para calcular o impacto de sua resposta.

Sem espaço em Washington

A visita de Merkel ao presidente americano, Donald Trump, ocorrerá logo em seguida à viagem do presidente da França, Emmanuel Macron, a Washington. A chanceler levará à Casa Branca a mesma mensagem de seu colega francês: os EUA e a Europa precisam entrar em acordo em diversos temas, desde o comércio global e o acordo nuclear com o Irã até questões de segurança internacional.

Mas as circunstâncias das viagens de Macron e Merkel a Washington são diferentes. O francês foi recebido com todas as pompas para uma visita de Estado de três dias, enquanto a chanceler deverá ter uma conversa particular de apenas 20 minutos com o presidente americano, seguida de um almoço de trabalho.

Ao contrário das demonstrações públicas de afeto entre Trump e Macron, os encontros anteriores entre os líderes da Alemanha e EUA sugerem que esta não deverá ser uma ocasião de grandes gestos de afeição perante as câmeras.

Merkel não teria muito a ganhar em seu país ao se mostrar excessivamente amigável com Trump. Desde a eleição do bilionário à Casa Branca, crescem na Alemanha os sentimentos de antipatia ao governo americano, que a imprensa local costuma tratar como uma ameaça à estabilidade mundial.

Merkel respondeu à política de "EUA em primeiro lugar" de Trump com a frase: "Nós, na Europa, temos que tomar nosso destino em nossas próprias mãos". Entretanto, ela tem a consciência de que precisa ganhar a simpatia do presidente americano para evitar uma deterioração ainda maior das relações bilaterais.

"Acho que a chanceler prefere um diálogo amplo com os americanos. O governo está aberto a estender o pacote para outras taxas e barreiras comerciais", disse uma das autoridades do governo alemão. "Se obteremos êxito nisso, não sabemos. Para que isso aconteça, precisaríamos em primeiro lugar que as isenções sejam aplicadas para um longo prazo."

Além do prazo final da isenção das tarifas, outra data-limite se impõe no horizonte dos líderes europeus: Trump exigiu que os parceiros da Europa corrijam o que considera "defeitos" do acordo nuclear com o Irãaté o dia 12 de maio, ameaçando deixar o tratado caso isso não aconteça.

A Alemanha não deve aceitar uma remodelação completa do acordo, mas poderá considerar que alguns pontos sejam acrescentados. O acordo assinado em 2015 pelo Irã e os países do grupo P5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China, mais Alemanha) prevê um maior controle sobre o programa nuclear iraniano em troca do alívio das sanções internacionais ao país.

Trump ameaçou cancelar o relaxamento das sanções americanas ao Irã a partir do próximo mês, caso os parceiros europeus não "consertem os problemas" do texto original do acordo.

Em Washington, Macron pediu a permanência dos EUA no acordo nuclear e afirmou que França, Alemanha e Reino Unido preparam um pacote de medidas para convencer Trump a não abandonar o tratado, que o americano considerou como o "pior pacto de todos os tempos".

RC/rtr/ap

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