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Sinal amarelo para mulheres na Arábia Saudita

Kersten Knipp (ca)

24/06/2018 05h50

É grande a expectativa entre alunas de autoescola sauditas com fim da proibição de mulheres ao volante no país árabe. Mas a permissão de dirigir pode ser apenas o primeiro passo numa série de reformas necessárias.Para muitas mulheres sauditas, a vasta paisagem desértica ao redor de Riad é o local ideal para aprender a dirigir. "Na verdade, este é o lugar mais seguro para treinar", diz a estudante Baya à DW, que a acompanha enquanto pratica no terreno.

"A autoescola exige muitas coisas que ainda precisamos aprender." Ela é uma das poucas cidadãs do reino que poderá conduzir em breve, se passar no teste de direção – uma novidade na Arábia Saudita pela qual as mulheres lutam há muito tempo.

Neste domingo (24/06), a proibição de mulheres ao volante acaba na Arábia Saudita. Não são muitas as motoristas que tiraram carteira de habilitação, até o início de junho, eram somente dez. Nas próximas semanas, no entanto, esse número deve aumentar para cerca de 2 mil, de acordo com um comunicado do Ministério da Informação saudita.

Troca de pneus como ato de liberdade

As candidatas à carteira de motorista não estão se preparando apenas no deserto. Elas também têm aulas de teoria e técnica nas escolas de condução do país. Ali elas aprendem a trocar pneus, a segurar corretamente a direção, a estimar apropriadamente a velocidade. Segundo a agência de notícias Reuters, grande parte das aulas é feita por vídeo.

"Quando eu tiver minha carteira de motorista, a primeira coisa que vou fazer é passear com minha família", revelou uma das alunas da autoescola, "vamos para algum lugar comemorar." Outra disse que, no dia em que puder dirigir pela primeira vez, vai pegar a mãe para dar umas voltas. "No carro só vamos estar eu e a minha mãe. Vou achar ótimo."



Reformas só possíveis sob pressão

Para a Arábia Saudita, o fim da interdição para mulheres não deixa de ser um instrumento de marketing de imagem, explica Ali Adubisi, presidente da Organização Saudita-Europeia de Direitos Humanos, com sede em Berlim. Segundo ele, a liberdade de dirigir é um grande passo à frente e trará vantagens significativas para as mulheres. Por outro lado, que o governo saudita não estaria concedendo às mulheres mais do que um direito óbvio, ressalvou Adubisi.



O ativista explicou que seria errado ver a permissão de conduzir como uma reforma ativamente iniciada pelo governo. "A mudança se deve mais às pressões e às exigências da sociedade saudita e, em parte, também da comunidade internacional. Foi isso que levou à mudança." Adubisi conta que, já no início da década de 1990, as primeiras mulheres se levantaram pelo fim da proibição de dirigir.

Por outro lado, a nova permissão pode ser apenas um primeiro passo em direção à emancipação legal das mulheres, ainda privadas de muitos direitos. Ainda sob tutela masculina, as sauditas não podem viajar nem assinar contratos por conta própria: "As mulheres sofrem muito, e isso dia a dia."

"Se estamos agora celebrando a permissão de dirigir um carro como um novo direito das mulheres, devemos também pedir os outros direitos", ressaltou o presidente da Organização Saudita-Europeia de Direitos Humanos.

Repressão do jeito antigo

O governo saudita ainda continuar a agir de forma resoluta contra ativistas dos direitos das mulheres. Foi o que se viu no final de maio, quando algumas renomadas feministas foram presas, acusadas de "contato suspeito com organizações estrangeiras" que apoiam as atividades das mulheres. Além disso, as rés teriam recrutado "várias figuras em postos governamentais sensíveis" e enviado dinheiro a "elementos hostis fora do país".

Entre as ativistas presas está Madeha al-Ajroush, agora com 62 anos. Já desde o início dos anos 90 ela se engajava fortemente pelo fim da proibição de dirigir para mulheres. Com seu protesto, provocou os pregadores conservadores do país, que a insultaram de prostituta. Além disso, queimaram-se, em protestos, fotos da feminista também conhecida como fotógrafa.



Estilo de vida insustentável

Segundo Ali Adubisi, as últimas prisões seriam acima de tudo uma advertência às mulheres: "Dessa forma o governo lhes diz que não devem fazer mais exigências. A mensagem subliminar é que, se não tomarem cuidado, elas podem ser presas como as feministas renomadas do país."

Mesmo assim, é provável que o país continue a mudar, espera Madeha al-Ajroush. Alguns meses antes de sua prisão, em entrevista à DW, ela explicava que as mudanças seriam inevitáveis.

"Nosso estilo de vida não é sustentável dessa forma. Não poderá haver crescimento econômico se metade da população não puder se desenvolver. Por isso, sempre tive certeza de que o país mudaria, a questão era quando. Eu mesma já espero há 30 anos", explicou a ativista.

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