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"Vice-Kusen": um passado brasileiro e um presente difícil

Gerd Wenzel

18/12/2018 12h45

Fãs do Leverkusen gostam de lembrar de tempos em que o "clube da aspirina" buscava no Brasil sua base. Foi nessa época que ganhou o apelido dos rivais de "Vizekusen". Mas o futebol de hoje nem para vice está bastando.Heiko Herrlich, técnico do Leverkusen, contratado em julho de 2017 para reerguer o clube para uma posição de destaque na Bundesliga e no cenário internacional, deve estar bastante frustrado.

Na temporada passada, Herrlich conseguiu tirar o elenco do seu marasmo tático e técnico que vinha de um modestíssimo 12º lugar no Campeonato Alemão de 2016/2017. Logo em seu primeiro ano como treinador do Bayer, alcançou um mais que honroso quinto lugar na classificação final e só não levou o clube à Liga dos Campeões devido ao saldo de gols menor que o do Borussia Dortmund, que acabou ficando com a vaga.

Era natural que a expectativa para a temporada 2018/2019 fosse de crescimento. Afinal, exceção feita ao goleiro Bernd Leno, vendido para o Arsenal por 25 milhões de euros, nenhum jogador considerado protagonista deixou o clube.

Pelo contrário. O zagueiro Jonathan Tah, pilar do sistema defensivo, e o talentoso meio campista Julian Bandt renovaram seus contratos. E teve ainda a contratação do jovem brasileiro Paulinho, contratado do Vasco da Gama por 18,5 milhões de euros. Em outras palavras: trata-se do mesmo time, relativamente bem reforçado.

Portanto, nada mais natural do que alargar os horizontes internacionais do clube. O objetivo declarado, em alto e bom som, era obter uma vaga para a próxima Liga dos Campeões. Só que para alcançar esta meta ambiciosa é preciso, no mínimo, ficar em quarto lugar na Bundesliga ao final da temporada.

Com apenas duas rodadas para o encerramento do primeiro turno, o Bayer Leverkusen se encontra apenas em 11º lugar. Vale ressaltar: dez pontos atrás do RB Leipzig, atual quarto colocado. E para piorar as coisas, o "clube da Aspirina" terá dois compromissos dificílimos nesta semana contra Schalke 04 e Hertha Berlim, que devem complicar ainda mais a situação nesta reta final do primeiro turno.

Se fosse apenas uma questão de pontuação, com um turno inteiro ainda por ser jogado, recuperar-se desta defasagem não seria nenhuma missão impossível. Acontece que, vira e mexe, o time tem jogado muito mal. Em suas últimas dez partidas, o Bayer Leverkusen somou três vitórias, três empates e quatro derrotas. Nota zero, portanto, no quesito regularidade.

O que era para ser uma campanha vitoriosa ameaça se transformar num redondo fracasso com o Bayer Leverkusen, mais uma vez, perambulando sonolentamente pela zona intermediária da tabela que, como sabemos, não leva a lugar nenhum.

Os saudosistas da velha guarda gostam de se lembrar dos bons tempos quando o então diretor executivo do clube Reiner Calmund vinha ao Brasil para contratar jogadores brasileiros do nível de Tita, Jorginho, Lúcio, Emerson, Paulo Sérgio, Zé Roberto, Zé Elias e muitos outros.

Calmund era fã incondicional daquele Brasil que todo gringo gosta: samba, caipirinha de cachaça, picanha, natureza exuberante e por aí vai. Por conta desta sua verdadeira adoração por este país, vinha ao Rio de Janeiro com frequência, assistia aos jogos no Maracanã e estava sempre pronto para contratar um "mágico do futebol".

Foi nesta época, mais precisamente na temporada 2001/2002, que o Bayer Leverkusen conseguiu a proeza de ser vice-campeão nas três competições que disputou: Bundesliga, Copa da Alemanha e Liga dos Campeões, esta perdida para o Real Madrid na final em Glasgow, na Escócia, por 2 a 1. Foi daí que surgiu o apelido de "Vizekusen" ("vice-Kusen"), denominação pejorativa que perdura até o dia de hoje.

Calmund se aposentou. O clube já não contrata mais tantos brasileiros como antes. No atual elenco apenas o lateral-esquerdo Wendell e Paulinho são os representantes brasileiros que, ao final da atual temporada, poderão presenciar uma mudança no comando técnico do clube. O contrato do atual treinador vence em junho de 2019 e só será renovado automaticamente se o time obtiver a classificação para a Liga dos Campeões, da qual o time está longe.

Por essas e outras, a diretoria do clube já começou a sondar o mercado. Em Leverkusen, rondam os boatos de que há dois candidatos que já teriam sido sondados através de intermediários. Um é o holandês Peter Bosz, que teve uma passagem melancólica pelo Borussia Dortmund no segundo semestre do ano passado. O outro seria Marco Rose, atual treinador do RB Salzburg, cujo contrato vence em 2020.

Seja como for, Herrlich sabe que precisa entregar o que prometeu no começo da temporada: "Vamos dar um passo gigantesco rumo à Liga dos Campeões".

Pelo menos, por enquanto, está devendo. A bem da verdade, não é só ele. Alguns jogadores também. Apenas dois atletas do Leverkusen estão no Top 60 do renomado portal esportivo alemão Kicker: o recém-contratado goleiro Lukas Hradecky e o volante Lars Bender. É muito pouco para um clube que tem em seu elenco jogadores que costumam representar as suas respectivas seleções nacionais.

Mas, como é de praxe, a corda acabará arrebentando do lado do técnico Herrlich. Ele que ponha a sua barba de molho e bote a molecada para jogar.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br

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