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Filipinas vai mandar lixo de volta ao Canadá e ameaça jogá-lo no mar

O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte - 9.fev.2018 - AFP
O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte Imagem: 9.fev.2018 - AFP

22/05/2019 15h36

O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, ordenou que sejam mandadas de volta para o Canadá toneladas de lixo que o governo filipino alega terem sido enviadas ilegalmente pelos canadenses ao seu território, anos atrás.

O anúncio foi feito nesta quarta-feira (22) pelo porta-voz da presidência filipina, Salvador Panelo. Segundo ele, se Ottawa se recusar a receber o lixo, ele será despejado em águas canadenses.

O posicionamento do presidente é fundamentado em princípios e inflexível: as Filipinas, como uma nação soberana independente, não podem ser tratadas como lixo por outra nação estrangeira

Salvador Panelo, porta-voz da presidência filipina

O porta-voz disse que Duterte ordenou seu governo a contratar uma empresa de transporte privada para transportar ao Canadá um total de 69 contêineres contendo cerca de 2.000 toneladas de lixo. As Filipinas vão arcar com os custos do envio, afirmou.

Segundo ele, a empresa contratada se chama Bollore Logistics Canada e levará "com segurança o lixo de volta ao Canadá o mais rapidamente possível". O transporte deve ser concluído até o final de junho, calculou o porta-voz.

Esses contêineres foram enviados ao país asiático entre 2013 e 2014 por uma empresa canadense, supostamente para que o lixo fosse reciclado. As remessas foram rotuladas como plásticos, mas continham também resíduos como fraldas, jornais e garrafas de água. Há anos o debate sobre o que fazer com esse material é acirrado.

Ottawa afirma que o envio do lixo às Filipinas foi uma transação comercial realizada sem o consentimento do governo canadense. Ainda assim, o Canadá já havia concordado em transportar o lixo de volta, e os dois países estavam no processo de organizar esse envio.

Contudo, o governo canadense perdeu um prazo definido pelas Filipinas para retirar os contêineres, até 15 de maio, o que irritou o governo em Manila. Como represália, Duterte mandou chamar seus diplomatas em Ottawa na semana passada.

"Obviamente, o Canadá não está levando a sério esse assunto ou nosso país. O povo filipino está gravemente insultado por o Canadá tratar nosso país como um local de despejo", disse Panelo.

Na semana passada, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que seu governo estava trabalhando com as autoridades filipinas e que esperava chegar a uma solução para o lixo em breve, mas não especificou um novo prazo.

Nesta quarta-feira, a ministra canadense do Exterior, Chrystia Freeland, afirmou que Ottawa está "comprometida em resolver essa questão o mais rapidamente possível". A declaração foi dada após ele conversar com o ministro filipino do Exterior, Teodoro Locsin, sobre a polêmica.

A questão, contudo, não é a única a elevar tensões entre os dois países. Os laços diplomáticos já haviam sido testados quando Trudeau questionou, logo após assumir o cargo, em 2015, a guerra contra as drogas conduzida por Duterte nas Filipinas.

O presidente filipino rechaça ferozmente qualquer crítica internacional à sua política contra o tráfico, que desde 2016 já levou a polícia a matar mais de 5.300 supostos usuários e traficantes de drogas.

Em 2018, Duterte ordenou que as Forças Armadas cancelassem um contrato de 233 milhões de dólares para a compra de 16 helicópteros do Canadá, depois de Ottawa ter expressado preocupação de que eles poderiam ser usados para ações que ferem os direitos humanos.

Em um discurso em abril, Duterte ameaçou declarar guerra ao Canadá por conta das toneladas de lixo paradas nos portos de seu país. "Vamos lutar contra o Canadá, vou declarar guerra contra eles."