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Comboio tenta furar bloqueio de Maduro

23/02/2019 15h49

Veículos com ajuda humanitária estão sendo impedidos de cruzar fronteira entre a Colômbia e a Venezuela. Líder oposicionista Juan Guaidó faz apelo para que militares deixem de apoiar regime chavista. Protestos, confrontos, deserções de militares e tensão na fronteira da Venezuela com a Colômbia vem marcando o "Dia D” de distribuição de ajuda humanitária organizado pela oposição venezuelana e pelos adversários internacionais do regime de Nicolás Maduro.

Na tarde deste sábado (23/02), militares venezuelanos usaram gás lacrimogênio e balas de borracha na cidade fronteiriça de Ureña para dispersar centenas de pessoas que tentavam atravessar a divisa, que foi fechada na sexta-feira por ordem do regime chavista para bloquear a entrada de ajuda humanitária. Vários manifestantes reagiram e atiraram pedras nos militares.

O líder oposicionista Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente da Venezuela em janeiro, se dirigiu à Colômbia, apesar de uma ordem do judiciário chavista que o proíbe de deixar o país. Em Cúcuta, do lado colombiano, Guaidó discursou ao lado do presidente Ivan Duque.

"Estamos recolhendo toneladas de ajuda humanitária, em uma ação que busca salvar vidas. É um chamado pacífico, mas firme, para garantir o avanço da ajuda humanitária até a Venezuela", disse Guaidó, que foi reconhecido como presidente da Venezuela por 50 países, entre eles Estados Unidos e Brasil.

Guaidó ainda fez um apelo para que os membros das Forças Armadas venezuelanas se juntem à oposição.

"O chamado é muito claro às Forças Armadas: bem-vindos ao lado correto da história. A anistia é um fato para todos esses militares que estiverem dispostos hoje a ajudar o povo venezuelano e resgatar a nossa Constituição", disse Guaidó.

No momento, o líder da oposição tenta organizar a passagem de um comboio de dez caminhões carregados com ajuda humanitária que aguardam em Cúcuta. O autoritário governo chavista não vem permitindo a entrada desse tipo de ajuda, apesar da grave crise econômica e social que atinge o país. Pelo Twitter, Guaidó afirmou que os caminhões já atravessaram a linha da fronteira, mas que a passagem vem sendo bloqueada pelo "regime usurpador”.

Já o presidente da Colômbia afirmou que Maduro será responsabilizado caso haja qualquer episódio de violência na fronteira e pediu que a ajuda humanitária seja entregue em solo venezuelano.

"Exigimos que se permita a entrada dessa ajuda, de forma pacífica em território venezuelano", disse Duque. "Impedir que isso aconteça é um atentado aos direitos humanos e poderia constituir uma crise de lesa-humanidade", completou.

Ainda na fronteira entre Colômbia e Venezuela, o movimento de oposição a Maduro registrou algumas pequenas vitórias simbólicas, como a deserção de pelo menos seis militares das tropas chavistas, entre eles um general, que abandonaram suas formações e se dirigiram para a Colômbia. Já em Cucuta, o general venezuelano Hugo Parra Martinez disse que vai acompanhar "o povo venezuelano em sua luta” e que reconheceu Guaidó como presidente.

Na fronteira do Brasil com a Venezuela, que está fechada desde quinta-feira, também por ordem de Maduro, a situação neste sábado tem sido mais calma. Houve registro de protestos, mas sem incidentes. Assim como a Colômbia, o governo brasileiro também organizou na fronteira um ponto de distribuição de ajuda humanitária.

Neste sábado, uma caminhonete com sete toneladas de ajuda se dirigiu até a cidade fronteiriça de Pacaraima. Mais cedo, Guaidó chegou afirmar que o veículo havia conseguido atravessar a fronteira sem incidentes, mas relatos de jornalistas que estão no local apontam que a caminhonete atravessou a linha de demarcação, mas ainda não superou o bloqueio militar mais à frente.

Na sexta-feira, relatos locais apontaram que dois índios venezuelanos morreram após tentarem impedir a passagem de um comboio militar das tropas chavistas que se dirigiam a fronteira para reforçar o bloqueio na fronteira.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, que está em Pacaraima, afirmou que a expectativa era que as forças de segurança da Venezuela permitam a entrada dos primeiros caminhões com a ajuda humanitária a partir do lado brasileiro.

O chanceler brasileiro ainda afirmou que a ajuda humanitária é exclusivamente humanitária e que não se trabalha com a perspectiva de que haja qualquer conflito na fronteira.

"Não há menor expectativa de conflito, claro que o Exército está preparado (para agir) caso isso possa se materializar”, ressalvou o ministro das Relações Exteriores.

O governo em Caracas insiste em negar a existência de uma crise humanitária nacional. A afirmação contradiz os dados mais recentes das Nações Unidas situando em 3,4 milhões o atual número de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo.

Maduro encara a entrada dessa ajuda humanitária como um "cavalo de Troia", supostamente dando início a uma intervenção militar dos americanos, além de ter justificado a carestia nacional com as sanções impostas por Washington.

Na véspera, o Brasil reafirmou que vai manter a operação de entrega de ajuda humanitária à Venezuela através da fronteira brasileira neste sábado e nos próximos dias, mesmo com o bloqueio anunciado por Maduro.

O chanceler brasileiro ainda afirmou que a ajuda humanitária é exclusivamente humanitária e que não se trabalha com a perspectiva de que haja qualquer conflito na fronteira.

"Não há menor expectativa de conflito, claro que o Exército está preparado (para agir) caso isso possa se materializar”, ressalvou o ministro das Relações Exteriores.

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