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"Não sigam as orientações do presidente", diz Doria

30/03/2020 14h54

"Não sigam as orientações do presidente", diz Doria - Governador paulista afirma que Bolsonaro "não lidera o Brasil no combate ao coronavírus". Estado brasileiro mais atingido pela pandemia, São Paulo lança campanha para que população fique em casa.O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pediu nesta segunda-feira (30/03) que a população não siga as recomendações de Jair Bolsonaro em relação ao coronavírus. Nos últimos dias, o presidente tem pedido para que a população volte ao trabalho e defendido uma forma de quarentena parcial, isolando apenas idosos e doentes crônicos. Bolsonaro também minimizou repetidas vezes a pandemia, classificando a covid-19 como uma "gripezinha".

"Quero voltar a reafirmar: escutem e atendam as recomendações médicas. E não as informações colocadas nas redes sociais. Lamento dizer, mas, neste caso, por favor, não sigam as orientações do presidente da República do Brasil. Ele não orienta corretamente a população e lamentavelmente não lidera o Brasil no combate ao coronavírus", disse Doria, durante uma coletiva de imprensa.

O governador paulista vem sendo alvo de ataques do presidente e de redes virtuais ligadas à família Bolsonaro nos últimos dias por defender medidas mais drásticas para combater a pandemia. Em reunião com governadores do Sudeste na semana passada, os dois chegaram a bater boca.

Doria é um potencial rival de Bolsonaro nas eleições de 2022, e a redes bolsonaristas têm acusado o tucano de usar a crise para se projetar politicamente.

Alguns dos ataques incluem até mesmo o uso de fake news sobre a forma como São Paulo vem contabilizando contaminados pelo coronavírus. Na sexta-feira, o próprio presidente pôs em dúvida, sem apresentar qualquer prova, o número de casos de coronavírus no estado de São Paulo.

Dados do Ministério da Saúde indicam que o estado tem 1.451 casos confirmados da doença e 98 mortes, os maiores números entre todas as unidades da federação.

Nesta segunda-feira, Doria também anunciou o lançamento de uma campanha para instar as pessoas a ficarem em casa. "A economia a gente trabalha e recupera. A vida de quem a gente ama não dá para recuperar. Fique em casa", diz uma das peças da campanha.

Na coletiva, Doria reforçou o pedido, afirmando que "o isolamento é uma necessidade" para combater o coronavírus. "É melhor prevenir hoje do que lamentar amanhã", disse.

O governador ainda fez um apelo para que empresários de médio e grande portes não demitam funcionários em meio à crise. "Por favor, não demitam. Esta é uma crise com prazo determinado. [...] Protejam seus funcionários."

A campanha lançada por Doria contrasta com uma iniciativa lançada pelo governo Bolsonaro na semana passada e que foi rapidamente abortada. Redes do Planalto chegaram a publicar material com o slogan "O Brasil não pode parar", alinhado com as ideias do presidente sobre a pandemia. No entanto, a campanha foi barrada por ordem da Justiça. O governo apagou as publicações e depois declarou que a campanha "nunca existiu", apesar de o material ter ficado disponível por três dias.

A fala de Doria também ocorre um dia após Bolsonaro passear por vários comércios na região de Brasília, provocando aglomerações e desafiando as restrições impostas pelo governo do Distrito Federal para conter a circulação de pessoas. No domingo, o presidente ainda publicou no Twitter vídeos das visitas em suas redes sociais.

Neles, era possível ouvir comerciantes e camelôs falando que "querem trabalhar" – falas afinadas com o discurso de Bolsonaro, que vem defendendo uma "volta à normalidade" e atacando medidas amplas de isolamento impostas por governadores, apesar da pandemia de coronavírus. O material, no entanto, acabou sendo deletado pelo próprio Twitter, numa rara ação contra um chefe de Estado, por violar as regras da plataforma.

A atitude de Bolsonaro entrou em choque com falas do seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que no sábado havia pedido para que a população ficasse em casa. "Se a gente sair andando todo mundo de uma vez vai faltar [equipamento] para o rico, para o pobre, para o dono da empresa, para o dono do botequim, para o dono de todo mundo", disse o ministro na ocasião.

JPS/ots

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