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"O tempo joga contra Maduro", afirma Guaidó à DW

O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, durante um protesto contra o presidente Nicolás Maduro em Caracas - CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS
O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, durante um protesto contra o presidente Nicolás Maduro em Caracas Imagem: CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS

12/02/2019 14h37

Em entrevista, oposicionista afirma ser impossível deter movimento iniciado com sua autoproclamação à presidência interina e nega que tenha considerado uma intervenção dos Estados Unidos na Venezuela. O oposicionista e autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, afirmou nesta segunda-feira (11), em entrevista exclusiva à DW em Caracas, que o governo de Nicolás Maduro não tem futuro e que o "tempo joga contra o regime".

"É um regime que não tem propostas, não tem respaldo popular, não tem direção e não protege nenhum dos seus [cidadãos], versus um movimento popular que se mantém, cresce, ganha apoio internacional e apresenta uma opção de estabilização para a Venezuela", afirmou.

O oposicionista classificou o movimento iniciado com a sua autoproclamação à presidência interina, em 23 de janeiro, de impossível de deter. "Eles poderão insistir na única coisa que sabem fazer, que é a repressão, perseguição e tortura ou simplesmente roubar o dinheiro da Venezuela. Mas o que é impossível de deter é o fato de que vamos produzir uma transição pacífica democrática na Venezuela pelo bem do nosso povo", disse.

Presidente da Assembleia Nacional, controlada pela oposição, Guaidó chegou a ser detido por cerca de meia hora em 13 de janeiro, antes de participar de um protesto contra o governo. Ao ser entrevistado pela DW em Caracas, ele disse acreditar que ainda está em liberdade graças à grande mobilização popular, ao respaldo internacional e à Constituição venezuelana.

"Já me sequestraram uma vez e ameaçaram em algumas ocasiões a minha família. Já vimos o que fazem com a dissidência na Venezuela [...], mas seguiremos firmes", afirmou.

Guaidó não quis comentar a possibilidade de ser candidato em eleições presidenciais convocadas por um governo interino, afirmando que "primeiro é preciso construir" e que o país está passando por um processo de "fim da usurpação [do poder por Maduro]" e construção de um governo de transição. "Meu papel neste momento é articular. [....] Veremos quem nos representará em eleições livres", disse,

Em meio à grave crise econômica que provoca escassez de produtos básicos na Venezuela e à disputa de poder entre Guaidó e Maduro, este nega a existência de uma crise humanitária, afirmando que ela foi inventada pelos EUA para justificaram uma intervenção no país, enquanto o oposicionista defende ajuda externa para evitar uma catástrofe.

Guaidó confirmou à DW que uma pequena quantidade de ajuda humanitária chegou à Venezuela e foi distribuída nesta segunda-feira. "Conseguimos entregar 4.500 suplementos nutricionais para mães em período de gestação com estado de nutrição [...] e quase 85 mil suplementos nutricionais para jovens ou crianças e bebês com desnutrição", disse. "Há um povo esperando pela chegada de ajuda humanitária como um primeiro passo [para amenizar a crise]."

Ajuda humanitária enviada pelos EUA foi encaminhada nos últimos dias para a cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela, mas o governo Maduro impediu a entrada da carga no país. Na última terça-feira, o departamento de imigração colombiano divulgou fotos em que um contêiner e um carro-tanque bloqueiam as pistas de uma ponte que liga os dois países.

Após apelar aos militares no último fim de semana, Guaidó reiterou à DW que seria um crime impedir por completo a entrada de ajuda humanitária no país. "Não falamos pelas entrelinhas às Forças Armadas. Dissemos claramente que elas devem permitir a entrada de ajuda humanitária e que não fazê-lo será considerado um crime contra a humanidade", afirmou.

"Na Venezuela poderíamos estar falando de um genocídio silencioso quando centenas de milhares de pessoas perderam a vida por falta de mantimentos, por não se proteger o direito à vida", prosseguiu Guaidó.

"Esse regime mata diretamente, um país que matou 70 pessoas em uma semana porque estavam protestando, e indiretamente, porque não entende a crise de alimentos, porque não entende a crise de suprimentos médicos nem a insegurança que faz de Caracas a capital mais violenta do planeta", criticou.

Após alguns veículos de imprensa noticiarem no último fim de semana que Guaidó considera a possibilidade de uma intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela, o oposicionista negou ter afirmado isso, sem descartar, no entanto, um possível pedido de ajuda a outros países.

"Perguntaram-me muito sobre a possibilidade de que um país preste esse tipo de apoio. E eu disse claramente que a Venezuela vai tomar todas as decisões de forma soberana e no exercício dos nossos poderes como presidente interino e como Parlamento nacional, salvaguardando a vida de todos os venezuelanos, procurando ter pouco ou nenhum custo social, gerando estabilidade e governabilidade, para dar atenção à emergência e sair de uma ditadura", disse. "Nós vamos decidir qual é a força necessária para fazer cessar a usurpação."