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O efeito Amazon sobre a inflação

Mischa Ehrhardt (md)

27/07/2018 11h59

Comércio online contribui para queda de preços ao aumentar concorrência e permitir que consumidores comparem valores de mercadorias. A isso se soma digitalização, que barateia produtos. Bancos centrais temem deflação.O banco central japonês tem um problema. Há anos, ele inunda os mercados com grandes quantias de dinheiro. O objetivo é direcionar a inflação para sua meta, em torno de 2%. Mas os preços não foram influenciados. Em junho, a inflação no Japão foi de 0,8%. E essa taxa agradavelmente elevada, do ponto de vista do banco central, é atribuída, em grande parte, à súbita elevação dos preços do petróleo.

Sem ela, a taxa de inflação era de 0,2% – perigosamente próxima da deflação, uma situação temida pelo banco central do país, por poder desencadear uma espiral de queda de preços e declínio de investimentos, o que, por sua vez, poderia resultar numa recessão.

Não apenas no Japão, mas também em outras regiões do mundo, os bancos centrais estão trabalhando com afinco para elevar a inflação rumo à sua meta. O Banco Central Europeu (BCE), por exemplo, compra para esse fim todos os meses, até pelo menos setembro, títulos europeus no valor de até 30 bilhões de euros. No entanto, o chefe da instituição, Mario Draghi, não vai se dar por satisfeito com o controle de preços. Também na Europa, a inflação subjacente está bem abaixo de 2%.

Em tempos em que as coisas não estão indo do jeito que deveriam, explicações são necessárias. E o banco central japonês encontrou uma. Nas vésperas de sua última reunião, a instituição citou um estudo com base no qual o banco pode apontar pelo menos um culpado parcial: a Amazon.

De acordo com o texto, esta e outras empresas de comércio online são responsáveis por guerras e de preços e comparações. Como resultado, os preços sobem mais lentamente do que em outros tempos – e também mais lentamente do que o previsto pelas teorias econômicas.

Efeito pontual ou permanente?

Segundo o estudo, Amazon e companhia são responsáveis por uma redução de 0,1% a 0,2% na taxa de inflação. "Para mim, é difícil imaginar que isso faça com que os preços caiam tanto", diz o economista-chefe do banco privado Julius Bär, ??David Kohl. "Pois, basicamente, você poderia perceber um efeito pontual, mas não algo permanente."

Isso é, indubitavelmente, correto. Porque a inflação indica a taxa de variação do nível de preços em comparação com os preços no mesmo período do ano anterior. Por essa razão, um aumento ou uma queda do preço do petróleo ao longo do ano pode, por exemplo, ter impactos significativos sobre a inflação.

Aliás, isto também é o que ocorre agora. Pois os preços do petróleo dobraram desde o meio do ano passado. Por isso, a inflação, incluindo os preços do petróleo, é atualmente comparativamente alta. E é por isso que Draghi não gosta de olhar para essa taxa geral de inflação, mas apenas para a inflação subjacente, da qual, entre outras coisas, o preço do petróleo é excluído.

Por outro lado, a existência e o impacto de portais online, como a Amazon, são mais do que apenas um fenômeno único. E com a crescente digitalização, muitos processos de produção também vão sendo enxugados – como resultado, as empresas geralmente podem produzir de forma mais eficiente e barata, o que tende a levar a uma queda dos preços.

"O comércio online e a crescente digitalização estão definitivamente causando impacto na economia", diz Carsten Brzeski, economista-chefe do banco ING Diba. "Isso é apenas o começo. Através do comércio pela internet, da crescente concorrência e da transparência, os preços tenderão a cair, e isso, é claro, é algo que faz os bancos centrais se preocuparem."

Comparação de preços

O banco central japonês aponta que a Amazon aumentou consideravelmente o número de seus centros de distribuição no Japão na última década. Isso encurta a cadeia de fornecimento, reduzindo custos.

Além disso, como o varejista online não mantém filiais, mas entregam as mercadorias ao cliente a partir do depósito, ele tem também vantagem de preço em relação ao varejo de lojas físicas. E o comércio físico também sofre com o fato de que os preços da Amazon podem ser acessados ??via smartphone a qualquer momento. Por via das dúvidas, eles têm que oferecer a seus clientes preços igualmente baixos.

É por isso que cada vez mais economistas se perguntam se a meta de inflação de muitos bancos centrais, de cerca de 2%, há muito se tornou obsoleta. Porque, independentemente de o efeito Amazon – de comparação de preços online, em sua versão mais limitada – ser perceptível ou considerado insignificante, em combinação com a crescente digitalização, a pressão sobre a inflação deve se manter. E provavelmente por períodos mais longos do que no passado.

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