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Espanha volta às urnas a fim de romper impasse político

10.nov.2019 - Eleitores espanhóis depositam seus votos em estação eleitoral de Madri, na Espanha - Susana Vera/Reuters
10.nov.2019 - Eleitores espanhóis depositam seus votos em estação eleitoral de Madri, na Espanha Imagem: Susana Vera/Reuters

Lisa Louis

10/11/2019 06h42

Os espanhóis votam pela quarta vez em quatro anos. Mas há poucos indícios de que estas eleições gerais destravem o bloqueio político no país, enquanto projeções preveem um Parlamento ainda mais fragmentado.

Miguel Ángel Goni, de 30 anos, está lutando por um futuro melhor. Ele tem feito campanha incansavelmente nas últimas semanas em prol do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), que, segundo as projeções, deve sair na frente nas eleições gerais deste domingo).

"Acho que o PSOE é realmente a única opção possível para nós, jovens. Ele representa uma luta contras as mudanças climáticas e a favor dos direitos dos trabalhadores e da igualdade de gênero", diz Goni, enquanto distribui panfletos ao lado de um grupo de outros jovens socialistas no bairro de Arguelles, em Madri.

Ser de centro-esquerda é uma tradição na família de Goni. Há oito anos, ele ingressou na ala juvenil do PSOE. Agora, ele diz acreditar que esta eleição será mais crucial do que nunca.

"Se o PP [Partido Popular, de centro-direita] nos ultrapassar e ficar em primeiro lugar, certamente juntaria forças com o ultradireitista Vox e isso levaria a uma regressão em nossos direitos", alerta. "Precisamos obter a maior parcela possível para que tenhamos uma margem estável para governar."

Mas isso não será fácil, especialmente porque a Justiça espanhola condenou recentemente vários líderes separatistas catalães a longas penas de prisão, o que resultou em confrontos violentos entre policiais e apoiadores da independência da Catalunha.

O PSOE tem adotado uma abordagem relativamente conciliatória em relação aos separatistas, a fim de não espantar os eleitores na Catalunha, onde o partido costuma obter bons resultados em eleições a nível nacional.

Mas a posição branda do PSOE não caiu bem em outras partes da Espanha. Projeções estimam que os socialistas conquistarão menos assentos do que no último pleito, em abril deste ano.

E isso certamente não é o que o presidente do governo (primeiro-ministro) interino, Pedro Sánchez, tinha em mente quando convocou uma eleição antecipada em setembro, depois de fracassar na formação de um governo com a aliança esquerdista Unidos Podemos.

Para a analista política Paola Cannata Molero, a decisão de Sánchez também pode ter piorado o cenário para o PSOE. "Nenhum dos partidos ganhará a maioria absoluta, e novamente eles terão que tentar formar uma coalizão. Mas isso parece ainda menos provável do que antes. Nossos políticos têm conversado como se fossem inimigos", afirma ela, de Madri.

Além disso, é possível que o Parlamento da Espanha fique ainda mais fragmentado com a inclusão de novos pequenos partidos, como a recém-fundada legenda de extrema-esquerda Más País, que deve assegurar assentos pela primeira vez, segundo as projeções.

Mas há vozes mais otimistas. "Acho que nossos políticos aprenderam a lição", diz Carles Torrijos, analista político de Valência. "O partido liberal Ciudadanos, por exemplo, vem abrandando sua posição, e acho que eles se absterão quando o Parlamento votar no próximo governo socialista", em vez de votar contra ele, afirma Torrijos.

"Mas o Ciudadanos não tem como ser o fiel da balança sozinho, e a Unidos Podemos também terá que ceder. Caso contrário, Sánchez simplesmente não obterá os números necessários", acrescenta o analista.

Estima-se que o Ciudadanos perderá dois terços de seus assentos, alguns dos quais provavelmente ficarão com o Vox, que tem conquistado eleitores com sua posição dura sobre a Catalunha. Várias pesquisas preveem que o partido ocupará o lugar do Ciudadanos como a terceira maior força no Parlamento espanhol, um salto do atual quinto posto.

"Um partido que fala o que pensa"

Luis Felipe Ulecia, que fundou a ala jovem do Vox em 2018, acredita que isso é mais do que merecido. "As pessoas têm razão em confiar em nós. Quarenta anos atrás, entregamos a Catalunha aos inimigos da nação e agora precisamos enviar toda a polícia disponível para sufocar essa revolta, retomar o controle e suspender o status de autonomia da região", afirma Ulecia, enquanto distribui panfletos a poucas centenas de metros dos socialistas.

Para o jovem de 24 anos, seu partido atende às necessidades do país, não apenas da Catalunha. "Finalmente há um partido que fala o que pensa sem medo e nos dá o direito de ter orgulho de ser espanhol novamente", afirma. "O Vox defende um forte estado central que trará prosperidade ao nosso país e que não se submeta a esse falso feminismo. [O partido] é pró-vida e defende uma família forte."

Ulecia diz estar convencido de que o posicionamento do Vox fará com que um dia seu líder, Santiago Abascal, seja eleito chefe de governo da Espanha.

Mas o socialista Miguel Ángel Goni está determinado a impedir que isso aconteça. No momento, ele diz apostar no cerca de um terço dos eleitores que ainda não se decidiram e no "senso comum" dos políticos espanhóis.

"Acho que todo mundo já entendeu que precisamos acabar com esse status de limbo", afirma. "Portanto, se de fato nenhuma coalizão puder ser formada, outros partidos devem assumir a responsabilidade e apoiar silenciosamente o partido com a maior parte dos votos para permitir que este forme um governo minoritário."

Muitos espanhóis aceitariam essa opção como último recurso. E se há algo em que todos na Espanha parecem concordar atualmente, é que o país não precisa tão logo de mais uma eleição antecipada.