Topo

Esse conteúdo é antigo

Brasil vive crise democrática, aponta estudo

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) discursa durante julgamento de seu impeachment no Senado, em agosto de 2016 - AFP GETTY
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) discursa durante julgamento de seu impeachment no Senado, em agosto de 2016 Imagem: AFP GETTY

Alexandre Schossler

30/01/2020 10h16

Menos de 20% dos brasileiros estão satisfeitos com seu sistema democrático, indica relatório da Universidade de Cambridge, que também detecta ampla insatisfação global com a democracia.

A satisfação com a democracia atingiu seu patamar mais baixo das últimas décadas no mundo em nível mundial, afirma um relatório publicado ontem pela Universidade de Cambridge, que analisou dados disponíveis desde 1995.

Na média mundial, o número de pessoas insatisfeitas com o sistema democrático em seus países é recorde e chegou a 57,5%, ficando 9,7 pontos percentuais acima de 1995.

A tendência negativa é especialmente forte desde 2005, ano que marca o "início de uma recessão democrática global", segundo os pesquisadores. Naquele ano, apenas 38,7% dos cidadãos estavam insatisfeitos.

Entre os motivos listados para a atual situação estão eventos políticos e sociais como a crise financeira de 2008, a subsequente crise do euro de 2009 e a crise dos refugiados na Europa, em 2015. A insatisfação com a democracia subiu 6,5 pontos percentuais após o colapso do banco Lehman Brothers, em outubro de 2008, afirma o relatório.

Brasil é país em crise democrática

No Brasil, a insatisfação pública com a democracia alcançou níveis recordes em meio à série de escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato, afirma o relatório. Menos de 20% dos brasileiros estão satisfeitos com o sistema democrático, aponta.

"Uma breve exceção ocorreu durante a primeira década do século 21, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de 2003 a 2010", observa o relatório. "Colhendo os frutos de um boom global de commodities, o governo Lula investiu em programas para reduzir a pobreza amplamente disseminada e reduzir a desigualdade."

"Em retrospecto, porém, esse foi apenas um hiato entre dois períodos de instabilidade - um marcado pelos efeitos da crise dos mercados emergentes do final dos 1990, e outro que começou com a Lava Jato [...]. Ao que parece, o futuro foi mais uma vez adiado para o Brasil."

Quatro categorias de países

O relatório separa os países analisados em quatro grupos: satisfação com a democracia, casos de preocupação, mal-estar e crise. O Brasil está no quarto, ao lado de Venezuela, México, Ucrânia, Colômbia, Peru e Moldávia, onde há democracias que enfrentam uma "real 'crise' de legitimidade" e três quartos dos cidadãos ou mais declaram insatisfação com o sistema democrático.

Os únicos países onde as pessoas estão satisfeitas com a democracia são Suíça, Dinamarca, Luxemburgo, Noruega, Irlanda, Holanda e Áustria.

A maioria dos países está nas duas categorias intermediárias. A Alemanha está entre os "casos de preocupação". Reino Unido, Estados Unidos, Espanha, Itália e França estão abaixo, na categoria "mal-estar".

O relatório também observa que a perda de confiança na democracia pode ter consequências futuras.

"Muitos dos países que, nos anos 1990, tinham os menores níveis de confiança na democracia - como Rússia, Venezuela e Belarus - são exatamente aqueles que experimentaram uma erosão democrática na década seguinte, geralmente com a eleição de homens-fortes que, uma vez no cargo, começaram a minar direitos civis e liberdades."