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A Bundesliga sem o Hamburgo

Gerd Wenzel

21/08/2018 07h27

O Campeonato Alemão começa, pela primeira vez após 55 temporadas consecutivas, sem o tradicional clube do norte do país. Era o time fundador da liga que ainda não tinha experimentado o dissabor de jogar a segundona.O Campeonato Alemão 2018/2019 começa com ao menos uma grande novidade. Pela primeira vez desde a fundação da Bundesliga, em 1963, o Hamburgo não vai entrar em campo. Após 55 temporadas consecutivas, os hamburgueses se despediram melancolicamente da divisão de elite do futebol alemão. Foram rebaixadas para a "segundona”. O Hamburgo era, até então, o único clube fundador da liga que ainda não tinha experimentado o dissabor da degola.

Com o rebaixamento dos hamburgueses haverá outra novidade. Pela primeira vez desde a temporada 1980/1981, não será disputado o tradicionalíssimo clássico do Norte entre Hamburgo e Werder Bremen, equivalente em termos regionais à "mãe de todos os dérbis”, que coloca frente a frente Borussia Dortmund e Schalke 04.

De fato, a queda do Hamburgo já estava anunciada há algum tempo. Sucessivas más administrações na última década, com contínuas trocas de técnico (13 nos últimos 10 anos), má gestão na negociação de compra e venda de jogadores além de resultados pífios em campo, só poderiam resultar, mais cedo ou tarde, em desabalada carreira ladeira abaixo.

E foi exatamente o que acabou acontecendo.

Desde 2011 o time dos "calções vermelhos” já vinha vacilando. Em 2014 e 2015, por exemplo, teve que disputar a repescagem com times da segunda divisão (Greuther Fürth e Karlsruher) para não cair. Ganhou às duras penas e garantiu sobrevida na divisão de elite do futebol alemão.

Na época, a torcida inconformada chegou a pedir que Uwe Seeler, atacante raçudo dos anos 60 e ícone eterno do clube, assumisse a presidência para colocar ordem na casa. Por motivos pessoais e questões de saúde, recusou.

Sai de cena, pelo menos temporariamente, um tradicional clube que chegou a brilhar em gramados europeus.

Foi campeão da Recopa (atual Liga Europa) em 1977 e campeão da Liga dos Campeões (Champions League) em 1983. Naquele ano disputou o Mundial Interclubes com o Grêmio, quando foi derrotado por 2 a 1.

Além disso, acumulou, ao todo, seis títulos de campeão alemão, sendo três na Bundesliga (1979, 1982, 1983). Ganhou ainda a Copa da Alemanha em três oportunidades (1963, 1976, 1987).

A revista kicker, uma das mais prestigiadas mídias sobre futebol na Alemanha, anualmente publica uma edição especial sobre a temporada que está por vir. Há uma página chamada "Die Ewige Tabelle” (A tabela eterna), onde estão computados os dados de todos times que já disputaram a Bundesliga desde sua fundação em 1963.

A tabela leva em consideração temporadas disputadas, jogos realizados, vitórias, empates, derrotas, gols pró e contra, além de pontos conquistados.

E lá está o Hamburgo, num orgulhoso terceiro lugar, atrás apenas de Bayern Munique e Werder Bremen, mas à frente de Borussia Dortmund e Schalke 04. Por jogar agora na segunda divisão, com certeza perderá algumas posições nesta tabela, mas não perderá o viço de ter sido um digno representante do futebol alemão por décadas.

Não se pode esquecer também o lendário relógio digital do Volksparkstadion (Estádio Parque do Povo), que assinalava orgulhosamente há quantos anos, dias e horas, o Hamburgo ininterruptamente já estava na Bundesliga. Com o rebaixamento, o relógio foi desligado, para alguns dias depois ser ligado novamente.

Agora ele assinala quantos anos e dias se passaram desde a fundação do clube. No dia da publicação desta coluna, por exemplo, serão 130 anos e 326 dias. O clube foi fundado em 29 de setembro de 1887. É só fazer as contas.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br

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