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Após Mandetta defender isolamento, Bolsonaro visita comércio em Brasília

29/03/2020 12h44

Após Mandetta defender isolamento, Bolsonaro visita comércio em Brasília - Presença do presidente em lojas provocou aglomerações. "Defendo que você trabalhe", disse Bolsonaro para comerciante. Visita ocorre um dia após ministro da saúde defender que é o momento de "ficar em casa".O presidente Jair Bolsonaro visitou na manhã deste domingo (29/03) vários comércios na região de Brasília, provocando aglomerações e desafiando as restrições impostas pelo governo do Distrito Federal para conter a circulação de pessoas.

O presidente ainda publicou vídeos das visitas em suas redes sociais. Neles, é possível ouvir comerciantes e camelôs falando que "querem trabalhar" – falas afinadas com o discurso de Bolsonaro, que vem defendendo uma "volta à normalidade" e atacando medidas amplas de isolamento impostas por governadores, apesar da pandemia de coronavírus.

Ao longo da manhã, o presidente parou com seu comboio em uma farmácia, uma padaria e uma mercearia em Brasília. Em todos os locais, falou com funcionários e tirou fotos com apoiadores. Bolsonaro ainda visitou rapidamente o Hospital das Forças Armadas (HFA).

Depois, ainda seguiu para Ceilândia, no Distrito Federal, e parou em um local onde normalmente funciona uma feira, mas que está fechada por ordem do governador Ibaneis Rocha (MDB), como parte dos esforços para conter a circulação de pessoas no estado. Mesmo com a feira fechada, a presença de Bolsonaro atraiu dezenas, que se aglomeraram em volta do presidente.



No local, Bolsonaro gravou mais um vídeo. Neste, um vendedor de espetinhos é ouvido falando que precisa trabalhar. "A morte está aí, mas seja o que deus quiser. Só não pode ficar é parado, porque se não morrer da doença, vai morrer de fome. Eu prefiro morrer de nenhum jeito, né?", disse o vendedor. O presidente respondeu: "Não vai morrer não". Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Bolsonaro ainda disse: "Eu defendo que você trabalhe. Lógico, quem é de idade fica em casa. Às vezes, o remédio demais vira veneno."

Em outros vídeos, uma mulher aparece pedindo que Bolsonaro faça algo para reabrir as igrejas. Ele respondeu que o governo vai recorrer da decisão de Justiça que derrubou decretos presidenciais que permitiam a abertura de templos religiosos em tempos de pandemia.

O presidente também apareceu nos vídeos deste domingo falando sobre a hidroxicloroquina , um medicamento que Bolsonaro e suas redes de apoiadores têm propagandeado como um tratamento eficaz contra o coronavírus, apesar de faltarem estudos amplos para embasar a afirmação. O próprio Ministério da Saúde tem advertido sobre os riscos de usar o fármaco sem indicação.

O passeio de Bolsonaro ocorreu poucas horas depois de o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ter reforçado, em entrevista coletiva, a importância do isolamento social para tentar frear o avanço da pandemia e conseguir mais tempo para que as autoridades preparem hospitais e comprem mais equipamentos.



Na coletiva, o ministro, disse que "não é hora de carreatas” e sim o momento de "ficar em casa, parado" até que o poder público "consiga colocar os equipamentos na mão dos profissionais que precisam".

Essa não é a primeira vez que Bolsonaro vai contra recomendações do seu próprio Ministério da Saúde, que vem reforçando a importância do isolamento e pedindo para que as pessoas evitem aglomerações. No dia 15 de março, o presidente foi pessoalmente cumprimentar em Brasília centenas de pessoas que tomaram parte em uma manifestação de caráter anticonstitucional para pedir o fechamento do Congresso. Bolsonaro também minimizou repetidas vezes a covid-19 como uma "gripezinha" ou "resfriadinho".

"Se a gente sair andando todo mundo de uma vez vai faltar [equipamento] para o rico, para o pobre, para o dono da empresa, para o dono do botequim, para o dono de todo mundo", disse o ministro.

Bolsonaro vem defendendo uma forma de isolamento parcial (ou vertical), que incluiria apenas idosos e pessoas com doenças crônicas, uma medida que vai na contramão das ações que vem sendo tomadas pelos países mais atingidos pelo coronavírus. O presidente chegou a afirmar friamente que "alguns vão morrer", mas que não se pode "parar uma fábrica de automóveis porque tem mortes no trânsito".

JPS/ots

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