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Símbolo do time alemão FC St. Pauli na mira da polícia britânica

20/01/2020 19h20

Ativismo associado à equipe alemã de futebol faz com que sua famosa bandeira apareça em lista de órgão de vigilância contra o terrorismo no Reino Unido, juntamente com emblemas do Greenpeace e Extinction Rebellion.O clube de futebol alemão FC St. Pauli, de Hamburgo, expressou perplexidade após a organização britânica Policiamento Contra o Terrorismo (CTP, na sigla em inglês) – que agrega a polícia e as agências de inteligência do Reino Unido – incluir o símbolo da equipe na lista de imagens associadas a grupos extremistas.

Na última sexta-feira (18/01), o CTP divulgou uma lista de símbolos, emblemas e distintivos de diversos grupos de extremistas de direita, neonazistas, nacionalistas e jihadistas, que também inclui organizações antifascistas, anarquistas e da esquerda radical. Nesta última categoria, aparece a bandeira que caracteriza o clube alemão – uma caveira com ossos cruzados sobre um fundo preto.

O St. Pauli, bastante conhecido pelo ativismo de seus torcedores contra o racismo, neonazismo e outras formas de preconceito, disse que foi pego de surpresa com a inclusão de seu distintivo nessa relação.

"Não consideramos esses grupos como extremistas, não os vemos como uma ameaça à segurança nacional", disse Dean Haydon, porta-voz do CTP, que também inclui na relação os símbolos da ONG ambientalista Greenpeace e do movimento Extinction Rebellion.

O objetivo da divulgação dessa lista seria aumentar a conscientização das forças de segurança britânicas sobre estes símbolos. "Fornecemos esse documento para os serviços de segurança e outros com o intuito de ajudar nossos colegas a tomarem decisões bem fundamentadas", afirmou Haydon.

"É necessário que nossa polícia antiterrorismo, forças de segurança e parceiros saibam a quais organizações as pessoas pertencem e quais são seus objetivos e atividades, sejam estas legais ou de outro tipo", explicou. O porta-voz esclareceu que muitos dos grupos que estão na lista não são suspeitos de cometerem atos ilegais. "Presumir o contrário seria contraprodutivo e enganoso."

O clube de Hamburgo, que disputa a 2ª divisão da Alemanha, foi a única equipe de futebol mencionada na lista. Um porta-voz do St. Pauli afirmou à DW que os dirigentes exigiram explicações das autoridades britânicas, mas não obtiveram resposta. Ele diz que a inclusão nessa lista foi algo completamente inesperado.

O jogador do St. Pauli James Lawrence, que também atua pela seleção do País de Gales, expressou publicamente sua admiração pelo clube. "Tenho orgulho do meu time e dos valores que defende", escreveu o jogador em postagem no Twitter. "Antifascista, antirracista, antissexista e antihomofóbico. Como não gostar?"

O clube retribuiu o carinho compartilhando a postagem do jogador. "Muito bem, James Lawrence! Nada a acrescentar, a não ser muito amor por James".



Os apoiadores britânicos do clube no Reino Unido que formaram a torcida Manchester St. Pauli expressaram solidariedade para com a equipe. "O fato de que um time da segunda divisão da Alemanha possa ter tanto impacto e ser reconhecido pelas forças de segurança britânicas é algo que deve ser motivo de orgulho", afirmou um representante do grupo à DW.

Futebol e ativismo

O FC St. Pauli é provavelmente é o clube alemão que melhor representa o dilema entre engajamento social e futebol competitivo. Como escreve o jornalista Leandro Vignoli no seu livro À sombra de gigantes, enquanto a torcida do arquirrival Hamburgo SV era infiltrada por hooligans neonazistas na década de 80, muitos torcedores do St. Pauli se engajavam na luta dos sem teto contra as arbitrariedades da polícia.

Graças à forte atuação das torcidas organizadas desde os anos 90, manifestações racistas e sexistas foram banidas do seu lendário estádio Millerntor. Deste modo, o St. Pauli se tornou o primeiro clube na Alemanha a eliminar gritos de guerra, cânticos, faixas e banners que tenham viés preconceituoso, em contraste com o aumento de atitudes racistas nos estádios nos dias atuais. A proibição está registrada oficialmente no estatuto do clube.

A caveira, emblema tradicional e secular da pirataria, é utilizada pela torcida como símbolo do "pobre contra o rico", retratando as dificuldades financeiras que o St. Pauli atravessa ano após ano, em contraste com os clubes todo-poderosos e multimilionários como Bayern de Munique, Borussia Dortmund e o próprio Hamburgo SV.

A torcida do St. Pauli é marcada pela cena punk dos anos 80 com sua militância contra homofobia, racismo, capitalismo selvagem e neonazismo. As faixas que os torcedores levam aos jogos são repletas de alusões ao ativismo que compõe a imagem do clube. Muitas delas trazem frases de apoio e acolhimento aos refugiados na Alemanha.

RC/dpa/ots/dw

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