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Concertos rivais devem refletir disputa de poder na fronteira da Venezuela

20.fev.2019 - Trabalhadores montam a estrutura do palco que sediará um show na sexta-feira (22), na fronteira da Venezuela com a Colômbia - SCHNEYDER MENDOZA/AFP
20.fev.2019 - Trabalhadores montam a estrutura do palco que sediará um show na sexta-feira (22), na fronteira da Venezuela com a Colômbia Imagem: SCHNEYDER MENDOZA/AFP

22/02/2019 08h18

De um lado, músicos que apoiam a oposição exigirão a entrada de ajuda humanitária no país, bloqueada pelo presidente Nicolás Maduro. Do outro, apoiadores do regime farão manifestações em defesa do governo. A contenda pelo poder na Venezuela se tornará também uma competição entre eventos musicais antagônicos a partir desta sexta-feira (22), na fronteira do país com a Colômbia.

De um lado, músicos e bandas que apoiam a oposição farão concertos para exigir a entrada de ajuda humanitária no país, bloqueada pelo presidente Nicolás Maduro. Do outro, artistas apoiadores do regime farão apresentações para se manifestar em defesa do governo.

Os dois eventos ocorrerão em cada um dos lados de uma ponte na fronteira com a Colômbia, onde se acumulam toneladas de alimentos e medicamentos cuja entrada não foi permitida na Venezuela. No lado colombiano, o bilionário Richard Branson patrocina um megaevento com 30 atrações, incluindo grandes nomes como os cantores Juanes, Alejandro Sanz e a banda mexicana Maná, na cidade fronteiriça de Cúcuta.

Os organizadores dizem que o show será o início de uma campanha de 60 dias durante os quais esperam arrecadar 100 milhões de dólares que serão destinados ao povo venezuelano, nos moldes do concerto Live Aid, que em 1985 arrecadou doações contra a fome na Etiópia.

A Venezuela enfrenta uma grave escassez de alimentos e medicamentos e sofre os efeitos de uma hiperinflação que reduz significativamente o poder aquisitivo da população.

Do outro lado da ponte, o governo de Maduro planejou um festival de três dias chamado "Mãos fora da Venezuela", mas ainda não informou quem serão os músicos e grupos que se apresentarão no show.


A cidade colombiana de Cúcuta é uma das várias localidades na fronteira onde a ajuda humanitária se acumula, sem que Maduro permita a entrada no país. Ele afirmou que se trata de uma "armadilha para caçar tolos" e que o carregamento enviado pelos EUA e outros países seria de "comida podre e contaminada, para intervir na Venezuela, se infiltrar pela fronteira e ocupar espaços". No início da semana ele anunciou que uma grande remessa de ajuda humanitária da Rússia estaria a caminho do país.

Nesta quinta-feira, Maduro anunciou o fechamento da fronteira do país com o Brasil, dois dias após o governo brasileiro ter atendido a um apelo do autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, e anunciado o envio de ajuda humanitária. O presidente argumentou, sem apresentar provas, que os alimentos armazenados na fronteira com o Brasil e com a Colômbia são cancerígenos.

O Brasil diz que manterá o planejamento de ajuda humanitária à Venezuela, mesmo após o fechamento da fronteira. A estimativa é fazer chegar à região fronteiriça alimentos e remédios neste sábado (23/02), dia em que faz um mês que Juan Guaidó se autoproclamou presidente interino do país. Segundo o porta-voz da Presidência brasileira, Otávio do Rêgo Barros, o Brasil estaria "em condições (...) para prover os irmãos venezuelanos dentro do território venezuelano se houver a disponibilidade de meios e motoristas por parte dos venezuelanos liderados pelo Guaidó".

De acordo com Barros, a disposição do Brasil aguarda a chegada dos caminhões vindos da Venezuela, conduzidos por venezuelanos, mesmo que isso demore mais que o previsto. O carregamento brasileiro inclui 22 toneladas de leite em pó e 500 kits de primeiros socorros.

Guaidó viajou à fronteira prometendo fazer com que a ajuda humanitária entre no país, apesar dos bloqueios montados pelo regime chavista, mas não disse de que maneira isso deverá ocorrer.

A Venezuela vive grande instabilidade política desde 10 de janeiro, quando Maduro tomou posse após eleições que não foram reconhecidas como legítimas pela maioria da comunidade internacional. A crise política agravou-se em 23 de janeiro, quando Guaidó, líder da Assembleia Nacional, se autoproclamou presidente interino e declarou assumir os poderes executivos de Maduro.

Guaidó, de 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres. Cerca de 50 países já reconheceram o líder oposicionista, inclusive o Brasil.

O vice-presidente brasileiro Hamilton Mourão reiterou que o Brasil não tem planos de intervenção na Venezuela. "Apenas manteremos a pressão interna e as palavras junto com os demais países que estão cooperando no esforço para que a Venezuela retome um caminho de democracia", disse.

Mourão viaja à Colômbia nesta segunda-feira (25) acompanhado pelo chanceler Ernesto Araújo para discutir a atual situação do país vizinho com o Grupo de Lima.