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Diplomacia de bastidores marca Conferência de Segurança de Munique

Matthias von Hein (md)

15/02/2019 13h52

Líderes de todo o mundo se reúnem anualmente no sul da Alemanha para falar sobre guerras e paz. Destinos globais não são definidos apenas no salão principal, mas também nos corredores e quartos de hotel.Cerca de 35 chefes de Estado e de governo, mais 80 ministros do Exterior e da Defesa e 600 especialistas em política de segurança – o chefe do evento, Wolfgang Ischinger, afirma que esta é a "maior e mais importante" Conferência de Segurança de Munique (MSC) desde a fundação, há mais de 50 anos.

Nesta sexta-feira (15/02) não começa apenas um encontro de 48 horas recheado de eventos, nos quais presidentes e ministros da Defesa discursam e ministros do Exterior debatem – incluindo representantes de campos adversários e abertamente hostis. O encontro abre, ao mesmo tempo, um laboratório de oportunidades diplomáticas em que posições e ideias são sondadas e analisadas. Tudo por trás dos bastidores, da forma mais silenciosa e discreta possível.

Isso certamente também se deve ao local da conferência. O tradicional e amplo hotel Bayerischer Hof se estende por vários compartimentos, cujos recintos e ângulos são perfeitos para a diplomacia de bastidores. Tapetes abafam os passos. Inumeráveis ??degraus e passagens fornecem caminhos protegidos para os quartos – driblando repórteres, fotógrafos e outros observadores indesejados. A organização reservou cem salas para reuniões reservadas.



"A Conferência de Segurança de Munique é um lugar onde ideias podem ser testadas, onde alianças podem ser desenvolvidas e onde preparativos podem ser feitos para fazer avançar processos de paz ou até mesmo para começá-los", diz Ischinger.

Ele afirma que a conferência é apenas a ponta do iceberg, destacando que não menos importantes quanto as aparições públicas no grande salão nobre do hotel são os muitos encontros reservados entre as delegações. São eles que fazem da Conferência de Segurança uma plataforma para a política real.

Ischinger gosta de citar como exemplo as negociações do acordo de controle de armas nucleares estratégicas New Start. Em entrevista à revista Internationale Politik, ele lembrou que as negociações começaram a partir de conversas desenvolvidas durante a Conferência de Segurança de 2009. Dois anos depois, a então secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e seu colega russo, Serguei Lavrov, assinaram os papeis de ratificação também em Munique, durante a Conferência de Segurança.

Quando quartos e intérpretes estão disponíveis, e os políticos podem ser encontrar cara a cara no mesmo lugar sem ter que atravessar a rua, encontros incomuns podem ocorrer. Sem dar detalhes, Ischinger relata que americanos já aproveitaram a oportunidade para "ter uma conversa séria com os iranianos".

Assim, se o público encolher durante as aparições públicas da chanceler federal Angela Merkel e do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, neste fim de semana, provavelmente não será porque os participantes da conferência estão passeando por Munique. É mais provável que eles estejam em alguma das conversações bilaterais, das quais aconteceram cerca de 2.200 no ano passado, segundo a organização da Conferência de Segurança.



"Essas reuniões bilaterais ou às vezes trilaterais tornaram-se parte integrante da conferência", enfatiza Tobias Bunde, um dos responsáveis pela organização do evento. "Para muitos governos, a Conferência de Segurança de Munique é uma maneira muito eficiente de se reunir com membros de outros governos num curto espaço de tempo, o que de outra forma custaria muitas milhas aéreas", diz Bunde.

Nos tempos atuais, porém, a política externa passou a ser dominada por tuítes. Especialmente o presidente dos EUA, Donald Trump, costuma surpreender aliados e adversários ao anunciar importantes decisões de política externa via Twitter.

Mas a conversa direta com aliados e mesmo rivais durante a Conferência de Segurança nada perdeu em importância para Merkel, por exemplo. Nem mesmo em comparação com a época da Guerra Fria, quando a Conferência de Segurança de Munique ganhou sua reputação, a partir de 1963. A chanceler federal alemã destaca que, embora o mundo não seja mais bipolar, há mais conflitos locais e novos desafios, como o terrorismo. "É por isso que conversar continua sendo tão importante quanto na época da Guerra Fria", ressalta.

Neste ano, a maior delegação dos EUA de todos os tempos é esperada em Munique. O vice-presidente Mike Pence, assim como o secretário de Estado Mike Pompeo, o secretário da Defesa, Patrick Shanahan, e a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, deverão estar na capital bávara. Isso dá motivos de sobra para acreditar que, mesmo em Washington, sejam trilhados caminhos diplomáticos que vão além da diplomacia do Twitter.

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