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Bayern heptacampeão - um fracasso para a Bundesliga

Gerd Wenzel

21/05/2019 05h53

A conquista do heptacampeonato diz mais sobre os outros grandes clubes da Alemanha do que sobre o próprio Bayern. O futebol alemão parece ter regredido à uma época que se julgava já ultrapassada.A festa pelo hepta na Allianz Arena foi de arromba. Também, não era por menos. Afinal, na história centenária do campeonato alemão, nenhum clube conseguiu realizar tal proeza.

É verdade que, na antiga RDA, o Berliner FC Dynamo venceu por dez anos consecutivos o título (1979 – 1988). A conquista, contudo, é suspeita porque o clube era ligado à Stasi (polícia política), cujo chefão Erich Mielke, sem a menor cerimônia, manipulava partidas a favor do seu clube para obter títulos questionáveis e sem nenhum valor esportivo.

Desde a abertura dos portões, o clima reinante na arena de Munique estava carregado de fortes emoções. Antes de começar a partida, a diretoria bávara fez uma homenagem a três veteranos que deixaram suas marcas indeléveis na trajetória do clube na atual década: Ribéry, Robben e Rafinha. Olhos marejados, tanto do presidente Uli Hoeness quanto do brasileiro Rafinha. Emoções ainda controladas de Ribéry e Robben.

Poucas vezes, durante a atual campanha do Bayern, se viu tamanha unanimidade manifestada pela torcida nos momentos que antecederam o jogo com o Eintracht Frankfurt.

A cereja do bolo da memorável tarde daquele sábado foi quando, já no segundo tempo, com o placar definido por 3 a 1 a favor dos bávaros, o locutor oficial do estádio anunciou primeiro a entrada de Ribéry e logo em seguida a de Robben. Robbéry em campo pela última vez em Munique, para o delírio da torcida.

Ribéry parecia possuído pelos melhores espíritos dos deuses do futebol. Marcou um dos gols mais bonitos de sua carreira logo após entrar em campo. Depois do jogo, foi para a galera ultra da Curva Sul e, visivelmente emocionado, festejou seu nono título de campeão alemão.

Foi uma tarde memorável que, entretanto, não deve iludir o observador crítico do futebol alemão.

A conquista do heptacampeonato diz mais sobre os outros assim considerados grandes clubes da Alemanha do que sobre o próprio Bayern. A começar pelo Borussia Dortmund. Desde 2013 nenhum clube chegou tão perto de superar o Bayern na corrida pelo título do que o time auri-negro. Liderou por ampla margem de nove pontos na 15ª rodada, mas na fase decisiva do segundo turno da competição vacilou feio.

Diante três sérios candidatos ao rebaixamento, a saber, Nuremberg, Augsburg e Schalke, obteve apenas um ponto: foram duas derrotas e um empate. O pior mesmo foi o vexame contra o Schalke em pleno Signal Iduna Park. Isso sem contar a goleada sofrida frente ao Bayern depois de uma apresentação digna de pena na Allianz Arena.

Fato é que, pela primeira vez em seis anos, o Borussia Dortmund teve chances claras de vencer o título, mas jogou fora a oportunidade que teve e ninguém sabe ao certo quando surgirá de novo um cenário tão favorável para destronar o Bayern. Ficou apenas o consolo do campeonato ser decidido tão somente na última rodada.

E os outros?

O futebol do Borussia M'Gladbach evidenciou mais sombras do que luzes. O Hoffenheim entregou uma dezena de partidas que estavam praticamente ganhas. O Leverkusen foi muito mal no primeiro turno, assim como o Leipzig. Ambos só se recuperaram na segunda metade do campeonato para, ao menos, garantir uma vaga na Champions. Menos mal.

Basta olhar para as duas copas europeias. Nenhuma equipe alemã chegou sequer às quartas de final da Champions League. Sobrou o Eintracht Frankfurt na Liga Europa que, mais pelo empenho do que por qualquer outra coisa, disputou a semifinal para ser eliminado pelo Chelsea.

O futebol alemão parece ter regredido à uma época que se julgava já ultrapassada. E isto se aplica também ao Bayern Munique. Ou alguém, em sã consciência, vai dizer que o "eterno campeão alemão" está entre os dez melhores times da Europa? Não foi à toa que a Alemanha foi eliminada na fase de grupos da Copa de 2018.

Desde que os técnicos Jürgen Klopp, Thomas Tuchel, Ralph Hasenhüttl e, last but not least, Pep Guardiola, deixaram a Bundesliga, no futebol que a gente vê nos gramados alemães, sobra empenho, vontade e jogo físico. Refinamento conceitual e técnico, improvisação, talento individual e ousadia são matérias primas dificilmente encontradas.

O Bayern ofereceu o título de bandeja aos seus mais diretos concorrentes - e isso aconteceu diversas vezes no decorrer da competição, mas aparentemente ninguém estava muito interessado. Estavam sim preocupados com o segundo ou o terceiro lugar, dando por antecipação o título do Bayern como favas contadas. Enquanto isso, tentavam obter ao menos uma vaga na Liga Europa ou, na melhor das hipóteses, na Champions League.

Para o Bayern, a conquista de mais um campeonato certamente é motivo de festa.

Para os demais clubes da Bundesliga, especialmente para os assim chamados grandes, representa um enorme fracasso, que já dura sete temporadas.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br

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Autor: Gerd Wenzel