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Irã lista condições à Europa para ficar no acordo nuclear

23/05/2018 21h07

Líder supremo afirma que Teerã pode retomar atividades nucleares se Alemanha, França e Reino Unido não cumprirem demandas. Em Washington, ministro alemão diz estar longe de um consenso com os EUA sobre a questão.O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, apresentou nesta quarta-feira (23/05) aos três países europeus signatários do acordo nuclear iraniano – Alemanha, França e Reino Unido – uma série de condições para que Teerã permaneça no pacto mesmo com a saída dos Estados Unidos.

O anúncio vem em meio a uma ofensiva europeia para salvar o acordo internacional firmado em 2015 entre os cinco países, além de China e Rússia, e no mesmo dia em que o ministro do Exterior alemão, Heiko Maas, esteve em Washington discutindo a questão com autoridades americanas.

Em discurso reproduzido em sua página oficial na internet, Khamenei afirmou que os EUA violaram o acordo nuclear diversas vezes nos últimos dois anos e, mesmo assim, os líderes europeus permaneceram calados. "A Europa precisa agora compensar esse silêncio", declarou.

Segundo o líder supremo, Teerã não possui "conflitos em relação aos três países", mas ainda assim "não confia neles, levando em conta experiências anteriores". "Não queremos brigar com a Europa, mas esses três países provaram que, nas questões mais sensíveis, seguem os EUA."

O aiatolá ainda ameaçou retomar as atividades nucleares do país "se os europeus se atrasarem em cumprir as demandas". "Se observarmos que o acordo nuclear foi inútil, um caminho a seguir é reiniciar as atividades que estão paralisadas", disse ele.

Entre as demandas do governo iraniano à Europa estão confrontar qualquer sanção internacional contra Teerã, incluindo as impostas pelos Estados Unidos, e garantir que os bancos europeus mantenham as transações comerciais com a República Islâmica.

O Irã exige ainda que os países europeus não tentem negociar o programa de mísseis balísticos iraniano, bem como interferir em assuntos regionais do país. Além disso, a Europa precisa garantir que o petróleo iraniano seja totalmente vendido.

"Se os EUA podem prejudicar a venda do nosso petróleo, nós devemos ser capazes de vender a quantidade de petróleo que quisermos. Os europeus devem garantir que vão compensar essa perda e comprar o petróleo do Irã", afirmou Khamenei.

Em seu discurso, o líder supremo lançou uma série de críticas a Washington, afirmando que, "desde o primeiro dia da Revolução Islâmica, os Estados Unidos vêm aplicando todos os tipos de inimizades para atingir" o Irã.

"O governo da República Islâmica não pode interagir com os Estados Unidos. Por quê? Porque os Estados Unidos não estão comprometidos com suas promessas", acrescentou.

As declarações do aiatolá ocorrem dois dias depois de Washington ter prometido "as piores sanções da história" contra Teerã caso o país não cumpra, por sua vez, uma lista de 12 demandas americanas, que incluem conter seu programa nuclear e suas atividades em países do Oriente Médio.

Ministro alemão em Washington

Na tentativa de aliviar a crise entre o Irã, os EUA e a Europa acerca do acordo nuclear, o ministro do Exterior alemão, Heiko Maas, se reuniu com autoridades americanas nesta quarta-feira em Washington para discutir a questão – mas não conseguiu grandes avanços.

Após um encontro com o secretário de Estado, Mike Pompeo, e com o assessor da Casa Branca para segurança nacional, John Bolton, Maas afirmou que Bruxelas e Washington seguem profundamente divididos sobre como proceder após a saída dos EUA do acordo nuclear.

"Eu acredito que ainda estamos muito longe de um consenso", declarou o ministro alemão na capital americana. "Estamos defendendo caminhos completamente diferentes."

Maas disse ter reiterado às autoridades dos EUA que a Europa permanece "muito, muito unida" em apoiar o pacto nuclear com Teerã, "e isso não vai mudar". "Nós não queremos uma proliferação de armas nucleares em nossas portas", completou.

O presidente Donald Trump decidiu retirar os EUA do acordo nuclear no início deste mês, por considerá-lo falho e unilateral. A Europa, por sua vez, vê o pacto como a melhor chance de impedir que o Irã desenvolva armas nucleares e, por isso, intensificou os esforços para salvá-lo.

O acordo nuclear iraniano foi firmado em 2015 entre Estados Unidos e Irã, além de Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia. Sob o pacto, Teerã concordou em controlar seu programa nuclear em troca do fim de pesadas sanções internacionais ao país.

EK/afp/ap/dpa/rtr/ots

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