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O maior e mais longo apagão de Berlim nas últimas décadas

Clarissa Neher

25/02/2019 07h50

Mais de 30 mil residências e 2 mil estabelecimentos comerciais ficaram sem luz por mais de um dia na semana passada devido a um falha numa obra. Situação excepcional na Alemanha gerou confusão e medo.Um acontecimento bem fora do comum aqui na Alemanha movimentou Berlim na semana passada: um apagão deixou no escuro por mais de 30 horas cerca de 30 mil residências e 2 mil estabelecimentos comerciais no bairro Köpenick. A imprensa falou na maior e mais longa queda de energia elétrica em décadas na cidade.

Causado por um erro que atingiu a rede elétrica, durante uma obra numa ponte na terça-feira passada, o apagão gerou confusão na cidade. A falta de eletricidade fez com que parte da rede ferroviária e de metrô no sudeste da capital alemã ficasse paralisada. Escolas cancelaram aulas; restaurantes, cafés e supermercados permaneceram com as portas fechadas.

A queda de energia também afetou uma usina de geração de calor e estações de comunicação, deixando parte da população sem aquecimento e telefone. O serviço de proteção contra catástrofes foi acionado e disponibilizou um caminhão no qual moradores poderiam carregar a bateria de celulares e buscar informações. Um abrigo de emergência, com calefação e capacidade para 250 pessoas, foi montado.

Quando li as notícias sobre o apagão, minha primeira reação foi ver um certo exagero na reação das autoridades. Afinal, faltar luz, às vezes por algumas horas, é uma situação bem normal no Brasil. Com a fiação a céu aberto, volta e meia, devido a um poste derrubado num acidente ou algum temporal ou vendaval, o fornecimento de energia é interrompido. Quando eu morava no Brasil, o procedimento nesses casos era o mesmo: se já estivesse escuro, correr para a gaveta das velas e acendê-las. De resto, era ter paciência e esperar até a energia voltar.

Aqui, como a fiação é subterrânea – o que deixa as cidades muito mais bonitas –, situações como essa são raras. Em mais de dez anos na Alemanha, nunca fiquei sem eletricidade em casa. Refletindo um pouco mais, percebi que a excepcionalidade do fato foi o que alarmou os atingidos. Vivemos num mundo onde quase tudo é movido pela eletricidade, e as pessoas foram perdendo o hábito de viver sem aparelhos eletrônicos. Muitos não sabem o que fazer se são privados da tecnologia.

Em algumas reportagens que vi sobre o apagão, ficar sem smartphone e sem acesso à internet pareciam ser as maiores preocupações. O medo de ficar sem ter o que comer, pois a maioria das casas possuem fogões elétricos, não era tão terrível quanto o de se desconectar.

Depois de 30 horas, o problema foi resolvido, e no fim do susto, a polícia berlinense não perdeu a oportunidade de fazer piada nas redes sociais. Segundo uma lenda, nove meses depois de apagões há uma pequena explosão nas taxas de natalidades nas regiões atingidas. Não existem estudos científicos sobre isso, mas a polícia confiou na sabedoria popular e aproveitou para dar dicas de nomes aos futuros pais do apagão.



Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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