China tem recuo nas emissões de CO2
Emissões da China tiveram queda constante entre 2014 e 2016, segundo novo estudo. Mas se a indústria que mais polui no mundo está saindo dali, para onde ela está se mudando? A China é o país que mais emite dióxido de carbono no mundo: a liberação de CO2 cresceu substancialmente nas últimas décadas e, hoje em dia, compõe quase um terço do total global de emissões.
Mas um estudo publicado nesta segunda-feira (02/07) na revista Nature Geoscience demonstra que o país já pode ter atingido o seu pico de emissões, uma vez que as quantidades de carbono liberadas na atmosfera estão caindo.
De acordo com uma equipe formada por pesquisadores da China, do Reino Unido e dos Estados Unidos, as emissões de CO2 do país diminuíram entre 2014 e 2016, totalizando uma queda de 4,2% no período.
Esse declínio nas emissões ocorreu muito mais cedo do que o previsto por outros cientistas. Estudiosos britânicos, por exemplo, não esperavam um pico das emissões chinesas antes de 2025.
O recuo não parece ser muito grande: 9,2 gigatoneladas de CO2 em 2016 contra 9,53 gigatoneladas em 2013. Mas, mesmo assim, os pesquisadores escrevem que a contração é um sinal de esperança.
"O fato de que as emissões chinesas registraram decréscimo por vários anos – e, mais importante, as razões pelas quais isso aconteceu – dão esperança de mais quedas no futuro", diz o texto, no qual os pesquisadores definem o declínio como "causa para otimismo cauteloso".
Se a diminuição fosse apenas o subproduto de uma crise econômica, não haveria muitos motivos para esse otimismo: as emissões de dióxido de carbono simplesmente aumentariam novamente assim que a economia voltasse a florescer. E, de fato, o crescimento econômico na China desacelerou nos últimos anos, o que facilitou a redução de emissões.
Mas o principal autor do estudo, Dabo Guan, da universidade Tsingua em Beijing, disse à DW que, segundo as investigações, o crescimento econômico mais lento não é o principal motivo para a queda.
A China está passando por uma mudança estrutural, com a transição para o exterior de fábricas que emitem muitos poluentes, afirma Guan.
"Há alguns anos, 90% de todos os tênis de corrida, por exemplo, eram feitos na China. Agora, são os caros que vêm da China, enquanto as marcas mais baratas estão sendo fabricadas no Vietnã, no Camboja, no México ou em outros países", exemplifica. O mesmo vale para produtos eletrônicos como smartphones.
O deslocamento para uma produção de maior valor agregado e para a indústria de serviços transformou a China, acarretando numa queda no processamento de ferro e aço, na coqueificação e nas produções de cimento e carvão, com alto grau de emissões de poluentes.
"Um pico em 2013 é muito anterior ao que qualquer pessoa poderia ter antecipado quando o presidente chinês, Xi Jinping, prometeu reduzir as emissões pela primeira vez em 2014", escrevem os cientistas.
Lina Li, coordenadora de projetos na Adelphi, um think tank e consultoria de políticas públicas relativas às mudanças climáticas, meio ambiente e desenvolvimento, concorda com Dabo Guan e seus colegas sobre o fato de o declínio das emissões de CO2 não ser acidental. "Parcialmente, é graças à aceleração de políticas climáticas e energéticas internas nos últimos anos, assim como a mudança econômica estrutural pela qual a China está passando", enumera.
O mix de energia chinês também está mudando. "O céu azul está se tornando uma questão política, especialmente em Pequim. A política antipoluição do ar ajudou muito a reduzir as emissões de dióxido de carbono", lembra.
Imagens de intensa poluição do ar em cidades chinesas viralizaram no mundo inteiro. Enquanto as novas políticas se concentram prioritariamente nas partículas finas no ar, elas também estão levando a uma redução no consumo de carvão – o que teve o efeito colateral de reduzir as emissões de carbono.
Por exemplo, o governo chinês limitou a construção de novas usinas energéticas de carvão a partir de 2013, também fechando usinas mais antigas e menores.
Desde 2013, o consumo de carvão recuou, em média, 5,6% ao ano. As maiores quedas foram registradas no setor energético.
Porém, a demanda por energia na China continua crescendo. Mas a energia extra vem de energias renováveis – e de usinas nucleares.
A má notícia
Enquanto se pode concordar com o fato de que o aumento das energias renováveis na China é um sinal positivo, há quem questione se ampliar o uso de energia nuclear no país é a decisão certa.
"A China está construindo cerca de 12 novas usinas de energia nuclear", enumera Dabo Guan. "O carvão é sujo demais e os renováveis não são muito estáveis. Assim, a energia nuclear é vista como uma fonte estratégica de energia para o futuro", constata.
Nem o desastre nuclear de Fukushima conseguiu minar o entusiasmo da China pela energia nuclear, acrescenta Dabo. "A maior parte dos chineses acredita [que o problema do lixo nuclear pode ser resolvido] – ou eles simplesmente não ligam. Em comparação com a Alemanha, a percepção pública é bem diferente", compara.
Mesmo com a energia nuclear como reserva, os pesquisadores argumentam que ainda não está claro se essa leve diminuição nas emissões vai persistir – ou se haverá continuidade na queda para os níveis necessários para coibir os efeitos das mudanças climáticas.
"As emissões da China podem flutuar nos próximos anos e isso pode significar que 2013 não foi o pico definitivo", escrevem os estudiosos, para quem novas políticas energéticas e climáticas podem ter causado "um decréscimo único nas emissões que não será facilmente repetido".
Faz sentido: se as usinas mais antigas e ineficientes já foram fechadas, será realmente difícil repetir essa medida no ano que vem.
Mas a questão mais importante relativa às mudanças climáticas pode ser esta: se a indústria que mais emite poluente está saindo da China, para onde ela está se mudando?
O IPCC, painel da ONU sobre mudanças climáticas, avançou o conceito de que, se as emissões da China alcançaram o seu ponto mais alto, o mesmo pode valer para as emissões globais – o que significa que elas poderão começar a cair a partir daí.
Mas essa é uma suposição ousada. Dabo Guan alerta que o problema pode simplesmente se deslocar para outras partes do mundo. "Precisamos impedir que outro gigante de emissões cresça no lugar da China – como Índia, Indonésia ou países africanos", adverte.
A China também desempenha papel fundamental para impedir que isso aconteça, diz Dabo – ajudando países em desenvolvimento a ampliar seu know-how e desenvolver tecnologias apropriadas para combater o aquecimento global.
Lina Li, da Adelphi, concorda. "Se a China conseguir combinar seus planos futuros internos de reformas e transições com uma agenda de liderança climática global inteligente, o mundo se tornará um lugar melhor – assim como a própria China", prevê.
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Mas um estudo publicado nesta segunda-feira (02/07) na revista Nature Geoscience demonstra que o país já pode ter atingido o seu pico de emissões, uma vez que as quantidades de carbono liberadas na atmosfera estão caindo.
De acordo com uma equipe formada por pesquisadores da China, do Reino Unido e dos Estados Unidos, as emissões de CO2 do país diminuíram entre 2014 e 2016, totalizando uma queda de 4,2% no período.
Esse declínio nas emissões ocorreu muito mais cedo do que o previsto por outros cientistas. Estudiosos britânicos, por exemplo, não esperavam um pico das emissões chinesas antes de 2025.
O recuo não parece ser muito grande: 9,2 gigatoneladas de CO2 em 2016 contra 9,53 gigatoneladas em 2013. Mas, mesmo assim, os pesquisadores escrevem que a contração é um sinal de esperança.
"O fato de que as emissões chinesas registraram decréscimo por vários anos – e, mais importante, as razões pelas quais isso aconteceu – dão esperança de mais quedas no futuro", diz o texto, no qual os pesquisadores definem o declínio como "causa para otimismo cauteloso".
Se a diminuição fosse apenas o subproduto de uma crise econômica, não haveria muitos motivos para esse otimismo: as emissões de dióxido de carbono simplesmente aumentariam novamente assim que a economia voltasse a florescer. E, de fato, o crescimento econômico na China desacelerou nos últimos anos, o que facilitou a redução de emissões.
Mas o principal autor do estudo, Dabo Guan, da universidade Tsingua em Beijing, disse à DW que, segundo as investigações, o crescimento econômico mais lento não é o principal motivo para a queda.
A China está passando por uma mudança estrutural, com a transição para o exterior de fábricas que emitem muitos poluentes, afirma Guan.
"Há alguns anos, 90% de todos os tênis de corrida, por exemplo, eram feitos na China. Agora, são os caros que vêm da China, enquanto as marcas mais baratas estão sendo fabricadas no Vietnã, no Camboja, no México ou em outros países", exemplifica. O mesmo vale para produtos eletrônicos como smartphones.
O deslocamento para uma produção de maior valor agregado e para a indústria de serviços transformou a China, acarretando numa queda no processamento de ferro e aço, na coqueificação e nas produções de cimento e carvão, com alto grau de emissões de poluentes.
"Um pico em 2013 é muito anterior ao que qualquer pessoa poderia ter antecipado quando o presidente chinês, Xi Jinping, prometeu reduzir as emissões pela primeira vez em 2014", escrevem os cientistas.
Lina Li, coordenadora de projetos na Adelphi, um think tank e consultoria de políticas públicas relativas às mudanças climáticas, meio ambiente e desenvolvimento, concorda com Dabo Guan e seus colegas sobre o fato de o declínio das emissões de CO2 não ser acidental. "Parcialmente, é graças à aceleração de políticas climáticas e energéticas internas nos últimos anos, assim como a mudança econômica estrutural pela qual a China está passando", enumera.
O mix de energia chinês também está mudando. "O céu azul está se tornando uma questão política, especialmente em Pequim. A política antipoluição do ar ajudou muito a reduzir as emissões de dióxido de carbono", lembra.
Imagens de intensa poluição do ar em cidades chinesas viralizaram no mundo inteiro. Enquanto as novas políticas se concentram prioritariamente nas partículas finas no ar, elas também estão levando a uma redução no consumo de carvão – o que teve o efeito colateral de reduzir as emissões de carbono.
Por exemplo, o governo chinês limitou a construção de novas usinas energéticas de carvão a partir de 2013, também fechando usinas mais antigas e menores.
Desde 2013, o consumo de carvão recuou, em média, 5,6% ao ano. As maiores quedas foram registradas no setor energético.
Porém, a demanda por energia na China continua crescendo. Mas a energia extra vem de energias renováveis – e de usinas nucleares.
A má notícia
Enquanto se pode concordar com o fato de que o aumento das energias renováveis na China é um sinal positivo, há quem questione se ampliar o uso de energia nuclear no país é a decisão certa.
"A China está construindo cerca de 12 novas usinas de energia nuclear", enumera Dabo Guan. "O carvão é sujo demais e os renováveis não são muito estáveis. Assim, a energia nuclear é vista como uma fonte estratégica de energia para o futuro", constata.
Nem o desastre nuclear de Fukushima conseguiu minar o entusiasmo da China pela energia nuclear, acrescenta Dabo. "A maior parte dos chineses acredita [que o problema do lixo nuclear pode ser resolvido] – ou eles simplesmente não ligam. Em comparação com a Alemanha, a percepção pública é bem diferente", compara.
Mesmo com a energia nuclear como reserva, os pesquisadores argumentam que ainda não está claro se essa leve diminuição nas emissões vai persistir – ou se haverá continuidade na queda para os níveis necessários para coibir os efeitos das mudanças climáticas.
"As emissões da China podem flutuar nos próximos anos e isso pode significar que 2013 não foi o pico definitivo", escrevem os estudiosos, para quem novas políticas energéticas e climáticas podem ter causado "um decréscimo único nas emissões que não será facilmente repetido".
Faz sentido: se as usinas mais antigas e ineficientes já foram fechadas, será realmente difícil repetir essa medida no ano que vem.
Mas a questão mais importante relativa às mudanças climáticas pode ser esta: se a indústria que mais emite poluente está saindo da China, para onde ela está se mudando?
O IPCC, painel da ONU sobre mudanças climáticas, avançou o conceito de que, se as emissões da China alcançaram o seu ponto mais alto, o mesmo pode valer para as emissões globais – o que significa que elas poderão começar a cair a partir daí.
Mas essa é uma suposição ousada. Dabo Guan alerta que o problema pode simplesmente se deslocar para outras partes do mundo. "Precisamos impedir que outro gigante de emissões cresça no lugar da China – como Índia, Indonésia ou países africanos", adverte.
A China também desempenha papel fundamental para impedir que isso aconteça, diz Dabo – ajudando países em desenvolvimento a ampliar seu know-how e desenvolver tecnologias apropriadas para combater o aquecimento global.
Lina Li, da Adelphi, concorda. "Se a China conseguir combinar seus planos futuros internos de reformas e transições com uma agenda de liderança climática global inteligente, o mundo se tornará um lugar melhor – assim como a própria China", prevê.
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