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Ativistas enfrentam lobby do carvão em floresta na Alemanha

Gero Rueter (ca)

14/09/2018 13h38

Floresta de Hambach se transforma em palco para o conflito entre uma poderosa empresa de energia e defensores do meio ambiente, que tentam proteger o pouco que restou da mata de mais de 10 mil anos de idade.Centenas de policiais alemães deram continuação nesta sexta-feira (14/09) à remoção de um acampamento de ativistas na Floresta de Hambach, no oeste da Alemanha. Os ambientalistas se alojaram no local há seis anos em protesto contra a expansão de uma mina de carvão.

A Floresta de Hambach tem 12 mil anos, é rica em biodiversidade e lar de mais de 140 espécies de plantas e animais, mas apenas 10% de sua mata ainda estão de pé. A batalha atual opõe a poderosa empresa de energia RWE, que ainda pretende ganhar muito dinheiro com uma das maiores minas de carvão a céu aberto do país; e jovens ativistas, apoiados por um grande movimento cívico.

Para o planejado desmatamento do que restou da antiga floresta, a RWE se baseia em licenças e resoluções emitidas há décadas pelas autoridades políticas. A empresa ainda pretende explorar por alguns anos o carvão que se encontra sob a floresta.

Tanto a União Democrática Cristã (CDU) e o Partido Liberal Democrático (FDP), que governam o estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália, quanto o oposicionista Partido Social-Democrata (SPD) apoiam a poderosa empresa exploradora de carvão. Por outro lado, os partidos Verde e A Esquerda defendem uma antecipação da desistência do carvão como fonte energética.

Assim como os moradores da região e os ativistas ambientais que ocupam a floresta, verdes e esquerdistas exigem uma suspensão do planejado desmatamento ao menos até a conclusão dos trabalhos da Comissão do Carvão, em dezembro.

A pedido do governo alemão, a chamada Comissão de Crescimento, Mudança Estrutural e Emprego foi encarregada de elaborar um plano de desistência do carvão como fonte energética da Alemanha.

A Alemanha quer alcançar suas metas climáticas com uma desistência do carvão regulada, cumprir seu compromisso de reduzir o CO2 no contexto do Acordo Climático de Paris e otimizar a mudança estrutural nas regiões carboníferas com um amplo consenso.

Enquanto a Comissão do Carvão em Berlim se reúne regularmente na capital alemã e representantes de partidos políticos, associações ambientais, indústria, sindicatos e da ciência discutem a velocidade necessária e os desafios da desistência do carvão, a Floresta de Hambach se transforma numa locação paralela dos interesses e do conflito por trás dela.

Atualmente, a RWE ganha muito dinheiro com termelétricas a carvão e não quer desistir desse negócio voluntariamente. A empresa insiste em direitos de desmatamento da controversa Floresta de Hambach já concedidos, a fim de um dia poder explorar o carvão subjacente.

A RWE e o governo estadual rejeitam o apelo urgente por parte de organizações ambientais, grupos da sociedade civil e residentes locais para que não haja desmatamento na Floresta de Hambach até o relatório final da Comissão do Carvão.

"Recuso categoricamente" o apelo, disse o secretário de Economia da Renânia do Norte-Vestfália, Andreas Pinkwart. "Não há razão para recuar agora", declarou ele, que também é responsável pela proteção climática no governo estadual.

Organizações ambientais, moradores e oposição estão indignados diante da atitude irreconciliável da RWE e do governo estadual, o que prejudicaria o trabalho da Comissão do Carvão.

"A RWE acendeu o pavio de um acirramento desnecessário da situação. Enquanto a Comissão de Política e Carvão tenta realizar uma desistência do carvão social e ambientalmente sustentável, a RWE quer exacerbar tanto o clima quanto os conflitos sociais", disse Kai Niebert, presidente da federação ambiental Círculo Alemão de Conservação da Natureza (DNR) e membro da Comissão do Carvão de Berlim.

Atordoados, moradores e ativistas do clima também assistem agora à retirada das casas nas árvores dos manifestantes por alegadas razões de segurança para os ativistas. De acordo com o decreto da secretária de Obras da Renânia do Norte-Vestefália, Ina Scharrenbacher, haveria "um perigo iminente para a vida e a integridade física dos moradores das casas nas árvores por razões de proteção contra incêndios".

Organizações ambientais e ativistas consideram a falta de proteção contra incêndio nas casas das árvores um argumento inventado e ridículo. "O governo estadual está ajudando com uma justificativa forçada", apontou Hubert Weiger, presidente da Federação Alemã do Meio Ambiente e Proteção da Natureza (BUND) e também membro da Comissão do Carvão. "O acirramento do conflito recebe um impulso desnecessário. O despejo dos ativistas deve servir claramente para preparar a limpeza da floresta."

"É um corte profundo em nossa qualidade de vida", afirmou Andreas Büttken da iniciativa dos moradores de Buir e que mora nesse vilarejo da Floresta de Hambach. "Além da floresta e de nossos vilarejos vizinhos, também perdemos nossa paz. Para nós, a Floresta de Hambach é um símbolo de uma sociedade voltada para o futuro e agora ameaça se tornar um monumento à destruição de nosso futuro. Nós nos sentimos abandonados pelos responsáveis nos governos federal e estadual", desabafou.

Ativistas e as associações ambientais não querem aceitar a atual retirada das casas nas árvores. "Defendemos a floresta contra a RWE e o secretário do Interior de NRW [Herbert] Reul. Nas árvores, lutamos pela justiça climática e contra o capitalismo", afirmou Momo, residente de uma das casas na floresta, de 20 e poucos anos. "Não será fácil nos tirar da mata". Assim como os outros habitantes das casas, ele não quis revelar seu nome verdadeiro.

"Com o despejo, a RWE ultrapassa claramente uma linha vermelha para o clima", disse Karolina Drzewo, porta-voz da aliança ambiental Ende Gelände (Acabou, em tradução livre). "É um escândalo que aqui o governo do estado esteja protegendo os lucros corporativos e não o clima. Exigimos a desistência do carvão como medida imediata para justiça climática global".

Com o início da evacuação da Floresta de Hambach pelo governo do estado, começa ao mesmo tempo uma mobilização nacional em massa. Além da resistência não violenta dos ativistas residentes na floresta contra a destruição das casas nas árvores e contra o desmatamento, nos próximos dias e semanas, muitas pessoas pretendem se engajar pela preservação da mata e pelo rápido fim da geração de energia com carvão, por meio de manifestações, protestos sentados e caminhadas.

A polícia e também observadores esperam para as próximas semanas a maior ação policial na história do estado da Renânia do Norte-Vestfália.

Segundo a RWE, a floresta deve ser desmatada no fim deste ano: "Uma suspensão temporária do desmatamento planejado para outubro de 2018 na mina a céu aberto de Hambach iria colocar em risco, já em curto prazo, a continuação da exploração de carvão e assim a geração de energia das usinas de Niederaussem e Neurath", escreveu o CEO da RWE aos membros da Comissão do Carvão.

No entanto, de acordo com investigação da DW, a geração de energia dessas usinas termelétricas não está ameaçada em curto prazo e, mesmo sem desmatamento, ainda há carvão suficiente para a geração de energia por pelo menos três anos. A RWE também foi confrontada com as evidências e lhe foi pedida uma declaração a esse respeito. A empresa não contradisse os dados da DW.

Os tribunais devem esclarecer nas próximas semanas se o desmatamento da Floresta de Hambach a partir de outubro é legal. Além dos processos judiciais em andamento, a seção da BUND na Renânia do Norte-Vestfália apresentou dois pedidos de urgência adicionais junto aos tribunais competentes. A federação ambiental quer proibir qualquer desmatamento na Floresta de Hambach.

Com os pedidos ao Tribunal Administrativo Superior e aos Tribunais Administrativos de Colônia e Aachen, todos os abates de árvores e danos florestais devem ser proibidos até que seja tomada uma decisão final sobre o status de proteção da floresta e o futuro da mineração de carvão.

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