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Polícia francesa enfrenta onda de suicídios

Lisa Louis (ip)

19/12/2018 09h24

Só em 2018, mais de 50 policiais se mataram. Sob pressão, oficiais fazem campanha contra a deterioração das condições de trabalho.Maggy Biskupski é o último nome em uma lista de mais de 50 policiais que se mataram neste ano. Seu suicídio foi uma surpresa para muitos. A policial de 36 anos era exatamente um ícone na luta contra os suicídios na corporação.

"Ela sempre foi alegre, nunca ficava sem palavras. Podia-se confiar 100% nela", disse seu colega e bom amigo Guillaume Lebeau em uma recente passeata em Paris. Na ocasião, centenas de pessoas se reuniram carregando rosas brancas, algumas vestindo camisetas com uma foto impressa de Biskupski.

"Perdi minha parceira - fiquei com um vazio. Maggy, nós sentimos sua falta - nós amamos você!", disse Lebeau em um discurso emocionado, enxugando as lágrimas. A plateia aplaudiu. Em seguida, foi tocada a Marselhesa, o hino nacional da França.

Lebeau e Biskupski eram inseparáveis. Ela até mandou uma mensagem para ele dizendo adeus. "Quando vi a mensagem, eu me recusei a acreditar. Pensei: Não, não a Maggy", relembra. Ele chegou a enviar uma ambulância para a casa dela, mas a ajuda veio tarde demais.

A DW estava em contato com Biskupski. Ela ia levar nossa equipe de câmeras para o subúrbio onde trabalhava. Porém, alguns dias antes do encontro marcado, ela tirou a própria vida. Por telefone, ela havia contado sobre suas difíceis condições de trabalho.

"É catastrófico. Subúrbios como este são áreas sem lei. Alguns dos habitantes odeiam a polícia e continuam nos atacando. Não podemos viver onde trabalhamos; seria muito perigoso para nós e nossa família", disse ela.

Depois do suicídio de Biskupski, Lebeau concordou em nos levar para aquele subúrbio - fez isso por ela. Ele havia dito "não" a todos os outros pedidos de jornalistas que recebeu após o episódio.

Juntos, eles fizeram campanha contra a deterioração das condições de trabalho da polícia. Lebeau acredita que isso foi uma das principais razões para o suicídio de Biskupski.

"Algumas de nossas viaturas têm centenas de milhares de quilômetros rodados. Em uma perseguição, não podemos acompanhar os carros rápidos. Além disso, nossos rádios muitas vezes não funcionam. É assim que temos que operar em áreas onde as pessoas atiram pedras e cospem na gente. Isso realmente nos desanima", explicou Lebeau enquanto dirigia pelo subúrbio.

Lebeau disse ainda que, devido à ameaça terrorista atual, os policiais dificilmente podem tirar uma folga.

Naquele subúrbio, sair do carro com a câmera teria sido muito perigoso - mesmo de manhã, antes do tráfico de drogas começar. Lebeau contou que Biskupski achava que seus chefes tornavam o trabalho ainda mais difícil.

"Eles exigem resultados concretos. Maggy tinha que prender 30 pessoas por mês - não importava por quê. Nós dois sentíamos que ser policial era nossa vocação. Mas como que os dirigentes podem introduzir regras que fazem as pessoas nos odiarem ainda mais?", pergunta.

O governo, contudo, alega que os suicídios policiais não estão necessariamente ligados às condições de trabalho. Um pedido da DW para se juntar a uma patrulha policial com uma câmera para ter uma melhor ideia de tal ambiente de trabalho foi recusado.

A polícia, no entanto, aumentou o número de psicólogos para combater e prevenir os suicídios - de 50 para 89, voltados para o atendimento de 120 mil policiais.

Gerard Clerissi, chefe de recursos humanos da polícia, disse à DW que a proporção é melhor do que em outros países.

Ao mesmo tempo, negou que a polícia apresentasse problemas de ordem basal.

"É completamente normal dar metas concretas aos nossos policiais. Precisamos justificar nossas despesas com o dinheiro do contribuinte", argumentou.

Ele acrescentou que agora há menos pressão sobre a polícia e que a força policial será reforçada por mais 7.500 policiais nos próximos quatro anos.

No entanto, para Lebeau, tal resposta não é boa o suficiente.

Ele acha que a polícia precisa ser completamente reformada. "Se o governo tomasse conta do povo, não precisaríamos lutar por melhores condições de trabalho. E Maggy ainda estaria aqui", disse.

Lebeau pretende continuar a luta de Biskupski a fim de garantir que seu sacrifício não tenha sido em vão.

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