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O maior cemitério judaico da Europa

Clarissa Neher

23/07/2018 05h40

Inaugurado em 1880, Cemitério Judaico Berlim-Weissensee reflete história da cidade e da comunidade judaica berlinense. Recentemente, ganhou prêmio da ONU para iniciativas que apoiam a diversidade biológica.Olhada a entrada, o Cemitério Judaico Berlim-Weissensee parece com tantos outros. Mas uma caminhada em direção ao seu interior revela um pequeno paraíso tomado pela natureza. Entre túmulos e mausoléus surgem pequenos bosques, habitat de várias espécies de insetos, árvores e plantas.

Mas não só a natureza faz do cemitério um local fascinante. Construído em 1880 e com mais de 116 mil túmulos, ele retrata um pouco da história de Berlim e de sua comunidade judaica.

No final do século 19, a comunidade judaica da cidade se deparou com a necessidade de encontrar um novo espaço para enterrar seus mortos, pois o antigo cemitério na Schönhauser Allee estava quase lotado – pela tradição judaica, os mortos permanecem para sempre onde foram enterrados. Assim, foi adquirido o terreno de 42 mil hectares em Weissensee. Posteriormente, um concurso de arquitetura foi lançando para a construção do novo cemitério.

Em setembro de 1880, o primeiro morto foi enterrado no local. Durante as primeiras décadas de seu funcionamento, os mais abastados da comunidade mandaram construir mausoléus e túmulos cheios de grandeza. Alguns inclusive contratavam arquitetos famosos da época para criar sua última morada.

Em 1927, foi inaugurado no cemitério um memorial em homenagem aos 12 mil soldados judeus alemães mortos na Primeira Guerra Mundial.

Com a perseguição dos judeus pelo regime nazista, tragédias invadiram o cemitério. Quase 2 mil judeus enterrados no local se suicidaram entre 1933 e 1945. Uma das histórias mais triste é de um casal cuja esposa se matou no dia do aniversário do marido que havia saído para comemorar e, com o cair da noite, achou mais seguro dormir na casa de um amigo. Sem notícias, a esposa achou que o marido havia sido pego pelos nazistas. Desesperada, ela tirou a própria vida. Ao chegar em casa no dia seguinte e encontrar a esposa morta, o marido também se suicidou.

Em 1945, apesar de os bombardeios destruírem partes do cemitério, inclusive alguns prédios administrativos e outros usados em cerimônias fúnebres, o local permaneceu praticamente intacto e não sofreu tanto com depredações dos nazistas como outras instituições judaicas na cidade.

Após a Segunda Guerra Mundial, os planos de construção de uma rodovia atravessando o cemitério, num terreno que pertencia à prefeitura, causaram protestos na década de 1980.

Durante os seus mais de 130 anos de história, a natureza foi preenchendo os espaços e tomando conta de túmulos abandonados. Essa integração entre proteção à natureza e a monumentos históricos rendeu recentemente ao cemitério um prêmio da ONU para iniciativas que apoiam a diversidade biológica.

O Cemitério Judaico Berlim-Weissensee fica no número 1 da Markus-Reich-Platz e está aberto ao público de domingo a sexta-feira.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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