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Mulheres ganham desconto no transporte público em Berlim

Idosas seguram cartaz com a frase "Mesmo trabalho, mesmo salário", na Alemanha - Tobias Schwarz/Reuters
Idosas seguram cartaz com a frase "Mesmo trabalho, mesmo salário", na Alemanha Imagem: Tobias Schwarz/Reuters

Clarissa Neher*

18/03/2019 09h44

No Dia da Igualdade Salarial, empresa pública de transporte oferece passagem 21% mais barata para mulheres. Alvo de críticas, desconto equivale à diferença salarial por gênero existente na Alemanha.

Até esta segunda-feira (18), as mulheres na Alemanha trabalharam de graça desde o começo do ano, se for levada em conta a diferença salarial por gênero existente no país. Aqui, as mulheres recebem em média 21% a menos do que homens. Ou seja, diante desta lacuna, para receberem o mesmo salário que os homens, o ano das mulheres precisaria ter 442 dias.

A equiparação salarial ainda é uma das grandes batalhas do movimento feminista na Alemanha. O país possuiu uma das maiores diferenças entre os salários por gênero da Europa, ficando atrás de Portugal (16,3%), Hungria (14,2%), Suécia (12,6%) e Polônia (7,2%). Além desta lacuna no pagamento, as mulheres ainda estão em minoria em cargos de chefia de empresas e na política.

Para lembrar e combater essa desigualdade, vários protestos e debates sobre o tema acontecem em diferentes cidades alemãs nesta segunda-feira, no Dia da Igualdade Salarial. Em Berlim, nesta data as mulheres ganharam, pela primeira vez, 21% de desconto na passagem do transporte público.

Com a campanha inédita Ticket das Mulheres, a empresa pública que administra os ônibus, metrôs e bondes de Berlim, a BVG, pretende chamar a atenção para essa lacuna salarial entre homens e mulheres.

"Precisamos falar quando pessoas são tratadas de forma diferente sem nenhuma razão. As mulheres merecem não somente os mesmos direitos perante a lei, mas também as mesmas oportunidades e valorização", destacou a empresa. "Esse é um pequeno gesto de solidariedade que nem de longe se compara com a renda da qual as mulheres são privadas durante todo o ano", ressaltou.

Como toda campanha de luta por direitos das mulheres, a iniciativa da BVG provocou o ego de alguns homens. Aqueles que ainda se acham superiores, que não estão dispostos a repartir seus privilégios e que gostam de dizer que reivindicação por direitos é mimimi, quando na verdade quem é cheio de mimimi são eles. A principal crítica foi que os "pobres homens" estão sendo discriminados ao não terem um desconto igual ao das mulheres neste dia.

"Não é nossa intenção que homens se sintam discriminados com a ação. Se ocorrer, pedimos desculpas. Porém, por outro lado, quem pede desculpa para as mulheres que ganham em média 21% a menos? A maioria dos homens em Berlim não vai somente entender essa ação, como também apoiar", afirmou a BVG.

A promoção é válida apenas para a passagem válida por um dia, cujo preço normal é de 7 euros, e que será vendida por 5,50 euros para todas as mulheres, inclusive as transgênero. Homens que forem pegos ao darem uma de espertinhos e comprarem a passagem especial receberão uma multa de 60 euros, punição para quem usa o transporte público sem bilhete válido.

A BVG aproveitou a campanha para promover a empresa e tentar atrair mais funcionárias, lembrando que paga os mesmo salários para as mesmas funções, estimula a promoção de mulheres em cargos de chefia e incentiva modelos de trabalho flexíveis para funcionários com filhos. Em 2010, Sigrid Evelyn Nikutta se tornou a primeira mulher a presidir a empresa de transporte público da capital alemã.

A BVG já ganhou fama por inovar em suas campanhas. No ano passado, a empresa lançou um tênis que valia como passagem e um aplicativo de carona coletiva semelhante ao Uber, além de testar ônibus autônomos.

Recentemente, o governo de Berlim - formado por uma coligação entre Partido Social Democrata (SPD), Partido Verde e A Esquerda - anunciou que pretende destinar 28,1 bilhões de euros (cerca de 120 bilhões de reais) até 2035 para reformas e ampliação da atual infraestrutura do transporte público.

*É jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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