Estudo descarta polarização da sociedade alemã
Política migratória de Merkel e chegada de milhares de refugiados dividiram sociedade alemã e criaram ambiente hostil a imigrantes: essa ideia generalizada é revidada por estudo baseado na convivência cotidiana.Grande parte da mídia – e especialmente os usuários de redes sociais – pinta um quadro preto e branco da Alemanha. De um lado estão os defensores da política migratória da chanceler federal Angela Merkel. Do outro, seus oponentes, incluindo muitos eleitores e simpatizantes dos populistas de direita. Debates recentes no Bundestag (Parlamento) reforçaram a impressão de que a sociedade alemã está cada vez mais polarizada.
Só que um estudo apresentado em Berlim nesta segunda-feira (17/09) apresenta um quadro diferente e afirma que a convivência entre migrantes e não imigrantes não se deteriorou desde a crise dos refugiados de 2015 e 2016. Ao contrário, o ambiente continua muito positivo.
Os autores do estudo, da Fundação Alemã para Integração e Migração (SRV), responderam à pergunta sobre como eles explicam essa diferença entre percepção e realidade apontando para a abordagem da pesquisa: os participantes deram suas respostas com base em experiências cotidianas, por exemplo no trabalho, na escola e no prédio onde moram.
Outro aspecto peculiar da pesquisa é que ela incluiu alemães com e sem origem migratória, ou seja, ela ouviu também se os migrantes e descendentes perceberam alguma mudança no seu cotidiano. Dos cerca de 9 mil entrevistados, a maioria – 6 mil – tinha origem migratória. E a maioria relatou que não houve mudanças significativas.
O resultado não confirma a ideia generalizada de que o debate sobre migração colocou em perigo a coesão social no país, disse o presidente da SRV, Thomas Bauer. Os resultados apontam para um ambiente de integração e convivência estável e positivo. "As coisas estão indo muito bem na vida cotidiana", acrescentou uma das autoras do estudo, Claudia Diehl.
Mas os responsáveis pela pesquisa também perceberam que a situação piora nas regiões onde as pessoas têm menos contato diário com imigrantes e descendentes. E isso ocorre principalmente em muitas partes do Leste da Alemanha, onde a percentagem de pessoas com origem migratória é de apenas um dígito. Em algumas regiões do oeste, um em cada três moradores tem origem migratória.
"A polarização social é percebida de maneira exagerada", conclui Renate Köcher, diretora do Instituto Allensbach de Pesquisa de Opinião Pública. Na opinião dela, essa polarização existe apenas em alguns setores minoritários da sociedade alemã.
Mas isso quer dizer que tudo está indo bem no país? Não é bem assim. Em Berlim, Köcher apresentou um outro estudo, este sobre o ânimo de adultos entre 30 a 59 anos. E o resultado é alarmante: apesar da boa situação econômica que a Alemanha apresenta já há muitos anos, a confiança na estabilidade política diminuiu pela metade desde 2015. Apenas 27% dos cerca de mil entrevistados afirmaram que a política lhes proporciona estabilidade.
No entanto, Köcher não quis vincular esse resultado com a ascensão do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que alcançou 18% da preferência do eleitorado numa pesquisa divulgada nesta sexta-feira.
Segundo ela, apenas uma parte do sucesso da AfD se deve ao discurso contra refugiados e imigrantes. O partido também se tornou um repositório para as frustrações de muitos eleitores, o que fica evidente no ceticismo deles em relação ao Estado e às instituições, disse a especialista.
Mas Köcher apontou para uma outra questão, que considera mais relevante para explicar o ânimo geral no país: o ideal de coesão social é, na verdade, muito forte na Alemanha. Mesmo a elite quer um estado de bem-estar social forte e não uma sociedade de classes com uma classe baixa solidificada. Assim, a disposição para a redistribuição de renda é muito elevada. E nesse ponto está, segundo ela, a verdadeira preocupação de muitos alemães.
O estudo mostra que dois terços dos entrevistados criticaram o que percebem como um recuo da coesão social. Muitos entrevistados disseram notar um respeito cada vez menor por regras sociais e o aumento das "críticas a estrangeiros". Apenas um terço dos entrevistados concordou com a afirmação "vivemos em tempos felizes". Köcher disse que a Alemanha está se tornando mais fria.
Os resultados de ambos estudos podem ser resumidos da seguinte forma: os alemães querem senso de comunidade, equilíbrio de renda e coesão social e descartam a polarização. Tarefa dos políticos é garantir que assim seja.
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Só que um estudo apresentado em Berlim nesta segunda-feira (17/09) apresenta um quadro diferente e afirma que a convivência entre migrantes e não imigrantes não se deteriorou desde a crise dos refugiados de 2015 e 2016. Ao contrário, o ambiente continua muito positivo.
Os autores do estudo, da Fundação Alemã para Integração e Migração (SRV), responderam à pergunta sobre como eles explicam essa diferença entre percepção e realidade apontando para a abordagem da pesquisa: os participantes deram suas respostas com base em experiências cotidianas, por exemplo no trabalho, na escola e no prédio onde moram.
Outro aspecto peculiar da pesquisa é que ela incluiu alemães com e sem origem migratória, ou seja, ela ouviu também se os migrantes e descendentes perceberam alguma mudança no seu cotidiano. Dos cerca de 9 mil entrevistados, a maioria – 6 mil – tinha origem migratória. E a maioria relatou que não houve mudanças significativas.
O resultado não confirma a ideia generalizada de que o debate sobre migração colocou em perigo a coesão social no país, disse o presidente da SRV, Thomas Bauer. Os resultados apontam para um ambiente de integração e convivência estável e positivo. "As coisas estão indo muito bem na vida cotidiana", acrescentou uma das autoras do estudo, Claudia Diehl.
Mas os responsáveis pela pesquisa também perceberam que a situação piora nas regiões onde as pessoas têm menos contato diário com imigrantes e descendentes. E isso ocorre principalmente em muitas partes do Leste da Alemanha, onde a percentagem de pessoas com origem migratória é de apenas um dígito. Em algumas regiões do oeste, um em cada três moradores tem origem migratória.
"A polarização social é percebida de maneira exagerada", conclui Renate Köcher, diretora do Instituto Allensbach de Pesquisa de Opinião Pública. Na opinião dela, essa polarização existe apenas em alguns setores minoritários da sociedade alemã.
Mas isso quer dizer que tudo está indo bem no país? Não é bem assim. Em Berlim, Köcher apresentou um outro estudo, este sobre o ânimo de adultos entre 30 a 59 anos. E o resultado é alarmante: apesar da boa situação econômica que a Alemanha apresenta já há muitos anos, a confiança na estabilidade política diminuiu pela metade desde 2015. Apenas 27% dos cerca de mil entrevistados afirmaram que a política lhes proporciona estabilidade.
No entanto, Köcher não quis vincular esse resultado com a ascensão do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que alcançou 18% da preferência do eleitorado numa pesquisa divulgada nesta sexta-feira.
Segundo ela, apenas uma parte do sucesso da AfD se deve ao discurso contra refugiados e imigrantes. O partido também se tornou um repositório para as frustrações de muitos eleitores, o que fica evidente no ceticismo deles em relação ao Estado e às instituições, disse a especialista.
Mas Köcher apontou para uma outra questão, que considera mais relevante para explicar o ânimo geral no país: o ideal de coesão social é, na verdade, muito forte na Alemanha. Mesmo a elite quer um estado de bem-estar social forte e não uma sociedade de classes com uma classe baixa solidificada. Assim, a disposição para a redistribuição de renda é muito elevada. E nesse ponto está, segundo ela, a verdadeira preocupação de muitos alemães.
O estudo mostra que dois terços dos entrevistados criticaram o que percebem como um recuo da coesão social. Muitos entrevistados disseram notar um respeito cada vez menor por regras sociais e o aumento das "críticas a estrangeiros". Apenas um terço dos entrevistados concordou com a afirmação "vivemos em tempos felizes". Köcher disse que a Alemanha está se tornando mais fria.
Os resultados de ambos estudos podem ser resumidos da seguinte forma: os alemães querem senso de comunidade, equilíbrio de renda e coesão social e descartam a polarização. Tarefa dos políticos é garantir que assim seja.
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